Bruna - Agora nós duas

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─ Muito bem, Dona Maria Aparecida, agora nós duas! – Depois de uns dias de choro livre, acordei com vontade de viver. E desde sempre aprendi que para viver bem, nada melhor do que começar com uma faxina. Nada de colocar a poeira debaixo do tapete. Estava disposta a encarar meu problema de frente. – Diga logo a que veio. E sem me enrolar que eu não sou carretel.

─ Bruna! – Minha mãe, bem sentada na sala, fazendo crochê. Logo ela, fazendo crochê como a senhora mais respeitável de todas, resolveu encarnar a desentendida e fingir surpresa.

─ Se você pensa que o apartamento da minha avó está disponível, pode tirar o cavalinho da chuva. Nada de herança. Está no meu nome. Já coloquei para alugar.

─ Não quero um centavo seu, menina.

─ Bom, isso sim é novidade. – Sentei na mesa da sala e comecei a encarar a minha correspondência, as contas para pagar não respeitam luto.

─ Bruna Gabrielly de Oliveira Drummond, eu exijo respeito!

─ Pois se dê ao respeito, pegue suas trouxinhas e vá embora. Tchau e bênção! – Nem levantei os olhos dos papéis.

Minha mãe começou a colocar suas linhas na sacola plástica que trouxera, depois, sem dizer palavra, recolheu seus poucos pertences pela casa, ouvi um barulho pelo quarto, voltou para a sala e ajeitou o vestido. Passando por mim em direção à porta, disse com lágrimas nos olhos:

─ Sei que já errei muito com você, minha filha. Mas eu mudei, viu? – Ela soluçou e mais lágrimas caíram. – Espero que você perceba que só me aproximei para lhe ajudar, porque eu te quero um bem danado. Mesmo que você me rejeite para sempre, você continua sendo minha menininha. – Curvou-se toda de tristeza. Se eu não fosse tão sofrida, teria me abalado com a encenação toda. – Eu só quero que você saiba que eu também perdi alguém que eu amava muito. E que talvez eu tenha percebido que é tempo de reatar os laços, antes que seja tarde demais.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora