Por Onde Andei

Bruna - Eu não tinha forças para lidar

Eu não tinha forças para lidar com nada daquilo. Parecia um pesadelo sem fim. Minha avó deitada naquele caixão cercado de flores, as pessoas prestando suas condolências e a minha mãe me afagando os cabelos.

Mil vezes fosse eu deitada ali. Minha avozinha querida, meu exemplo, meu alicerce. Agora, tudo desmoronava. Eu retornava ao pó junto com ela. Tinha vontade de me enterrar junto com aquele rosto gentil. Eu lhe acariciava as mãos. Mãos que me guiaram.

Entendia aos poucos o significado de estar sozinha de vez. Mesmo no meio da multidão, eu não via ninguém, eu era incapaz de sentir. As horas passaram sem que eu me desse conta. As pessoas cantavam os hinos de louvor que ela sempre gostara. Caminhavam ao meu lado no cortejo que nos levou ao cemitério.

Então, chegou o fim. As palavras bonitas do padre não acalentaram meu coração. Ajoelhei-me diante da sepultura. Não conseguiria sair dali. Minha mãe do meu lado. Chorei o que achava que não conseguiria mais chorar. Eu tremia.

─ Brunitinha, você está bem? – Carlos Eduardo segurava o meu rosto com delicadeza. Sua voz amada me soava longe, distante, impossível.

─ Pode deixar, querido. – Minha mãe me abraçou, afastando as mãos dele de mim. – Ela está bem. Fique tranquilo que eu cuidarei dela. Acho que só precisa colocar um pouco mais dessa tristeza para fora.

─ Eu a espero. – Ele disse com firmeza.

─ Acho melhor você ir, ninguém gosta de ser visto assim, não é mesmo? É um momento de muita fragilidade, seria melhor se estivéssemos apenas em família.

As pessoas foram saindo aos poucos, mas Kadu hesitou, ele não queira me deixar.

─ Vamos, filho. – O pai e o irmão dele vieram chamá-lo, puxaram-no pelo braço. – A mãe de Bruna está certa. Você já fez o que podia ter feito. Ela precisa ficar com a sua família. – Seu Vitorio tentava a custo convencer o filho a segui-lo.

Até que conseguiu e eu fiquei sozinha com a minha mãe.

***