Capítulo Um

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"Querido Diário, eu sei que há algum tempo não lhe escrevo, sinto muito, não foi por mal. Por toda as férias de verão eu fico um pouco depravada imaginando, sem parar, como será quando as aulas começarem novamente.
Infelizmente, minha única amiga é a Alison. Sou, na maior parte do tempo, sua sombra e isso, com certeza, não é nada agradável."

Fechei o diário, me levantei e fitei o relógio sobre a escrivaninha, 7:12 A.M.

Fui até o banheiro e fiz as higienes matinais. Assim que desci as escadas, senti um cheiro maravilhoso vindo da cozinha, estava faminta.

Na cozinha, vi que minha mãe preparava alguns wafers.

– Bom dia, querida. Animada com o primeiro dia de aula? – perguntou, sorrindo.

– Claro! –respondi, sequestrando alguns wafers – Vou me arrumar, Alison vem me buscar daqui a pouco. A senhora sabe como ela fica irritada quando precisa me esperar.

Saí da cozinha às pressas, esquivo-me de conversar com ela sobre a Alison, porque querendo ou não ela sempre sabe quando estou mentindo.

Coloquei uma camiseta de manga comprida azul marinho e uma calça preta. Escovei o cabelo, deixando-o, em sua maioria, liso.

Enquanto me olhava no espelho da penteadeira, percebi que não havia nada em mim para se admirar. Olhos verde opaco, cabelos longos de um tom loiro avermelhado, nariz arrebitado, lábio inferior um pouco maior que o superior, leves sardas nas regiões do nariz e bochechas. Poderia ser denominada, sem graça, por todos (exceto minha mãe).

Alison, entretanto, tem uma pele de porcelana, olhos azul do céu, cabelos loiro vivo e brilhante, lábios grossos (sempre hidratados com seu gloss de morango), e um corpo escultural.

Nossa amizade sempre foi um tanto quanto, confusa. Na quinta série, nós estávamos escrevendo um poema na aula de português quando ela me pediu uma borracha, nos tornamos amigas desde então.
Sendo sensata, o termo "amigas" não se encaixa muito bem nessa ocasião, pois sombra é eufemismo para o que eu sou de Alison. Minha vida social é levada às custas dela, e eu pareço me importar menos do que realmente me importo. Talvez a timidez contribua em muitos fatores, sinceramente eu odeio me sentir tão aprisionada. Esperava que com o final do colegial eu fosse para a faculdade e...

AAAAAAI AMIGA – Alison entra gritando e me tira dos devaneios – O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO PARADA AÍ? VAMOS LOGO!!!

Revirei os olhos, peguei minha bolsa e meu casaco e desci em direção a porta de entrada.

Tchau, mãe! Até mais tarde – saí dizendo e fechando a porta atrás de mim, eu amo minha mãe porém tento evitar uma conversa de mais de cinco minutos com ela, pois a psicóloga a domina e toda conversa é levada à ela constatando que sou anti-social e ansiosa.

Alison e eu entramos no carro, ela mal girou a chave na ignição e a Katy Perry já tocava no rádio, irritantemente. Dei graças aos átomos que a escola era apenas a alguns minutos da minha casa.

E aí, Em. Animada pra sexta?

— O que tem sexta? – perguntei, confusa.

Ah, não se faça de desentendida. Você sabe muito bemrespondeu, mostrando a língua.

– Eu realmente não sei – dei de ombros.

Magicae NigraeOnde histórias criam vida. Descubra agora