Depois que minha mãe me mandou aquele e-mail, fiquei pensando por dias se deveria ou não voltar para Campos, para a minha cidade... cidade na qual o destino tratou de arrancar – sem permissão – do meu futuro. Não vou dizer que eu não queria sair dela, pois eu queria. Sonhava em ter uma carreira em uma cidade grande como: São Paulo, Belo Horizonte ou até mesmo aqui nessa cidade maravilhosa. Cidade essa que, assim como o Cristo Redentor foi retratado no topo do morro do Corcovado, me recebeu de braços abertos.
Com a proximidade do meu vestibular eu tive que me desdobrar entre as sessões de fotos e as horas de estudos que minha prima insistiu que eu tivesse. Também diminuí as minhas saídas com minhas amigas e com o meu namorado para poder ter mais tempo pra estudar as leis de Newton e como Hitler foi horrivelmente um péssimo ser humano na década de 40. E sempre que eu pegava algum papel pra estudar que tivesse alguma coisa sobre a Segunda Guerra Mundial, eu automaticamente me lembrava de uma vez que minha avó me contou que em 1984, um padre salvou um menino de 4 anos de um afogamento – o nome dele era Adolf Hitler. Eu nunca me esqueci disso!
No dia em que resolvi amostrar o e-mail que recebi da minha mãe á Nah, ela me olhou com um olhar do tipo: " E o que você vai responder?". Eu estava tão surpresa com o fato do meu pai ter abraçado uma causa humanitária que nem me lembrava mais do real motivo de minha mãe ter me mandado aquele e-mail: o convite. Em vez de me decidir se iria ou não, fiquei me fazendo algumas perguntas:
– Eu estou pronta pra retornar para minha cidade?
– Qual vai ser a reação da minha família quando eu retornar?
– E os meus amigos?
– Eles vão me tratar com pena ou serão indiferentes comigo?
– Será que eu vou ficar bem lá?
– Vou passar no vestibular?
Sempre soube que a maior dificuldade de sair de casa seria o dia em que eu voltaria para ela. O meu coração apertou. Toda vez. Toda santa vez. É só a minha mente pensar em voltar que ele se contrai. É uma sensação esquisita, que eu ainda não sabia lidar. Mas teria que aprender!
♥ ♥ ♥
Eu mal dormi aquela noite. Desde o momento que a Nah me olhou, fiquei pensando que, por mais que eu quisesse me afastar da minha cidade, ela nunca iria sair de mim. Eu passei quase a noite toda me perguntando se eu deveria retornar para minha casa, mas doía demais pensar que aquilo seria impossível de acontecer. No fundo, eu sabia que meus medos e traumas sempre me perseguiriam para onde quer que eu fosse. Eu tinha explicado a Nah o porquê deu ainda não ter me decidido e ela disse que estaria do meu lado qualquer que fosse minha resposta. E ela ainda me aconselhou a pedir a opinião do Rafael, que também tinha sido citado entre os remetentes daquele convite. Eu já tinha tentado ligar pra ele mais cedo, mas caiu na caixa postal. Então o que me restou foi esperar pelo dia seguinte. Eu sabia que, pelo horário que o relógio marcava, ele estaria em seu vigésimo sono.
Acordei mais confusa ainda, e, já não sabia se deveria ou não perguntar ao Rafael o que ele achava. Uma vez que eu perguntasse, ele iria querer saber o motivo do meu medo de voltar para a cidade que nasci e fui criada. E eu ainda não estava preparada para contar sobre o meu passado. Eu não queria!
Passei a manhã toda em casa, estudando para o vestibular que cada vez mais me preocupava. De hora em hora a Alina – que veio me explicar física – me fazia perguntas sobre a matéria que eu nem se quer lembrava de ter estudado sobre aquilo no ensino médio. Ignorei todo o plano de estudo que ela tinha criado pra mim, assim como estava ignorando as mensagens no celular que a Nah mandava. Eu só queria que chegasse a hora em que o Rafael ligaria – como sempre – para me avisar que o treino tinha acabado.
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O Outono Que Mudou Minha Vida
Teen FictionNo seu 16° outono, Manuela - ou Manu como gosta de ser chamada - passou por um trauma que ainda não foi superado totalmente, em parte pela falta de atenção e sensibilidade de seu pai advogado/autoritário, e outra parte por não conseguir se livrar da...