Segredo Violado

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Fecho os olhos e me recordo dos melhores momentos da minha vida.

Eu estava de férias em um acampamento da faculdade quando vi sentado ao outro lado da fogueira um cara calado e muito reflexivo, ele tinha cabelos escuros e olhos azuis muito claros.

O pessoal já tinha bebido muito mais que o deveriam, e eu estava rindo das músicas idiotas que um outro cara estava tocando, tive medo do que senti quando vi Benjamin Hill pela primeira vez, porque era algo que me fazia sentir calafrios no estômago, e eu nunca sentira aquilo.

Ele me olhou, e lá estava eu com meus cabelos soltos, eu mantinha o corte "Joãozinho" naquela época, meu cabelo sempre foi Black, eu usava brincos simples e calças de malha, uma camiseta, aperto meu travesseiro ao lembrar a forma como fui ingênua em acreditar que um rapaz como aqueles poderia me querer.

Benjamin sorriu para mim e eu sorri de volta e apertei o play para a semana mais maravilhosamente romântica que tive na vida, nós dois não desgrudamos um do outro.

Eu acordava todos os dias as seis e nos encontrávamos na barraca dele, no segundo dia de acampamento ele me beijou e no terceiro dia eu já estava dormindo com ele, em nossa quarta noite, eu e Benjamim fomos para longe das barracas e fizemos sexo pela primeira vez.

Ele disse que eu era linda, que gostava de mim e que ficaríamos juntos mesmo que dali a alguns dias cada um fosse para sua respectiva cidade ou casa, eu verdadeiramente acreditei em suas palavras, mas tudo o que me restou em meu último dia de acampamento foi um bilhete que dizia tecnicamente que ele gostou das férias e de ter ficado comigo, e ponto.

Algumas semanas depois as consequências das minhas irresponsabilidades estavam dando sinais claros de que Benjamin Hill não seria apenas um grande imbecil que me enganou, mas que seria, para sempre ligado a mim.

Reencontra-lo ontem foi uma das piores coisas das quais eu poderia me submeter, acabei ficando por aqui mesmo e dormi na casa de mamãe, ela me perguntou se eu estava bem e lhe contei sobre o acontecido na empresa mas não sobre ele, disse que estava com dor de cabeça mas só queria ficar sozinha.

Ly ficou com mamãe e me recolhi, ainda tenho meu quarto aqui, Ly e eu dormimos sempre que queremos, tomei banho e deixei que as lágrimas que embargavam meu coração saíssem para fora, sentia-me tão... fraca.

Eu só queria poder esquecê-lo, apagar ele da minha vida e prosseguir, mas a prova de que isso não aconteceu foi a Ly, porque olhar para ela as vezes é como ver seu pai, aquele idiota egoísta.

Formei minhas teses sobre Benjamin Hill esses anos e cheguei a conclusão de que tudo o que fui nas suas mãos naquela época foi um brinquedo, mais uma, e isso me machucou profundamente.

Meus pais não me criaram para gostar de um cara branco, por mais racista que isso pareça eu não entendia até conhecer Benjamin, não é por conta da cor mas por causa dos problemas que isso gera em qualquer relacionamento.

Por fim cheguei a conclusão de que na verdade ele jamais assumiria nada comigo porque eu era gordinha e negra, um homem como ele jamais admitiria publicamente que gosta de uma garota como eu.

—filha—mamãe chama e bate três vezes na porta—o café está pronto.

—tá.

Minha voz se arrasta pelo quarto, estou deprimida, o que posso fazer? Tudo isso mexeu muito comigo, mesmo que eu não queira.

Saio da cama, troco meu pijama por um short jeans qualquer e um camisão do meu pai, penteio meus cabelos e os prendo num coque, escovo os dentes, obviamente que aprendi a lidar com a juba com o tempo, hoje meu cabelo é cacheado mas vive na prancha, só uso cacheado em casa, acho mais prático.

—Maanáaaaa...

Ai mãe como você é chata as vezes.

Acho que papai já foi levar a Ly na escola, vou passar em casa para buscar meus documentos e vou na empresa dar baixa na minha demissão.

Desço fechando os botões do camisão, mas logo que entro na sala solto um grito alto com o susto, tento fechar a todo custo a camisa, mamãe vem correndo da cozinha, ela usa avental e bobs na cabeça.

—o que foi menina?—mamãe pergunta apavorada.

—quem deixou ele entrar?—pergunto apavorada.

Benjamin Hill está sentado no sofá da sala dos meus pais.

—eu ora—mamãe responde—ele não é o seu chefe?

Fecho a cara, a vontade que tenho é de avançar nele, Benjamin segura uma xícara daquelas que mamãe só dá para as visitas, usa jeans e uma camisa polo escura, tênis, mamãe dá de ombros e volta para cozinha reclamando, dou as costas para ele e abotoo minha camisa toda nervosa, minhas mãos tremem.

—sabe o mais engraçado nisso tudo? Eu me lembrei que você não tinha uma filha quando nos conhecemos—escuto ele falar, e um frio estranho percorre a minha espinha—e conversando melhor com a sua mãe pude concluir que a sua filha tem aproximadamente a mesma idade que uma criança concebida depois de nove meses depois que você dormiu comigo no acampamento.

Fico dura onde estou.

—eu também soube que você não é casada e sua mãe também disse que a sua filha não conhece o pai, isso não é uma grande coincidência?

Tremo.

—você não vai falar nada?—Benjamin indaga e sua voz está a beira de um ataque de fúria.

Me viro para ele, eu o fito, e ele está furioso.

—existiam muitos caras brancos naquele acampamento...

—como eu fui idiota pra não perceber?—questiona me interrompendo—a menina estava diante de mim ontem e ainda sim não percebi, porque será?

—ela não é...

—não ouse mentir para mim—ordena ele num tom muito seco e me calo—você era virgem!

Me sinto humilhada com a situação.

—vai negar que ela é minha filha? Você nem teve a decência de me avisar!—acho que ele quer quebrar algo, ele levanta e passa as mãos no rosto—você não sabe o quanto eu estou te odiando agora.

—ah que legal!—berro e Benjamin me encara espantado—afinal de contas, você é um santo nisso tudo certo? Deixou um bilhete anotado num papel toalha me deixando seu endereço e telefone certo?

Agora ele fica em silêncio.

—muito obrigada por responder senhor Hill, e muito antes que me julgue mal, a única pessoa mal caráter aqui é você que se aproveitou de mim e "vazou".

—va... o que?—franze a testa.

—sumiu—grito e ele se assusta—não me venha com essa, você é tão irresponsável e mesquinho!

—eu tinha o direito!

—direito de que? E sair iludindo meio mundo e engravidando todas as garotas do acampamento e desaparecer?

—ele é minha filha? Só me responde!

Sei que não posso mentir, agora estou sem saída, só me resta a verdade.

—infelizmente.




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Big Love -  Amor Imenso - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora