Carlos Eduardo - Passei o dia angustiado

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Domingo, passei o dia angustiado. Eu queria me convencer de que o problema estava na coreografia. Óbvio que, por mim, nós teríamos ensaiado mil vezes mais, mas a considerar esses últimos quinze dias em que a vida virou do avesso, ter uma coreografia ensaiada já era muito. Além disso, por acaso do destino, iríamos dançar o tango, o que não exigia uma perfeita relação entre o passo e o ritmo.

Não fiz nada o dia inteiro. Tinha esperança de que o tempo não passasse. Passou. E lá estava eu, no camarim, ainda esperando que Bruna terminasse a maquiagem. Não nos vimos o dia inteiro. Eu cheguei bem em cima do horário, ela chegou cedo.

Quando finalmente a vi, meu coração deu um pequeno salto. Ela estava deslumbrante no vestidinho preto curto de melindrosa, com o cabelo preso adornado por uma faixa de renda e um batom vermelho. As pernas mais compridas do mundo naquele salto alto.

Nossa! Entendi como eu estava sendo estúpido em tentar me livrar de Bruna "Espetáculo" Drummond.

Ela, pelo jeito, nem reparou que me deixou sem ar. Veio em minha direção e me deu um abraço carinhoso.

─ Já que esta é a nossa última noite, que seja a mais maravilhosa de todas. – Fez estalar outro beijo. Dessa vez na minha bochecha. Acabou me manchando de batom, foi logo se apressando em limpar, eu ajudei.

Bruna estava conformada com a minha saída. Fiquei um pouco sentido. Ela não insistiu mais que eu continuasse, mesmo depois de tudo que vivemos nos últimos dias. Quem sabe se ela tivesse pedido, talvez eu aceitasse. Depois de ter inventado tantos motivos para justificar minha covardia em não dançar mais com ela, eu não tinha argumentos para simplesmente voltar atrás.

Fiquei calado. Sorri um sorriso triste. Não tinha mais o que dizer. Seria a nossa última noite juntos.

Bruna também estava ansiosa, o apresentador era inconveniente, com certeza faria perguntas sobre Altair. Ela precisaria de toda a sua astúcia para se desviar delas.

─ Toma, Kadu. – Ela me entregou um papelzinho um pouco antes de entrarmos no palco. – Você tem sido maravilhoso comigo desde que o conheci. – Ela continuou a falar. – Mas não precisa fingir ser meu namorado, tá bom? Eu fiz isso por mim mesma. – Abri o papel. Era a data e a hora da consulta dela com a Doutora Fabíola.

No mesmo instante, fomos chamados ao palco.

Promessa é dívida, pensei. Beijei a sua mão muito satisfeito e seguimos para o palco.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora