O veredicto (capítulo 1)

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Ele se achava bom, ela a melhor, quis o destino que seus caminhos se cruzassem. E agora eles estão em uma encruzilhada, qual direção eles seguirão? Profissional ou sentimental.


O ano de 1992 ficaria marcado para sempre na vida do jovem Heitor. Ele arrumou a gola de sua camisa enquanto sua visão se prendia às pedras de gelos que boiavam no interior de seu copo de whisky. Girava o pulso em círculos, o movimento fazia com que os cubos de gelos colidissem entre si. O som dos estalos lhe agravada. A música que tocava no ambiente era um novo sucesso dessa primavera. A capital comandava os modismos do momento em várias áreas: música, moda, culinária, etc e passado algum tempo suas novidades se propagavam para o interior. A chegada sem aviso de uma frente fria, amenizou a temperatura das primeiras semanas da estação, devido ao encontro das massas de ar quentes com as frias. Esse fenômeno aumentava as chances de tempestades castigarem a região. O sobretudo amontoado no mancebo era um acessório indispensável. Aquele clima logo tornaria o centro da cidade interiorana de difícil acesso. Os rios aumentariam seus volumes assustadoramente e muitas das ruas ficariam instransponíveis.

Heitor observava os outros advogados em rodas familiares desfrutando de conversas agradáveis e animadas. Estava sozinho, mas sabia que essa situação não perduraria por muito tempo, Estefani e seu noivo Richard caminhavam em sua direção. O jovem advogado não esboçou nenhuma reação, a mulher ocupava o cargo de secretária na firma, além de ser a melhor amiga da esposa do senhor Duarte, sócio majoritário do escritório de advocacia. Hiperativa e agitada, seu maior defeito se dava em não conseguir manter a boca fechada por muito tempo, sempre falando mais do que o necessário. Muitas vezes uma conversa com ela significava: Estefani falando com Estefani e os outros... bem, eles desempenhavam o papel de meros expectadores. Richard, por outro lado se mostrava ser uma pessoa totalmente diferente, maleável e de bom papo e talvez por ser professor procurava sempre estar atualizado de todas as novidades que ocorriam nas redondezas e na capital. Conversar com ele significava ficar a par dos assuntos que raramente Heitor buscaria nos jornais. A cara de Richard não deixava dúvidas, o ser era perdidamente apaixonado por Estefani.

O casal parou ao lado de Heitor e a conversa começou a fluir naturalmente. Estefani monopolizava o papo e de vez em quando Richard dava uma pitada de seu humor negro no assunto. O advogado permanecia calado na maior parte do tempo, não porque não se interessava pelos assuntos discutidos, mas sim porque os dois não lhe davam oportunidade para falar. Em um determinado momento, Estefani mudou completamente suas atitudes e se dirigiu a Heitor com um pedido que havia se tornado habitual quando se encontravam dentro do escritório.

"Heitor, você pode tomar conta do Richard para mim por uns dois minutinhos?" A mulher passou os dedos pelo queixo do noivo fazendo uma carícia. "Tenho que resolver uns assuntos pendentes com o Doutor Duarte e já volto." Ela sempre se referia ao chefe pelo título de Doutor.

Duarte era um senhor de aproximadamente uns sessenta e três anos, se portava sempre como um cavalheiro distinto e tratava a todos com muita polidez. Normalmente ficava restrito para ele a palavra final nas tomadas de decisões do escritório.

"Mas até nas festas este crápula quer lhe dar serviço? Estamos comemorando o aniversário do escritório, diga para ele dar um tempo." Protestou o noivo usando tons de repreensão e indignação.

"Não se esqueça que minha dedicação pode me trazer uma promoção em breve, mas mesmo assim vou comunicar a ele sua insatisfação com todas as horas extras que tenho feito ultimamente." Ela sorriu para o noivo. "Só não se esqueça que esta é uma ocasião excepcional, Gregory sofreu um acidente voltando da capital ontem e não poderá se apresentar no fórum amanhã. Infelizmente o julgamento não pode ser adiado, por isso o Doutor Duarte precisa de mim agora mais do que nunca. Tenho que deixar toda a documentação em ordem para quem for assumir o caso." Estefani piscou para o noivo e partiu. A secretária exagerava nos movimentos do quadril deixando mais do que evidente seu traseiro avantajado. Suas vestimentas estavam impecáveis, ela parecia estar sempre muito bem vestida, como se acompanhasse todas as revistas de moda que circulavam. Hoje mesmo, usava um salto preto, combinando com uma saia da mesma cor, uma blusa branca e um colete azul marinho. Seu cabelo ficava preso atrás da cabeça por uma presilha, dando-lhe um ar jovial. No meio do caminho Estefani se virou para trás, não falou, apenas mexeu os lábios, mas o recado foi entendido sem dificuldades pelo noivo. "Eu te amo, não vou demorar, vê se não foge, tá."

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