Os dias que se seguiram foram exatamente como o último. Acordava mais ou menos umas oito horas, tomava banho e depois me sentava a mesa junto com a Nah para tomar o café que ela fazia na enorme máquina de café que ela comprara semanas atrás junto com a crepioca – que ela implorou ao Rafael que a ensinasse fazer. Depois seguia para o estúdio para tirar mais fotos - só que agora junto com o Rafael –, ou para alguma locação externa para gravarmos algumas tomadas da propaganda que eles colocariam ao ar em todos os canais de televisão.
Eu gostava de estar no estúdio, gostava do calor abafado com o aroma dos diferentes tipos de bolos e pelos bolinhos de chocolates e brownies inclusos na mesa cheia de "coisas light". Eu amava as rajadas de ar frio quando fotografávamos na praia de Ipanema, do murmúrio das conversas e, quando terminavam as gravações ficávamos todos calmos, ouvindo apenas o som dos Beatles tocar no disco de vinil do Kleber. Mas, acima de tudo, eu gostava das pessoas. Amei conhecer Leila e Carol, as maquiadoras e cabeleireiras que vinham todas as manhãs e faziam milagres em mim. Gostava da Sra. Hastings, que era o anjo por trás de todas aquelas delicias em cima da mesa de doce, que conseguia beber três xicaras de café de um jeito único e que também era a mãe do responsável por todas aquelas lindas fotos tiradas.
Algumas semanas se passaram desde o meu primeiro trabalho como modelo. Depois dele, vieram muitos outros que minha agência topou, mas o convite que eu fiquei realmente surpresa e mais tentada em fazer foi uma proposta que recebi dois dias antes do Natal. Muitas coisas estavam se passado pela minha cabeça, mais foi em 23 de Dezembro, depois que recebi um telefonema sendo chamada a participar de uma série de um canal, onde o público era voltado principalmente para os jovens, que meus pensamentos foram redirecionados para uma só coisa: minha vida estava mudando.
Já era natal quando minha mãe resolveu me passar uma mensagem no celular dizendo que não iria dar pra ela e papai virem pro Rio. O natal seria o dia em que nos reencontraríamos e também seria um dia feliz e alegre junto deles. Tirando o fato deles não estarem comigo a data foi perfeita, eu e a Nah fomos convidadas a passar na casa do Rafael junto a sua família. Uma ceia deliciosa tinha sido preparada com carinho pelos familiares dele, no momento da reunião da família em volta da mesa, foi quando ouvimos algumas palavras que me fizeram relembram o verdadeiro significado de toda a festa, os primos pequenos do Rafael corriam pra lá e pra cá para abrir seus presentes. Quando criança, acreditava na presença de um velhinho de barba branca que vestia roupas vermelhas e que nos traria os presentes que pedíamos em nossas cartas escritas á mão. Esperava por ele e aguardava ansiosamente até a meia-noite, quando é a hora de descobrir o que ele trouxe e deixou embaixo da árvore. O brilho nós olhos daquelas crianças eram o mesmo brilho dos nossos olhos quando abríamos os nossos antigamente.
E no ano novo não foi diferente, meus pais alegaram terem sidos convidados por um de seus clientes, mas no fundo eu sabia que eles não queriam mesmo eram vir me ver. E eu sabia que um dia eles não iriam ter mais desculpas pra inventar e acabariam vindo ao Rio.
E isso não demorou tanto assim. Eu fui ao teatro com a Alina e a Sophia (no meu único final de semana de folga, depois de passar todos os dias dos mês de janeiro posando para diversas câmeras) e, mal terminou a peça, chequei meu celular para ver se tinha alguma chamada ou mensagem. Não tinha nada. Então eles realmente tinham caído na estrada. Voltamos pra casa a pé, já que o teatro onde fomos era perto do meu apartamento. Eu já tinha me despedido das meninas, que logo em seguida conseguiram um táxi uma rua atrás da minha.
Ao dobrar pra minha rua, senti um vento frio daquela noite de sábado batendo em meu corpo, tinha mês esquecido de como eu gostava de andar á noite, debaixo das estrelas que sempre foram minhas fiéis companheiras durante minhas antigas caminhadas noturnas.
Ao chegar próximo ao meu apartamento, avistei um carro familiar, estacionado do outro lado da rua, porém em frente ao meu prédio. Andei depressa e quando cheguei perto o bastante do carro, olhei a placa. Era o carro dele. Imaginei na hora que eles estivessem lá em cima me esperando. Procurei as chaves na bolsa e antes que eu abrisse o portão, senti meu celular vibrando. Era uma mensagem do Rafael, dizendo que amanhã viria conhecer meus pais.
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O Outono Que Mudou Minha Vida
Teen FictionNo seu 16° outono, Manuela - ou Manu como gosta de ser chamada - passou por um trauma que ainda não foi superado totalmente, em parte pela falta de atenção e sensibilidade de seu pai advogado/autoritário, e outra parte por não conseguir se livrar da...