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Ele levantou as sobrancelhas demonstrando surpresa.

— Espera até a gente chegar em casa, pequena. É na próxima rua.— Ele respondeu e eu assenti.— Ah, antes de chegarmos, eu queria te pedir uma coisa.

— Diga.

— Apesar do que pode parecer, bruxaria não é necessariamente ruim, mas nós dois não teremos contato direto com a parte positiva da magia. Você pode abrir a sua mente para isso?— Ele disse enquanto colocava o braço em meus ombros novamente.

— Sem problemas.— Respondi.— Eu só quero entender.— Dei de ombros e ele sorriu.

Àquele ponto, eu já sentia uma certa conexão com Andrew, não saberia dizer por quê. Ele me passava um ar de segurança e, aparentemente, era recíproco. Mas bem, eu não poderia estar me apaixonando por ele, claro que não! Não é possível se apaixonar por alguém em menos de dois dias. Amor à primeira vista só existe nos filmes. Se bem que um triângulo brotar na sua pele do nada também é coisa de filme... Não. Absolutamente não. Andy era só um cara legal, certo? Certo. Eu gostava dele. Ele me passava uma energia boa e tivemos um bom laço rapidamente, mas não chegaria nem a pensar em algo além de amizade. Seria loucura... Loucura.

Andamos em silêncio durante alguns minutos. Acho que Andrew percebeu que eu estava um pouco pensativa.

— Cordelia Finley, certo?

— Sim. E você é Andrew...?

— Scrivener.

— Andrew Scrivener. Gosto do seu nome.

— Obrigado. Também gosto do seu, Cordelia Finley.

— Obrigada.

— Mas então, quem é Cordelia Finley?

— Sou eu.

— Não. "Eu" é uma resposta vaga demais. Me explique quem é Cordelia Finley.

— Cordelia Finley é uma garota que odeia pessoas no geral e as ama no individual. Quem é Andrew Scrivener?— O perguntei ao pararmos na porta da frente da casa dele. Não tão grande, mas, se o interior fosse como eu imaginei, muito aconchegante.

— Andrew Scrivener é um garoto que achou sua missão no mundo. Ele também achou a missão de Cordelia Finley. Será que ele poderia explicá-la que missão é essa?— Ele perguntou, tirando chaves do bolso.

— Suponho que Cordelia Finley adoraria.— Respondi enquanto o garoto abria a porta e a segurava para mim.

— Bem-vinda, pequena. Sinta-se em casa.— Andy sorriu.— Você pode me esperar na sala enquanto eu pego as coisas? É bem ali.— Ele disse, apontando para uma sala simples, com um sofá, uma poltrona, uma lareira e duas estantes de livros.

— Sem problemas.— Respondi, indo em direção à pequena poltrona.

— Obrigado. Ah, não pise no tapete com sapatos, por favor.— O rapaz pediu enquanto desaparecia no corredor escuro, que eu imaginei que levava para os quartos.

Tirei minha mochila das costas, a coloquei ao lado do sofá e olhei em volta. Havia livros por todas as partes. A casa era realmente muito aconchegante. Não havia vazio algum nas paredes, pois onde não era ocupado por estantes, era preenchido por pinturas. Pinturas muito bonitas, à propósito. Acho que a tia de Andy tinha um bom gosto para arte. Me sentei na poltrona e tirei as sapatilhas dos meus pés, ficando com as meias. Me permiti sentir a textura do tapete. Era macio. Me aproximei da estante que ficava ao lado da lareira para observar os livros. Alguns títulos estavam em uma língua diferente. Parecia alemão. Notei que havia uma caixa na prateleira mais próxima do chão. A puxei para olhar o que estava em seu interior e me deparei com fotos e alguns porta-retratos. Peguei a primeira fotografia da pilha. Era uma mulher magra e pálida, vestindo um vestido longo de verão, sorrindo em frente a uma sorveteria. Seus cabelos pretos batiam em sua cintura, e ela segurava a mão de um menino de aproximadamente 6 anos de idade, com a pele tão clara e os cabelos tão negros quanto os dela. Será que aquele garoto era quem eu estava pensando?

— A curiosidade matou o hamster, pequena.— Andy riu, chegando na sala com um livro, as garrafas, e os petiscos empilhados atrapalhadamente em seus braços. Me virei para olhar para ele. Acho que corei.

— Perdão, Andy. Minha curiosidade falou mais alto que meus modos.—Disse enquanto me virava para retornar a caixa ao lugar certo. O garoto deixou tudo o que estava carregando no meio do tapete e se aproximou de mim.

— Não, não tem problema. São fotos que eu trouxe do Arizona. Minha tia não queria deixar o rosto da minha mãe pelas prateleiras, então ela pediu para eu manter minhas recordações dentro dessa caixa. Qual foto você estava vendo?— Ele perguntou, puxando a caixa para o centro do tapete e sentando em frente dela. Peguei o retrato da mulher e do menino na sorveteria e o entreguei.— Ah, essa é de quando eu e minha mãe viemos visitar a Califórnia pela primeira vez após o meu nascimento. Foi minha tia que tirou essa foto. Acho que eu tinha acabado de fazer sete anos.

— Nossa... Sua mãe era muito bonita! Como ela se chamava?

— Guinevere. Bonito, não?

— Muito... Será que eu estaria sendo muito intrometida se eu perguntasse o que houve com ela?

— Claro que não, Delia! Bem, meu pai tinha alguns... problemas, vamos dizer, com drogas. Quando eu tinha 14 anos, ele se envolveu com uma gangue de traficantes, e acabou tendo uma dívida que não conseguia pagar, por isso os entregou para a polícia para conseguir uma recompensa. Mas ele acabou sendo preso também. Ele me disse que valeu à pena. Ele não queria que eu e minha mãe ficássemos em perigo. Acabou que ele pegou uma doença enquanto estava na prisão, e em um dia que ele estava muito fraco, os membros da gangue o espancaram e ele acabou não resistindo. Quando o líder da gangue foi liberado, ele quis vingança contra minha família, então, ele contratou um assassino, e eu acho que o resto você já pode deduzir. Vim morar com minha tia logo depois.

— Sinto muito por isso, Andrew. Eu não esperava que fosse algo tão forte. Você é um guerreiro, como conseguiu se recuperar tão rápido?

— Rápido?

— Sim, não foi? Você se mudou para cá faz duas semanas, certo?

— Não, pequena. Eu entrei na escola faz duas semanas. Minha mãe morreu há mais de um ano e meio. Fiquei esse tempo todo sem ir para o colégio. Eu entrei em depressão profunda, mal conseguia sair da cama. Minha tia tentou me fazer estudar em casa, mas eu não tinha motivação alguma. Não me concentrava, não absorvia informação, absolutamente nada. Eu estava no ponto de querer dormir o tempo todo para não ter que sentir o vazio que eu sentia enquanto eu estava acordado. Era o inferno. Mas eu estou muito melhor. Principalmente agora que eu encontrei você.— Ele sorriu e colocou a foto de volta na caixa, a empurrando para a estante.

— Fico muito feliz em saber disso, Andy. Sério mesmo.— Sorri de volta e o esperei, sentada no tapete. Ele voltou e se sentou ao meu lado.

— Obrigado. Mas enfim, chega de histórias tristes, podemos começar a reconstruir nosso destino?— Ele sorriu enquanto abria o livro que estava em nossa frente. Sorri de volta, levantando as sobrancelhas.

— Me parece um tanto interessante. Acho que vou aceitar dessa vez.— Parei para pensar por um segundo.— Espera, quando você chegou na sala você disse que a curiosidade matou o...?

— Hamster. Gatos são clichês e hamsters são pequenos e fofos, como você.— Ele sorriu e abriu em uma página que dizia em letras grandes "Almas Gêmeas e o Caos".

Δ do you feel like a young god? Δ

Δ storms ΔOnde histórias criam vida. Descubra agora