Carlos Eduardo - A avó de Bruna deve ter sido uma pessoa formidável

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A avó de Bruna deve ter sido uma pessoa formidável. A quadra da escola estadual estava lotada de pessoas. As lágrimas e as palavras de saudade eram o maior testemunho disso. Cada um que vinha cumprimentar a família tinha uma história para relembrar, uma atitude de gentileza, um ato de pura caridade ou ainda uma das muitas brincadeiras que Dona Adelina fizera ao longo da vida.

Lamentei demais por não tê-la conhecido em outras condições, mais ativa, conversando. A mulher que fora o maior exemplo para a Bruna, aquela que provavelmente a ensinou a ser quem é. Eu sentia muito carinho por essa avó por tudo que ela representara. Lágrimas também caíram dos meus olhos. Aquele velório lotado me comovia por vários motivos, pois se morrer é a única certeza que temos, que a passagem seja assim, marcada por bons momentos e cheia de amigos queridos. Além disso, não pude deixar de sentir uma pontinha de orgulho pela grandeza de Dona Adelina.

─ Você é um bom rapaz! – Dona Liduína se aproximou e tocou meu braço. Bruna e sua mãe estavam mais a frente recebendo as condolências de dezenas de pessoas. Estávamos sozinhos. – Reconheço que não tive uma boa primeira impressão, mas me enganei. Você foi um verdadeiro cavalheiro hoje, rapaz. Peço desculpas pela falta de gentileza quando nos conhecemos.

─ Dona Liduína, não precisa se desculpar. Entendo completamente sua desconfiança. – Sorri. – Eu não estava nos meus melhores dias também, meu carro tinha sido roubado, eu e Bruna escapáramos de um tiroteio, devo ter parecido um filhinho de papai mimado...

─ Carlos Eduardo, meu preconceito tem muito pouco a ver com a sua origem, apesar de já ter entendido que a sua família tem dinheiro. O problema é ela. – Apontou para Bruna. – Ela tem um dedinho podre, se é que você me entende. Desde sempre. – Balançou a cabeça. – Nunca deu sorte. Não nesse ramo.

─ Eu e a Bruna não somos namorados... – Eu me apressei em esclarecer. Dona Liduína arqueou as sobrancelhas desconfiada.

─ Mas você gosta dela?

─ Como amigo... – Gaguejei e ela sorriu.

─ Que seja! Já é alguma coisa. – Novamente passou a mão pelo meu braço, um carinho meio cúmplice, como se estivéssemos partilhando segredos. – Só espero que você continue a cuidar dessa moça. Ela tem o coração mais puro que conheci. E como é sofrida esta minha menina. A começar por essa mãe... – Suas feições se contraíram de descontentamento.

─ Mas a senhora foi amiga dela... – Aproveitei a oportunidade para satisfazer a minha curiosidade a esse respeito, por qual motivo todos viraram o rosto para a mãe de Bruna? – O que aconteceu?

─ Ah, garoto, isso não é flor que se cheire! Nunca foi. Mas depois que a Bruna foi morar com a avó, bem, aí ela desceu ladeira abaixo. Anda com gente perigosa. Do tipo que se deve trocar de calçada quando vê chegando...

─ Ela parece preocupada com a filha... – Dona Aparecida passava as mãos pelos cabelos de Bruna de maneira carinhosa.

─ Vai por mim, garoto! Ela é capaz de fingir qualquer coisa para conseguir o que quer. De quem você acha que a Bruna herdou o talento?

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora