Quatorze de junho de dois mil e dois
Araguaína, Tocantins.
"Ana, vem cá! Vem conhecer uma pessoa!" dona Monica gritava pela sua filha naquela tarde quente do Tocantins.
A pequena Ana Clara, a um tanto contragosto, saiu da sua pequena cabana improvisada – ou seu castelo – em seu quarto e desceu as escadas pacientemente. Sua pequena mente de criança levada deduzira que sua mãe estava na cozinha, e ao chegar no cômodo, a encontrara ao lado de uma mulher.
Ana a conhecia! Claro que conhecia. Era conhecida de sua mãe e sempre que dona Monica a levava no parquinho, lá estava ela. Mas ela nunca estava sozinha, por que sua mãe a chamara para falar somente com aquela mulher?
"Filha, essa é a Vitória. Ela é filha da dona Isabel e vai passar a tarde aqui com a gente."
Ah, é isso! A filha dela!
Os olhares da pequena Ana penderam ao lado de sua mãe. Ali, uma garotinha branca, mais branca, tanto quanto um floco de neve, a olhava com atenção. A menina logo tratou de abrir um sorrisão exibindo seus dentes – ou, pelo menos, alguns deles, já que estavam insistindo em cair.
"Oi! Posso brincar com você?"
A pequena a observou. Olhou para a mãe, para a dona Isabel, e então, para aquela menina que mais parecia um filhote de leão com todo aquele cabelo.
"Você gosta de cabanas?"
Um de setembro de dois mil e cinco
Araguaína, Tocantins.
"Caio, me devolve!" a pequena Ana gritava para o garoto franzino enquanto corria. O menino havia acabado de pegar sua boneca favorita e estava ameaçando-a atirar no lago. "Vi, me ajuda!"
Era sempre assim.
Ana e Vitória eram inseparáveis. Toda a cidade conhecia o quanto aquelas duas eram inseparáveis. "Tico e teco, caju e castanha. Vão se separar é nunca, e se separar, um desastre natural acontece!", dizia Seu Firmino, dono da mercearia que fica lá na Alameda das Andorinhas.
"Para com isso Caio! Tu é abestalhado?!" disse Vitória ao sair em disparada atrás do garoto.
Aqui, Ana sorria.
Tinha Vitória consigo e não havia nada que precisasse sentir medo.
Vinte e cinco de agosto de dois mil e oito
Araguaína, Tocantins.
"Vi, por favor! Vai ser legal!" a pequena Ana, agora no auge dos seus quatorze anos de idade, implorava de joelhos á loira para a mesma ir a festa do Paulinho, menino popular do colégio Santa Cruz onde estudavam e que morava na rua de baixo.
"Você só quer ir por que o Caio vai." A cacheada debateu, sem paciência. Ela não sabia o por que de ficar tão ranzinza quando o assunto era Ana-Garotos, mas nunca resolvera descobrir por ser o tipo de assunto que a deixava nervosa.
"Também, né, Vi?" a morena solta uma risadinha. "você sabe que eu sou caidinha por ele..."
"Eu e a torcida todinha do Flamengo, junto com o Toca inteiro!" Bufa, "se tu quer tanto ir, vai."
"Mas eu quero ir com tu, Vi..." choraminga e a loira a fita, temendo por amolecer. "por favor, por favor! Eu juro, juradinho, que faço o que tu quiser. É importante pra mim..."
"Só por sua causa, Ana Clara. Só por sua causa."
Oito de novembro de dois mil e dez;
Araguaína, Tocantins.
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Quanto Tempo o Tempo Tem?
FanfictionSe a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito. Ana é o concreto. Vitória é o infinito. O destino é a curva. O que poderia ser mais peculiar do que o reencontro de duas almas?