Já era tarde da noite, e sabíamos que nossos pais iriam simplesmente nos matar por não cumprir o nosso horário, mas não estávamos ligando para isso. Apenas éramos nós três andando por aquelas ruas escuras e, pela hora, perigosas para meninas de quatorze anos.

Ao chegarmos na frente da casa de Jéssica, ela correu rapidamente até a porta e se despediu com um leve aceno. Eu achei bem estranho ela não dizer nada, mas acho que ela sabia que se demorasse mais um segundo seus pais ficariam furiosos. Naquela hora já não tinha nenhum ônibus para fora da cidade, então teríamos que ir andando, o que demoraria quase uma hora. Andar era a nossa única opção. Para quebrar o silêncio frustrante, sugeri à Gabriela:

- Que tal amanhã a gente ir dar uma volta pelo campo?

Ela olhou para mim e assentiu com a cabeça. Parecia estar cansada, então era melhor optar em não dar continuidade ao diálogo.

Andamos por um bom tempo até chegarmos a um lugar deserto, com casas distantes umas das outras.

Eu estava passando um tempo na casa da Gabriela. Ela estava muito deprimida pela perda da mãe, então decidi que seria bom passar o verão com ela e o seu pai; que foi de acordo. Além disso também tinha Jéssica, que Gabriela não gostava muito mas, mesmo assim passávamos os dias juntas, apenas nós três. Eu gostava bastante da Jéssica, mesmo ela sendo um pouco chata em alguns aspectos. No entanto, lá no fundo existia um "coraçãozinho de melão".

Já estávamos perto da casa dela, e já dava pra ver a plantação de trigo e de milho do vizinho, o senhor Franz Balzer. A única vez que eu interagi com ele, foi em uma breve conversa que eu tive com ele e Jéssica. Ele disse que gostava de flores e pensava em fazer um jardim ou algo parecido mas, eu não estava prestando muita atenção na conversa. Quem realmente estava conversando com ele era a Jéssica, e acho que ela aproveitou aquele momento para falar um pouco sobre jardinagem com ele. Ela ajudava o pai em uma floricultura, e ela sabia de certas coisas a respeito. Deu dicas de como cuidar das plantas, preparar a terra e outras coisas (eu realmente não prestei atenção).

E, pode ter sido impressão minha mas, ele estava mostrando um interessemuito grande em tudo que ela falava. Achei meio estranho aquilo só que acabei por esquecer. A Gabriela diz que acha ele muito misterioso e estranho. Besteira.

Quando finalmente chegamos, a porta não estava trancada. O pai dela saira, e deixara um bilhete grudado na porta da geladeira dizendo que tinha de resolver algo no escritório de seu trabalho, e que voltaria muito tarde.

- Escapamos de uma bronca! -disse Gabriela, empolgada.

Rimos por alguns instantes e subimos para o sótão, que na verdade era o quarto da Gabriela. Não era um ambiente escuro e empoeirado como sótãos costumam a ser, muito pelo contrário, era bem arrumadinho. Pra mim, aquele era o espaço mais "zen" da casa...

Eu tomei banho primeiro, eu estava um bagaço. Passamos o dia inteiro tentando desenhar o gato da Jéssica, mas ele não parava quieto nem por um segundo. Ficamos correndo atrás dele pela casa toda e foi bem cansativo. Quando terminei, foi a vez de Gabriela. Ela demorou mais de trezentos anos no chuveiro, e assim que ela saiu, se jogou na cama e soltou um longo suspiro.E Dormiu. Sem nem dizer "Boa noite." pra mim. E além disso ela começou a soltar aquele ronco horrível. Deitei em meu colchão que ficava ao lado de sua cama e usei meu travesseiro como tampão para aqueles sons de porco morrendo.

Eu fiquei pensando por um tempo sobre minha vida e algumas outras coisas, antes de ser interrompida pela cachorrinha da Gabriela lambendo meu rosto. Ela é uma chihuahua muito fofa mas, eletrica demais! Tentei expulsá-la do meu colchão sem ter sucesso, então a deixei deitada comigo mesmo.

Depois de um certo tempo adormeci. E tive um sonho.

Foi super estranho. Jéssica estava presente. Um clima estranho pairava no ar. Sem expressão, ela se virou e começou a se afastar me deixando pra trás, indo embora. Tudo ficou preto. Foi horrível. Acordei atordoada e assustada. Depois de me acalmar olhei o meu celular, e eram 5:30 da manhã.

A luz da janela iluminava levemente o quarto, e a Gabi já havia parado de roncar. Tudo estava bem tranquilo. Ouvi um barulho vindo de fora e me aproximei da janela. Era o pai da Gabriela tentando abrir a porta do carro que estava travada,chutando o carro e falando um monte de palavrões. Posso dizer que foi bem engraçado.

Quando voltei a me deitar peguei meu celular, e comecei a conversar com a Jéssica por mensagem. Mesmo achando estranho ela estar acordada tão cedo, não perguntei nada e continuamos conversando por horas até a Gabriela acordar (O que não aconteceria tão cedo).

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⏰ Última atualização: Feb 13, 2021 ⏰

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