Bruna - Passou as mãos nas minhas costas enquanto eu vomitava

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Carlos Eduardo passou as mãos nas minhas costas enquanto eu vomitava. Pegou minha escova de dente. Ajudou a prender meus cabelos e a lavar meu rosto. Depois, sentou do meu lado na cama, esperando para começar o sermão. Sempre havia um sermão. Por mais que você pague suas próprias contas, sempre aparece alguém que se acha no direito de lhe dizer o que fazer.

─ Acho que o sushi me fez mal... – Por mais que eu soubesse que ele não cairia nessa, eu tinha que tentar.

─ Acho que um de nós dois não consegue controlar o vômito quando está diante de uma situação de estresse. E digo mais, esse alguém não sou eu. – Deitou-se na minha cama com os braços cruzados sobre a cabeça e disse com muita naturalidade.

─ Você está imaginando coisas. Existem muitas bactérias que se proliferam no peixe cru, sabia?

─ Sabia sim. Assim como sei também que muitas mulheres sofrem desse mal. Chama Bulimia nervosa. É um distúrbio de imagem. Acontece principalmente devido aos altos padrões da sociedade, a pessoa não se acha adequada. Começa por conta do peso, mas depois a pessoa pode perder o controle vomitar em cada nova situação de constrangimento e estresse.

─ Qual é, Kadu? – O próprio nome da doença já me causava arrepios, mas eu não ia fraquejar. – Olha toda essa gostosura! – Apertei minhas coxas. – Você acha que eu tenho algum distúrbio de imagem.

─ Não, não acho. Tenho certeza. – Ele virou para mim com firmeza. – Você perdeu quantos quilos mesmo desde que começamos a dançar juntos?

─ Dançar emagrece. – Argumentei.

─ Vomitar o que come também. – Ele insistiu. – Quantos?

─ Seis ou sete, aproximadamente... – Menti. Foram doze quilos. Mesmo assim, seus olhos azuis se arregalaram.

─ Você precisa de ajuda, Bruna. Urgente. – Levantou, pegou o celular e viu o horário. Já era tarde, passava das dez. Rabiscou um número da sua agenda. – Tá aqui. Você tem até segunda para ligar ou eu mesmo ligo. Essa é a minha médica.

─ Chique! Tem nutricionista, riquinho. – Debochei tentando fazer com que ele mudasse de assunto e me deixasse esquecer esse papel em algum lugar.

─ Não é nutricionista, Bruna. É minha psiquiatra. A médica que tratou de mim quando eu tive exatamente a mesma coisa quando era criança. – Minha boca caiu com a revelação.

─ Eu não sabia. Kadu. – Sentei na cama.

─ Você acha que a minha vida é e foi fácil porque minha família tem dinheiro, mas experimenta mudar de casa, de escola, de cidade, sei lá quantas vezes na vida. Experimenta ser o garotinho bochechudo e tímido. Experimenta viver sempre a sombra do seu irmão talentoso. Experimenta ter tantas expectativas em cima de você que fica até difícil respirar.

Eu corri e o abracei depois desse desabafo.

─ Ótimo! – Disse zangado ainda com a minha teimosia. – Agora já pode me dizer o que provocou essa crise.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora