Bruna - Eu não acredito que você não me ligou antes

72 12 0
                                    

─ Eu não acredito que você não me ligou antes porque estava chorando, Bruna? – Daniela já chegou batendo os saltos, estava indignadíssima com a demora. – Você deveria era ter feito o que eu mandei e ter dado mais atenção a aquele moleque. É óbvio que carente e endinheirado na Europa, sozinho é que não ia ficar. Eu te falei, garota. Te falei!

─ Daniela, não adianta. Você não vai me convencer que a culpa é minha pela traição de Altair. – Do jeito que falava, ela me fazia parecer leviana na frente de Kadu, como se eu planejasse cada troca de carinho com a intenção de ganhar alguma coisa.

─ Mas que nós duas sabíamos que era questão de tempo até você levar um chifre, isso nós sabíamos... – Ela não ia deixar barato. Não ia mesmo. Nem eu.

─ Estou pagando pelo seu trabalho, Daniela. Não pelos seus conselhos amorosos. – Disse com a mesma firmeza e arrogância que ela trazia no olhar. – Vamos trabalhar. – Ela engoliu essa em seco, respirou fundo, me deu uma fuzilada com o olhar, mas começou a me pôr a par da situação, quantas campanhas canceladas, quantos telefonemas de revista de fofoca, quantas notícias maldosas na internet até o momento.

Pedimos sushi. Passava das oito da noite e estávamos longe de chegar a alguma solução para a minha imagem. Eu detestava isso. Machismo. Altair me traíra publicamente, mas ainda assim ele era o herói, ele era o bacana, além de pegador, era o camisa dez da seleção. Aquilo que todo homem gostaria de ser.

Já eu, graças a ele, estava na rua da amargura. Minha imagem construída a ferro e fogo nos últimos anos, em termos de publicidade, agora não valia nada. Quem gostaria de associar um produto para jovens com a tristeza de uma mulher trocada? Precisávamos agir rápido. Muito rápido. O verão se aproximava e eu precisava voltar a vender saúde e alegria.

─ Confesso que eu esperava que vocês rompessem somente depois da Dança das Celebridades, quando a protagonista das nove estivesse garantida... – Achei melhor nem entrar nos pormenores do e-mail que mandei para o autor pedindo personagem com Daniela. Pelo andar da carruagem, eu não teria era papel nenhum nessa novela. – Vai ser muito difícil levantar a sua moral agora. Muito difícil.

─ Quem sabe não seja melhor a gente baixar a bola, esperar um pouco. – Sugeri.

─ O problema disso, Bruna, é que talvez você saia da mídia de vez.

Aquilo me doeu no coração. Lutei tanto para chegar até ali. Eu merecia o meu lugar ao sol. Nessa hora, Kadu entra trazendo a comida. Eu continuo absorta em meus pensamentos, mas Daniela o mede de cima abaixo com um sorriso nos lábios.

─ Quem sabe um novo amor, Bruna?

─ Quem, Dani? Quem? – Nem percebi que minha agente já segurava Kadu pelos ombros. – Quem seria tão bom quanto o camisa dez da seleção? Não. Ficaria parecendo desespero. E eu não sou desesperada.

─ Que tal um príncipe encantado? Um amor verdadeiro nascido da convivência? – Então me dei conta de que falava de Carlos Eduardo. Ela o rodeava como um predador. Meu parceiro a encarava com incredulidade. Era demais para ele. Mas Dani continuava. - O menino bonito e rico que dança lindamente com você aos domingos. Que dançará com você no próximo domingo, que vai beijá-la no palco, que vai declarar seu amor...

─ Dani, chega! – Mandei.

─ Bruna, é a história perfeita! Um conto de fadas moderno. – Insistia.

─ Dani, eu não posso obrigá-lo a isso. Eu não posso obrigá-lo a nada.

Mesmo sem saber, Daniela me humilhava na frente de Kadu. Ela criava uma mentira para o público, uma novela da vida real, mal sabia que o enredo já tinha bastante de verdade. Menos a parte da declaração do príncipe encantado.

─ Mil desculpas, Kadu. – Fingi um sorriso. – Atitudes desesperadas de duas mulheres desesperadas. Eu nunca pediria isso a você. – Tentei ser o mais convincente possível.

Ele disse que estava tudo bem, mas saiu da sala o mais rápido possível. Como eu poderia pedir para que nós fingíssemos nos amar, se eu já o amava com todas as minhas células? Se tudo que eu mais queria era que ele gostasse de mim de verdade?

─ Você acha que ele não ia gostar dessa mentirinha, Bruna? – Dani brigou comigo. – Que cara da idade dele iria achar ruim de trocar uns beijinhos com você? Só se fosse louco. Ou gay.

─ A comida está servida, Dani. Enche logo essa boca e para de falar besteira.

─ Nã Nã Não. Pode sentar aqui a senhorita também e comer. – Praticamente enfiou um sushi na minha boca. – Pode parar com as dietas malucas. Já está muito magra. Nós não precisamos de uma manchete de fofoca com os dizeres "doente de tristeza: ex-namorada de jogador está tão infeliz que emagreceu 5 quilos". – Depois dessa, mastiguei e engoli.

Acabamos com a bandeja.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora