Calmo e anormalmente averso a realidade de que seu despertador já havia tentado contra seu sono á vinte minutos atrás, Dylan lentamente ergue a cabeça do travesseiro com sua costumeira calma cansada.
Alguns meses atrás tais circunstâncias lhe causariam algum desconforto mental visto que esses eram os vinte minutos aos quais dedicava ao seu precioso e freneticamente corrido café da manhã. Mas Dylan embora incomodado com as dores no corpo, as mesma que sentia todas as manhãs ao se levantar sentia-se feliz e esboçava um sorriso solitário e sereno, mas tal expressão sincera permaneceria ocultada pela escuridão de seu quarto, afinal, acender a luz agora seria obrigar-se a se frustrar com o desleixo com que involuntariamente tratava os pertences da esposa o que acabaria estragando seu contentamento, ele havia sonhado com Lysa durante a noite.
Sabia que em algum distante momento precisaria abrir as janelas e dedicar algum tempo, e quem sabe algumas dores nas costas, para a limpeza do cômodo, ideia a qual o perturbava, pois, até mesmo um mísero inseto voando e zumbindo pelo ambiente o perturbava parecendo trazer uma desordem profanadora ao quarto que lhe fazia lembrar tanto de Lysa, seu santuário, dane-se enquanto seus pés não afundassem na sujeira do chão não mexeria em nada.
Zonzo ergueu-se da cama e caminhou para fora do quarto, seus pés esbarram em objetos que não fazia a mínima idéia do que eram e também não fazia diferença saber, abre a porta só o suficiente para que sua barriga avantajada possa passar, até mesmo da luz sentia ciúmes, o corpo ainda quente de Dylan se choca com o frescor arejado do resto da casa e o deixa descontente, não queria abandonar o ar mofado do quarto o que atipicamente lhe era tão reconfortante.
Suas roupas espalhavam-se por toda casa, vestiu pesarosamente uma muda delas que havia deixado dobradas sobre o sofá na noite passada, após alguns minutos acordado Dylan já esta totalmente alerta e pronto para encarar um dia miserável.
Com o estômago roncando caminha apressadamente para seu carro com a certeza de que se Lysa estivesse lá jogaria para ele da sacada uma maça, pensou nisso e sorriu, cogitou voltar e pegar uma fruta para aliviar a fome, mas era tarde, já estava dentro do carro e, aliás, não havia frutas na fruteira, pelo menos, nenhuma que ja não estivesse podre.
O trajeto de quarenta minutos até seu emprego era a parte mais estressante do seu dia, ainda mais quanto se tem idéia do que o espera, um chefe irado sedento por punir seus quinze minutos de atraso, mas Dylan já havia decidido que nada drenaria sua paz, afinal, havia sido a terceira vez na semana em que sonhara com a esposa.
Seu celular toca e quebra seu estado letárgico:
- Alô, Dylan Foster por favor - disse a voz masculina que soava competência do outro lado da linha.
- É ele mesmo quem fala, diga!
- Senhor Foster aqui quem fala é Morgan, intendente do departamento de investigação de desaparecimentos.
- Ah! Sim, alguma pista sobre minha esposa senhor?
- Não, lamentamos. Na verdade, estou ligando para comunicar o encerramento das investigações a cerca do desaparecimento da sua esposa. E uma pena Dylan, mas a falta de provas não nos deixa opções - disse o intendente quase que revelando sua ardilosidade.
- É realmente uma pena, de qualquer modo, agradeço todo o esforço. Tenha um bom dia! - desligou o celular. Sua voz havia soado uma falsa simpatia aos ouvidos.
Dylan reflete se deveria ou não entristecer-se com a noticia. Decidiu que não, no fim das contas sabia que Lysa estava morta, sentia o fato com pesar e desconforto, os dois sempre foram muito ligados emocionalmente e ele saberia se ela ainda estivesse viva, aceitava a realidade, Dylan nunca foi de mentir para si mesmo.
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Os Vestígios de Lysa
Short StoryO amor e a saudades seriam capazes de trazer ao ser humano uma loucura macabra?