Fazia muito tempo que eu não tocava nesse assunto. Mas a Bruna precisava de ajuda, como um dia eu mesmo também precisei. Tomara que ela a aceite, embora eu tenha a mais plena consciência de que não vai ser fácil. Vou precisar insistir, eu vou insistir. Do mesmo jeito que minha mãe fez comigo anos atrás, mas tenho fé que ela vai melhorar.
O primeiro passo, ela deu. Veio me mostrar o motivo da crise. Pelo menos, estava admitindo uma. Trouxe para mim um top de crochê que a mãe deixara de surpresa no seu guarda-roupa. "Sempre pensando em você", dizia o bilhete que o acompanhava. Depois de tantas emoções em tão curto espaço de tempo, aquilo era mesmo demais para qualquer um.
─ Eu a coloquei para correr daqui aos desaforos hoje pela manhã... – Bruna me mostrava a peça muito delicada, trabalhada nos mínimos detalhes. – E ela me vem com essa?
─ E você está arrependida? – Perguntei.
─ Minha mãe não presta, Kadu. Nunca prestou. Todo mundo sabe disso. – Respondeu com raiva.
─ Essa é a sua opinião ou é a de todo mundo? – Insisti.
─ Você não a conhece.
─ Bom, das vezes que falei com ela, foi sempre muito gentil. Sabe, Bruna, às vezes as pessoas mudam. Uma perda como a de vocês sempre faz refletir, avaliar as ações, pensar como se quer passar o tempo, como se vai encarar o futuro.
─ Você não vê maldade nas pessoas, Kadu.
─ Por que eu sou rico?
─ Não. Porque você é bom.
─ E você nunca se dá uma chance, Bruna. – Eu a encarei bem no fundo dos olhos. Eu me joguei naquele caos. – Você reclama que nada dá certo, mas você não deixa ninguém te ajudar. Fica sozinha aí nessa fortaleza que você mesma construiu e não permite que ninguém passe. Conseguir qualquer coisa sozinho sempre é mais difícil mesmo.
─ ... – Ela ficou calada só me encarando. Por um instante, parece que nem estava lá. Parecia que a alma tinha saído do corpo.
─ Se você quer dar uma chance para a sua mãe, é melhor se arrepender de ter tentado do que chegar o dia em que Deus há de levá-la e você venha a se arrepender de não tê-lo feito.
─ Você acha isso mesmo, Kadu? – Uma lágrima desceu pelo seu rosto sem controle.
─ Acho. – Beijei sua testa e enxuguei sua lágrima. – Agora eu vou embora. Já abusei da sua hospitalidade e amanhã tem aula.
─ Boa noite. – Ela me disse na porta.
Chamei o elevador. Enquanto esperávamos, eu tive uma ideia. Peguei o celular dela sem explicações e salvei o telefone da Doutora Fabíola.
─ Toma, Bruna. – Devolvi o celular. – Vamos fazer o seguinte, se você aceitar ajuda, eu topo o lance do namoro falso. De toda forma, você sai ganhando. Que tal?
***
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Por Onde Andei
Teen FictionNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...