Capítulo 20

2 0 0
                                    

De casa até o escritório de advocacia do meu pai eram 15 minutos de carro. 15 minutos era tempo de sobra para pensar em tudo o que eu tinha perdido por causa das cartas que nunca chegaram em minhas mãos.

Assim que entrei no escritório e as portas se fecharam, fui até a mesa da secretária que estava muito focada analisando umas papeladas.

– Por favor avisa ao sr. Ricardo que a filha dele ta aqui! – Pedi, apoiando-me na mesa dela que me olhou de cima abaixo. Eu estava sem ar, não conseguia dizer uma palavra á mais. Estava nervosa e confusa.

– Seu pai está em reunião, pediu que não fosse incomodado por ninguém. – A secretária informou, apesar de saber que aquilo era mentira. Eu a encarava tentando parecer calma e controlada, enquanto ela, com um sorriso torto, deixando à mostra os dentes perfeitamente brancos, perguntou se eu aceitava uma água.

Eu demorei alguns segundos para processar àquela desculpa esfarrapada que provavelmente ele a mandava dar para clientes enjoados. Minha educação estava indo embora, assim como a minha paciência. Eu estava prestes a levantar a voz pra ela quando ouvi um barulho vindo de uma das portas atrás de mim.

– Allana! Me traz outro café, por favor! - Pediu um homem em tom baixo enquanto abria a porta, trazendo uma xícara vazia em uma das mãos.

– Claro! Mas, sr. Stwart, eu acho melhor o senhor ficar por aqui. – Ela disse, levantando-se e pegando a xícara da mão dele.

– Stwart! – Chamei, me virando para ele.

– Manuela! Meu Deus! Menina, você está ainda mais linda do que antes! – Disse sorridente, enquanto passava a ponta dos dedos por todo meu rosto e ao perceber meus olhos inchados de tanto chorar, perguntou o que havia acontecido. Eu expliquei sobre as cartas, sobre as mentiras do meu pai. Contei tudo. Ele me olhava sem saber o que me dizer. Então, eu o pedi para que me levasse até o meu pai. Ele se negou, dizendo que não podia fazer isso, que meu pai estava em uma reunião muito importante. – Bom... que tal você esperar até que acabe a reunião, acho que não vai demorar muito. Você pode ficar na sala de espera. Vou pedir para Allana te trazer um café. – Disse, me encaminhando até a sala.

O pai do Dante, sempre foi um cara bacana, tinha um ótimo senso de humor e, pelo jeito, era um ótimo pai. A "sala de espera" era uma saleta ampla, com mesinhas espalhadas e decoradas com um ótimo bom gosto, como era todo o resto do prédio. No canto, um sofá enorme de couro preto com detalhes em metal servia de descanso para um cliente adiantado. Fiz o máximo de silêncio, esperei pelo café que o sr. Stwart havia pedido, e quando ele chegou me permiti perceber que havia um toque especial, tinha nele canela em pó. Talvez era um gosto comum dos advogados, eu sempre bebera café desse jeito, desde quando meu pai me pedira para experimentar.

Cansada de esperar, voltei para a recepção e observei cada detalhe da sala. Era muito bem iluminada por uma janela enorme, os móveis eram de um material escuro e polido, os eletrônicos de última geração e a própria cadeira da secretária deveria valer mais que o sofá de couro preto da outra sala. Era uma recepção um tanto quanto vazia, havia só o essencial. No fim da sala havia uma porta de vidro, do tipo que quem está dentro vê tudo que se passa ao lado de fora, mas não o contrário. Minha curiosidade estava palpitando. Eu estava sozinha ali – a secretária tinha ido a sala do Stwart, mando dele – que mal faria uma olhadinha? Caminhei com cautela até a pesada porta, senti a frieza da maçaneta de metal e, quando á puxei, vi meu pai sentado á mesa, sozinho. Não tinha se quer um mosquito, para que pudesse haver uma reunião.

– O que você está fazendo aqui? – Murmurou ele, num tom de fúria. Não querendo ser escutado pelos que estavam atrás da porta.

– Você mentiu pra mim! – Meus olhos estavam em chamas de tanta raiva. – Você as escondeu de mim. – Mudei o tom, tentando me acalmar. Eu só queria descobrir o por que das mentiras.

O Outono Que Mudou Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora