A mãe do Monstro

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A Mãe do Monstro


"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro."         (Friedrich Nietzsche)


Janice acordou de sobressalto. Havia mais uma vez sonhado com Helga, a irmã desaparecida. Com uma dobra do lençol enxugou o rosto. Gotas de suor insistiam em descer por sua pálida fronte encharcando parte de seus cabelos louros. Procurando por uma garrafa com água que deixara próxima à cama, sorveu longos goles. O relógio indicava cinco horas e quinze minutos. Não compensava mais dormir. Meia hora depois, já se encontrava de volta a estrada deixando a modesta pousada para trás. Optara por fazer o desjejum quando chegasse à pequena cidade de Socó, de onde recebera as últimas notícias da irmã. No entanto, após quarenta minutos pela rodovia quase deserta, o destino se encarregara de mudar os seus planos obrigando a jovem a procurar o acostamento. O radiador de seu automóvel havia fervido.

Procurando por um recipiente que costumava trazer com água, constatou para seu dissabor que se esquecera de abastecê-lo. Aguardou atenta por ajuda, mas um carro que passara por ela, se quer tomara conhecimento. Depois, mais um e em seguida outro. Ninguém se prontificava a parar naquele local. Decidida, deixando o veículo fechado, subiu uma pequena elevação próxima e de lá avistou, no meio do mato, o telhado de um casebre. Esperançosa, seguiu em sua direção.

Era uma casa de pau a pique, que parecia haver saído de outra época. Seu telhado era de sapé e uma pequena cerca a protegia do mato espesso que a rodeava. Imaginou aquele local tragado pela escuridão da noite e um arrepio percorreu seu corpo. Quando ia bater na porta, uma voz rouca se fez ouvir:

— Está aberta, apenas encostada, empurre e entre!

Janice sentiu o coração estremecer e uma hesitação apoderou-se de seu corpo. Entrando, deu de frente com uma senhora idosa de rosto rechonchudo e cabelos grisalhos presos no alto da cabeça em forma de um coque mal produzido. A mulher enxugando as mãos no avental desbotado e percebendo o semblante receoso da jovem, foi logo dizendo:

— Minha filha, não tenha receio desta velha rabugenta, que vive só, neste final de mundo, distante de tudo e de todos.

— Oh senhora, por favor, me desculpe. Meu nome é Janice e estou precisando...

— De um pouco de água, certamente.

A jovem se espantou e a anciã concluiu sorrindo:

— Percebi por causa desse galão que carrega...

— Ah! Sim. É claro. – Olhou sem graça para o recipiente. Por um instante se sentiu confusa. A pobre mulher à sua frente, que, na verdade, lhe parecera à primeira vista uma bruxa oriunda de alguma história fantasiosa, era apenas uma ermitoa qualquer. Seus nervos andavam mesmo acelerados, pensou sorrindo.

— Acredito que ainda não tenha tomado seu café, o que muito me alegra, pois careço de companhia. Acabei de assar um bolo de milho. — Quando a mulher abriu a caçarola envolta por um pano colorido, o cheiro se desprendeu junto com o vapor.

— Sente-se que já vou passar um cafezinho.

— Muito obrigada senhora, não precisa se preocupar...

— Nazaré, Maria Nazaré, a seu dispor. — respondeu a mulher enquanto despejava a água fervente no coador. O cheiro do café se espalhara de forma convidativa e Janice puxando uma cadeira procurou acomodar-se. Era uma casa simples, mas limpa e aconchegante.

A Mãe do MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora