De volta para casa

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Rodrigo

— Seu idiota!

— Ai. O que foi? — Perguntei rindo enquanto me esquivava dos tapas que a Samira tentava me dar.

— Por que não me disse que estava me levando para a casa dos seus pais? Eu nunca aceitaria ir até lá, se soubesse que era para onde estávamos indo.

— Por isso mesmo que não contei. Se não, você não iria e eu estava com saudade da comida da minha mãe e estávamos tão pertinho. — Dei de ombros.

— Mas é muita falta de educação levar alguém para almoçar na casa de alguém, sem avisar.

— Para de drama, Sá. É minha mãe!

— Por isso mesmo. E sem contar que todos acharam que eu era algo mais que sua amiga.

— Pode ser algo mais, é só você querer. — Falei sorrindo e ela revirou os olhos. — Eles gostaram de você, Ramira. — Gargalhei e ela me acompanhou.

— Adorei essa história dos "Rs".

— Eu gosto também, acho engraçado.

Ela sorriu e voltou seu olhar para fora do carro, pensativa. Eu a fitei por um pequeno instante, meus olhos vagaram pelos seus lábios, por um segundo, e logo voltei a olhar para a estrada novamente.

Durante o dia, por diversas vezes, olhei para a Samira brincando com meus sobrinhos como se tivesse a mesma idade deles, interagindo com a minha família e todos sorrindo para ela, como se ela fosse a pessoa mais legal do mundo e me peguei pensando que gostaria de tê-la apresentado como minha namorada. A primeira vez na vida, senti essa vontade, mas sei que foi só por que a vi lá, junto com a minha família e que mesmo ela sendo espetacular, quando eu voltar a minha vida normal, esse sentimento de que estou deixando algo escapar, vai passar e vou voltar a ser o velho Rodrigo de sempre.

Olhei para o lado e Samira estava dormindo profundamente, sorri para a bela companheira de viagem que ela era.

*

Estacionei em frente a casa da Samira e me virei de frente para ela, que ainda dormia, encostada em seu braço, que estava dobrado e encostado ao vidro. Com delicadeza tirei uma mexa de cabelo cacheado que caía em seu rosto, coloquei atrás da sua orelha e esse gesto a acordou.

— Você fez uma parada? — Samira perguntou se espreguiçando e passando as mãos no rosto.

— Não, nós já chegamos.

— Chegamos? — Perguntou bocejando e piscando para olhar em volta e se dando conta de onde estávamos.

— Sim, chegamos.

— Você dirigiu rápido.

— Não, você que dormiu muito. Dormiu o caminho inteiro. Péssima companheira de viagem.

— Desculpa, mas é que eu realmente estava cansada.

— Percebi, você estava dormindo tão pesado que achei que teria que levá-la no colo.

Ela sorriu divertida.

— Não é uma má ideia.

— Para de me explorar. — Ela sorriu em resposta, esfregou os olhos, pegou um chiclete na bolsa e colocou na boca.

— Não vai me oferecer? — Falei me fingindo de ofendido.

— Só tinha esse. — Ela falou sorrindo e abaixou a cabeça para fechar a bolsa, enquanto mastigava o chiclete e o cheirinho de menta tomava conta do carro.

Fiquei olhando para ela e para a sua boca que se mexia lindamente mastigando o chiclete e então puxei seu queixo para que ela me olhasse.

— Podia ter dividido. — Falei com um olhar intenso que passava dos seus olhos para os seus lábios.

— Não sabia que queria tanto. — A voz dela não passava de um sussurro.

— Não queria, mas agora eu quero e quero muito.

Avancei sobre ela e finalmente a beijei, como senti vontade de fazer o dia todo. Desde quando a vi brincando com meus sobrinhos ou sorrindo com as minhas irmãs e minhas mãe. Comecei a passar a mão por todo o seu corpo, mas quando eu estava começando a me empolgar ela me parou:

— Preciso entrar.

— Não vai me convidar?

— Estou enjoada de você.

— Ai. — Falei fechando os olhos e simulando dor.

— O que foi. — Ela perguntou preocupada.

— Você acabou de quebrar meu coração.

— Ah! Mas é bobo! Vai falar que também não está enjoado de mim? Estamos juntos desde ontem.

— Na verdade não. Não estou, não.

Ela ficou me olhando com os olhos semicerrados.

— Você é estranho. — Ri com o que ela disse e me encostei ao banco do carro de frente para ela.

— Olha as mulheres que já passaram um tempo comigo, já me chamaram de várias coisas: gostoso, deus do sexo, anjo da noite — pisquei para ela, que revirou os olhos, enquanto eu contava nos dedos das mãos. — delícia, tesão, entre outros, mas nunca me chamaram de estranho.

— Mas você é! Porque primeiro me disse que não queria repetir sexo comigo e depois passa um fim de semana inteiro ao meu lado. Se não é estranho é no mínimo contraditório.

Sorri para ela.

— Estou aprendendo com a mais contraditória de todas.

Ela apenas sorriu em resposta e eu continuei:

— Tá, se não vai me convidar para entrar, então quer vir comigo para casa?

— Não, Rodrigo.

— Vai me dispensar mesmo?

Ela sorriu largamente.

— Sim.

Ok. Então, quando nos vemos?

— Vamos ver... Qualquer dia desses a gente se esbarra por aí.

Fiquei olhando para ela e pensando que ela só pode estar de brincadeira comigo, ou me testando. A maioria das mulheres da Angels dariam tudo para me ver pedindo um pouco mais de tempo com elas, enquanto a Samira insiste em me esnobar, e o pior... Eu gosto disso! E estou cada vez mais atraído por esse jeito "nem te ligo", dela.

— Tudo bem, então. — Falei olhando para frente, com um sorriso no rosto que escondia a minha frustração de ser rechaçado por ela.

— Boa noite. Obrigada pelo passeio e pelo fim de semana. Foi bem legal.

— Eu que agradeço. — Respondi com o sorriso mais galanteador que eu já lancei para alguém, na esperança que ela me pedisse para ficar, mas ela simplesmente abriu a porta do carro e desceu.

Ah! Tá de brincadeira comigo!

— Espera, Samira. — Desci do carro, dei a volta nele e quando cheguei na sua frente, agarrei-a pelo pescoço e a enlacei pela cintura, apertando-a contra meu corpo e a beijando. Fiz a minha língua passear por dentro da sua boca, lenta e sedutoramente e ela retribuía meu beijo do mesmo modo. Suas mãos estavam na minha cintura e com a ponta do polegar, ela ergueu um pouco a minha camisa e passou os dedos em um carinho lento, que fez um arrepio percorrer meu corpo e me dizer que estava na hora de parar. Separei-me dela devagar e relutante, apenas para conseguir falar:

— Só para durante a semana você se lembrar do quanto é legal quando você está comigo. — Falei com a minha boca ainda bem perto da dela e os nossos lábios roçando um no outro. Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente e eu me virei, fui até o banco do motorista no meu carro e parti me sentindo completamente estranho. Estranho como nunca me senti antes de conhecer a Samira. Estranho como ela tinha me acusado de ser.

DEGUSTAÇÃO De repente meu  anjo - Série AngelsOnde histórias criam vida. Descubra agora