O som de passos, conversas paralelas e cadeiras sendo arrastadas ia gradualmente diminuindo. O único ruído audível era aquele causado pelo contato do giz com quadro. E naquele ambiente estranhamente familiar mais uma aula tinha início. O professor rapidamente terminou de escrever o sumário e virou-se para a turma com um olhar impaciente:
-Vamos lá, despachem isso.
O percurso normal da história seria passar a descrição detalhada de como o nosso habitual protagonista e a sua adorável companheira de mesa estão prestes a dormir mesmo que a aula tenha acabado de começar. Mas não hoje. Hoje iremos falar sobre outra pessoa. Uma pessoa que também possui problemas de concentração, mas por motivos diferentes:
-Essa aula vai ser diferente...nesta aula, eu vou me concentrar... -Pensava Daniel repetitivamente.
Daniel copiou o sumário rapidamente e esperou o professor prosseguir com a aula:
-Já está? -Perguntou Amaral ainda mais impaciente.
Interpretando o silêncio da turma e da ausência de movimentos em suas mãos como uma resposta afirmativa, ele deu início a aula. A voz de Amaral era como música para os ouvidos de Rafael:
-Como é possível um homem ter uma voz tão agradável e suave? -Perguntava ele a si mesmo.
Antes mesmo que tivesse percebido, Rafael tinha sua cabeça apoiada em suas mãos enquanto olhava atentamente para Amaral como uma rapariga perdida na primavera da paixão. Aquele tempo era especial para Rafael, aqueles eram os únicos momentos de sua vida onde ele podia ser quem realmente era.
De um momento para o outro, o olhar do rapaz apaixonado e do professor de matemática encontraram-se. Rafael corou imediatamente e mesmo que quisesse continuar observando a beleza dos olhos de seu mentor, a vergonha impediu-o. Não que o professor tivesse olhado intencionalmente na direção de Rafael, ele apenas estava observando as expressões da turma na tentativa de encontrar alguém com dúvidas:
-Certo? -Perguntou ele após terminar sua explicação.
Rafael estava preso num ciclo vicioso, seu cérebro o forçava a não prestar atenção nas aulas porque assim ele teria uma desculpa para pedir ajuda ao professor. E mesmo que hoje ele tivesse se esforçado para não deixar isso acontecer, ele havia fracassado. Era impossível para ele não se perder na beleza de seu professor. Ele levantou a mão:
-Sim, Rafael? -Perguntou Amaral.
-Stor...poderia vir aqui, eu tenho uma dúvida. -Pediu Rafael envergonhado.
-Ó Rafael, o que foi agora? É realmente preciso eu ir aí?
Rafael desviou o olhar enquanto corava novamente:
-É...sim, stor... -Disse ele com algumas dificuldades.
Amaral suspirou, mas acabou por ceder. Enquanto ele caminhava com alguma pressa até a mesa de Rafael, o coração daquele pobre rapaz quase saltava-lhe pelo peito a fora. Os rápidos passos de Amaral duraram uma eternidade dentro da cabeça confusa de Rafael e conforme aquele homem muito bem conservado aproximava-se, ele ficava apenas ainda mais confuso:
-Eu chamei-o para vir aqui...mas eu não estou acreditando que ele está realmente vindo, o que eu faço? O que eu deveria fazer?
Antes que uma resposta surgisse em sua cabeça, Amaral apoiou uma de suas mãos na mesa. Rafael sequer teve tempo de entrar em pânico:
-Mas então, qual era a tua dúvida?
Rafael não conseguia concentrar-se por mais que tentasse. Aquele homem esbelto e robusto estava a apenas alguns centímetros de distância, tudo o que preenchia sua mente era o cheiro masculino de Amaral. Ele respondeu com a mais simples, e única, dúvida que conseguiu imaginar:
-Stor...porque aquele cosseno é negativo? -Disse Rafael evitando contato visual.
Amaral estendeu seu braço numa tentativa de pegar o lápis de Rafael, algo que um docente nesse tipo de ocasião faria normalmente. Porém, essa não era uma situação normal. Rafael apercebendo-se da intenção de Amaral viu-se diante uma cruel decisão: Agarrar a mão de Amaral e ceder ao pecado assim como Adão agarrou o fruto proibido ou controlar seus instintos primitivos.
Rafael entregou o lápis ao seu tutor tentando aproveitar o máximo que podia do contato físico. Amaral acabou por não se importar muito e apenas tentou sanar as dúvidas de Rafael:
-Eu realmente não consigo pensar em outra maneira de explicar isto, espero que tenhas entendido.
-Obrigado...stor...
Amaral voltou ao quadro e prosseguiu a aula enquanto Rafael observava-o com os seus pequenos olhos brilhantes. O tempo voou e aquela aula rapidamente chegou ao seu fim. Enquanto todos levantam-se e dirigiam-se à saída, Rafael havia decidido que hoje faria um movimento crucial, ele não era capaz de manter todos estes sentimentos dentro de si por muito mais tempo.
Quando a sala já estava vazia, ele terminou de arrumar seus materiais em sua mala e levantou-se. Amaral observando aquele rapaz imóvel a sua frente perguntou:
-Vamos, Rafael, tenho certeza que queres aproveitar o intervalo.
Rafael começou a mover-se, mas não na direção da saída. Amaral pensou que talvez ele tivesse outra dúvida, mas foi surpreendido. Rafael abraçou-o subitamente:
-Eu quero aproveitar o intervalo contigo...stor...
Amaral ficou extremamente confuso com toda aquela situação. Rafael era certamente um rapaz belo e sedutor, mas ele não podia ceder, caso contrário, ele não seria capaz de encarar sua esposa quando chegasse a casa:
-Stor! -Exclamou Rafael juntando todas as suas forças. -Eu amo-te!
Amaral afastou Rafael lentamente enquanto seus olhares encontravam-se:
-Desculpe...Rafael, mas eu sou um homem casado...eu não posso corresponder os teus sentimentos...
Rafael virou o seu rosto rapidamente. Lágrimas escorreram pelas suas bochechas enquanto ele tentava fingir que não estava chorando. Ele agarrou com força em sua mala:
-Que estúpido eu sou...achar que alguém tão bondoso como o stor...iria querer ficar com um aluno ordinário como eu...
Ele limpou suas lágrimas e correu para fora da sala, neste momento, a mente de Amaral enchia-se de pensamentos:
-Será que está foi a decisão correta? Eu também...amo-o...mas o nosso amor é algo proibido...algo que nunca resultaria...
Continua?
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Pestanamaral
RomanceUm ordinário estudante descobre-se apaixonado pelo seu professor de matemática, com sua mente repleta de sentimentos confusos, ele tenta viver sua vida normalmente e não se distrair nas aulas de matemática. Notas: -ISSO É UMA SÁTIRA!!! -Eu vou exp...