O Quarto Dos Fundos

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Janete Resolveu ir se deitar, ainda naquela noite, quando viu novamente o quarto da pequena Joana aberto.

— O que está fazendo acordada de novo, Joaninha? – perguntou Janete quando viu a menina deitada novamente no chão com seu caderno de desenho nas mãos. — Já está muito tarde.

— Eu estava desenhando você, Janete. — respondeu a menina sorrindo tão feliz.

— É mesmo? Mas isto não é hora de estar desenhando. Já é madrugada. Você precisa dormir.

— Tudo bem. — disse a garotinha, taciturna.

Janete a carregou e lhe colocou de volta na cama. Deu um beijo na menina e saiu fechando a porta. Entrou em seu quarto e despencou de sono. Estava exausta. Era tanto trabalho naquela casa que a deixava doida. A casa parecia que nunca parava arrumada. Parecia até que os filhos dos Peixotos faziam aquilo de proposito. Arrumava tal compartimento e minutos depois ele já se encontrava uma bagunça. E se fosse a sra Peixoto? A mulher parece que não gostava de lhe ver parada descansando.

Aquilo tudo era demais. Em seu quarto, a solidão e a bíblia eram suas únicas companheiras. E agora o diário da pequena Fátima.

Diário de Fátima

Hoje a tia Jamila pôs minha mão no fogo por ter comido uma fatia de queijo da geladeira. Passei pasta de dente mas continua ardendo. Eu só queria comer alguma coisa pois meu almoço foi apenas uma sobra de feijão da Bianca e do George. Pedi perdão a ela e disse que nunca mais ia fazer aquilo. E nunca mais vou fazer meu Deus.

Meu Deus! Exclamou Janete. Essa mulher é um monstro! Como pode fazer isto com uma criança?!

Fechou o diário e observou novamente os desenhos de Fátima na parede.

Era uma casinha humilde. Pai, mãe e irmãos na janela. E a pequena Fátima se afastando deles com um homem de chifres lhe levando. Aquilo era bizarro demais.

Janete se comoveu tanto com a menina Fátima. "Meu Deus, ela era como eu. Sozinha no mundo. Afastada da família". Triste. Chorou mais uma vez. As lagrimas desciam pelos os lábios. De repente se sentiu estranha. Seu corpo ficou subitamente enrijecido. Estava congelando, paralisada. Sentiu-se um boneco de neve. "Que é isso?", pensou. Sua voz não conseguia sair. Aquilo parecia um sonho, mas não era. Quando finalmente se deteve da paralisação deu um grito horripilante. Começou a chorar feito uma criança. Aquilo nunca lhe tinha acontecido antes. "acho que estou ficando doente, paranoica, sei lá".

"Estou louca. Estou ficando louca, Deus."