Capítulo 22

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Eu já estava sentada naquele banco há mais de dez minutos quando resolvi puxar o celular do bolso e mandar uma mensagem pro Dante. Eu não tinha mais a quem recorrer naquele momento. Eu já tinha tomado a minha decisão. Eu sabia o que eu deveria fazer. E mesmo que a minha decisão magoasse meu irmão ou minha mãe, era o que meu coração queria no momento.

Quando eu meti o pé pra fora da casa dos Lorenzo eu tinha decidido que precisava de um tempo pra mim, precisava de um pouco de ar para tentar conseguir digerir tudo o que tinha acontecido durante o dia. Todas àquelas descobertas e mentiras foram demais pra mim, eu precisava de um pouco de espaço, mesmo sabendo que esse tempo não iria curar as feridas do meu coração, que antes tinham sido cicatrizadas por consecutivos pontos. Depois de ver os pais, a irmã e até o meu ex namorado – que por sinal estava muito bem acompanhado – minha cabeça estava cheia de pensamentos e de dúvidas e, a casa dos meus pais era o último lugar para onde eu queria ir. Então resolvi andar por aí, sem rumo.

Depois de andar quase cinco quadras, meus pés estavam implorando por um descanso. Tive sorte de estar próxima da praça que só me bastou mais um vinte passos para atravessar a rua e sentar em um daqueles bancos de madeira que eram postos aqui para que as mães pudessem ler seus livros enquanto seus filhos brincavam no escorrega.

O relógio da igreja católica que tinha enfrente a essa praça marcavam 18 horas da tarde. O sol já estava cedendo lugar para a lua e as estrelas. Sentada nesse banco e sozinha, eu não tinha muito o que fazer há não ser olhar para todos os cantos. E em uma dessas olhadas, uma garotinha sentada há dois bancos do meu, estava com as pernas encolhidas e sua cabeça se encontrava apoiada aos joelhos, ela parecia estar chorando. Quando me levantei do meu banco para ir até ela, um homem se aproximou dela com uma bicicleta, ela levantou a sua cabecinha e, então pude ver que seu joelho estava ralado. Então voltei a me sentar no banco ao deduzir que aquele homem deveria ser o pai dela e que a garotinha só estava chorando porque caiu da bicicleta e acabou machucando o joelho. Logo me identifiquei com a cena. Meu pai também havia me ensinado a andar de bicicleta aqui nessa pracinha, e assim como a garotinha, eu também havia caído e me machucado várias e várias vezes. No meio de tantas quedas eu não desisti de aprender a andar, assim como meu pai não desistiu de me ensinar.

Mais hoje, exatamente agora, eu desisto de tentar forçar um relacionamento que visivelmente foi quebrado por mentiras e status, por causa do meu pai.

Meu celular tinha mais de quinze chamadas perdidas, a maioria eram da minha mãe e do meu irmão. Mas a única pessoa com quem eu podia falar não era nenhum deles dois.

Dante não levou mais que vinte minutos para chegar até mim.

– Desculpa pedir isso pra você! Eu não queria voltar pra minha... pra casa dos meus pais. E não tinha mais ninguém pra quem eu pudesse pedir isso. – Falei, olhando pro nada.

– Tem certeza disso? – Dante falou, chamando minha atenção para ele.

– Tenho sim. – As palavras saltaram da minha boca por um fio. – Olha, me desculpa por ter batido em você mais cedo.

– Tá tudo bem, sério. E eu que peço desculpas, por causa do piano na festa. Eu não sabia da música.

– Eu sei! A culpa é toda do meu pai. – Suspirei. – E a propósito, obrigada por trazer a mala pra mim aqui, sei que deve ter sido difícil pra você.

– Aqui! – Falou ele, com um tom forte. – Justo aqui! É muita ironia, não acha? Justo aqui onde...

– Demos nosso primeiro beijo! Eu me lembro, na verdade foi aqui que aconteceu muitas coisas boas. É onde está muitas das minhas lembranças mais felizes. – Levantei a cabeça para olhá-lo, e as lágrimas surgiam em minha face mais uma vez.

O Outono Que Mudou Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora