Samira
Eu estava acabada, mas como sempre, não deixo ninguém notar os meus sentimentos, nem mesmo meus amigos que sempre estão comigo. Então, seguro no carão e não passo meus problemas para os outros. Tentei seguir meus dias me jogando nos estudos e não deixando muito tempo para pensar no Rodrigo, nem em nada ligado a ele, mas confesso que me peguei umas duas vezes olhando para crianças na rua, tentando imaginar como seria o filho do Rodrigo. Afff
— Já chega, biscate! O "biscate" agora é carinhoso, tá. Pode nos contar o que está acontecendo com você. A.go.ra! — Igor falou cruzando os braços e foi acompanhado pela Lívia.
— Verdade. Pode contar ou você acha que ninguém nota que você está um caco?
— Eu não estou um caco. E vamos voltar a estudar.
Voltei a escrever e os dois continuaram a me olhar com os braços cruzados, do outro lado da mesa redonda, em que estávamos acomodados, estudando na biblioteca. Tentei escrever normalmente, mas os olhares que eles me lançavam não me deixava continuar. Então parei e os encarei.
— Ou você começa a falar ou o trabalho não vai sair. — Lívia disse com a sobrancelha arqueada.
— Tá! — Falei emburrada e coloquei a caneta sobre a mesa. — O término com o Rodrigo está me doendo e sei que disse a vocês que não era nada e que eu estava bem, mas eu não estou nada bem. Eu o amo tanto e está doendo. — Comecei a chorar e os dois puxaram suas cadeiras ao redor da mesa e sentaram ao meu lado, um de cada lado.
— Ôôô amiga, não fica assim. Eu sei como dói, eu passei por isso e sei exatamente o que você está sentindo, mas tudo vai se acertar. Olhe eu e o Gu, estamos bem agora.
— É mais complicado que isso.
— Como assim? — Lili perguntou.
— Fofa, tem uma mulher grávida do Rodrigo.
Os dois ficaram sem fala e percebi que os choquei.
— E ela também é uma Ariel siliconada, ruiva, piranha dos infernos. — Falei.
— Vish, segura esse ódio, amiga, mas se você precisar de alguém para te ajudar a esconder um corpo, estamos aqui. — Igor falou e eu ri, mesmo sem vontade.
— Mas de onde apareceu essazinha? — Lili perguntou.
— Rodrigo ficou com ela antes de mim e durante, quando brigamos.
— Homens. — Lívia disse revirando os olhos.
— No final sempre dá tudo certo e se ainda não deu certo é por que não chegamos ao final, fofa. — Lili me disse usando o apelido que a chamo.
— Tem razão, esse apelido é péssimo. Me senti gorda.
Nós três rimos.
— Mas a Lili tem razão, Bi, vai dar tudo certo. — Igor disse confiante, segurando minha mão.
— Bi?
— Sim, Bi. Bi de biscate. Acho que esse apelido super combina com você.
— Ridículo. — revirei os olhos, — Esse apelido consegue ser pior que fofa. — Falei rindo e dando um tapa nele e os dois riram comigo.
Fomos repreendidos pela bibliotecária que pediu silêncio e aí que rimos mais. Conversar com meus amigos pelo menos me fez sorrir.
Saímos da biblioteca, despedi-me de Igor e Lívia e jurei que ficaria bem. Fui dirigindo até em casa, pensando no Rodrigo, ouvindo Toni Braxton - How Could an Angel Break My Heart e sofrendo por tudo que poderia ser e não foi. Eu só queria poder chegar em casa ligar para ele e dizer que cheguei, ou então chamá-lo para dormir comigo essa noite e quando ele chegasse à minha porta eu o xingaria por ter aquele maldito sorriso lindo, que ele exibia sempre que me via. Droga! Uma lágrima de saudade escorreu pelo meu rosto e eu a enxuguei rapidamente. Eu iria esquecê-lo.
Virei a esquina para entrar na rua da minha casa e logo vi um carro parado em frente ao meu portão. Estacionei, olhei-me no retrovisor para ver como eu estava, (estava horrível, mas que dane!) desci do carro e avistei uma mulher: morena, bonita de uns vinte e poucos anos, encostada ao carro. Deve estar perdida.
— Olá, posso ajudar? — Perguntei com um sorriso.
— Sim. Pode. Rebeca — ela me estendeu a mão se apresentando — e sou irmã do Rodrigo.
— Oi. Muito prazer. — Falei sem jeito e pensando o que ela estava fazendo aqui. — Como sabe onde eu moro? — Perguntei.
— Ah — ela de ombros — Conheço alguém que te conhece.
Ri largamente.
— O que foi? — Ela me perguntou também sorrindo.
— Seu irmão disse exatamente essa frase quando veio aqui a primeira vez. — Ela sorriu e eu perguntei em seguida: — Quer entrar?
— Não, não quero atrapalhar, só queria falar com você rapidinho, porque tenho que ir embora logo. Sabe como é, né? Deixei o meu filho com o pai e tenho medo de chegar lá e ele ter ficado louco. E estou falando do meu filho, porque meu marido faz muitas loucuras com a criança. — Ela riu e eu acompanhei. — Bom, Samira, vim aqui conversar com você, de mulher pra mulher. Sei que você deve amar meu irmão, porque modéstia a parte, ele é lindo, e nem estou falando fisicamente, estou falando do coração mesmo. E queria te pedir para ter paciência com ele e com essa situação que ele está vivendo. Sei que não deve ser fácil aceitar, mas gostaria de dizer que nunca vi meu irmão apaixonado assim, como ele está por você e fui vê-lo hoje e ele estava um bagaço. Ele está sofrendo.
— Ai, Rebeca eu entendo que...
— Espera, — ela me interrompeu — Sei que você está magoada por ele não ter te contado e por toda situação, eu no seu lugar também estaria, mas olha, algo me diz que nesse mato tem coelho e essa Michele... Não sei... — Ela franziu os lábios como se parasse para pensar. — Sei lá, deixa pra lá... Mas enfim, você vai deixar o homem que você ama assim de bandeja para outra? Eu não deixaria. Se eu o amasse e eu soubesse que ele me ama também, eu lutaria por ele até o último suspiro e as dificuldades só serviriam para aumentar a minha vontade de lutar. Não seria qualquer uma que o tiraria de mim. Ele vai ter um filho? Sim, vai. Mas eu não deixaria que isso subtraísse nada e sim somasse na minha vida. Tudo para somar. — Ela piscou.
— É tudo tão difícil e...
— Sim, é, mas pelo o pouco que ouvi falar de você pela minha família e pelo Rodrigo, sei que você é forte e do tipo que enfrenta as dificuldades e não abre mão fácil das suas coisas para qualquer uma. Suas coisas, entendeu? — Ela perguntou e eu assenti. — Eu tenho certeza que você tem um coração enorme e sempre vai somar e nunca subtrair. Uma criança só vem para trazer amor e sei que seu coração é enorme para recebê-la e abstrair qualquer maldade que possam usar contra você.
— Sim, sempre, mas...
— Bom, Sá, agora tenho que ir, como te disse eu tenho pressa, porque se não meu filho fica doido. — ela sorriu, veio até mim e me deu um beijo no rosto. — Não me decepcione, cunhadinha. — Virou-se e foi para o lado do motorista do carro, mas antes de ir, me gritou. — Ah, e fiquei sabendo que o Rodrigo vai ficar em casa hoje. Não vai a Angels, anda muito triste por causa do término com uma certa morena e nem trabalhando ele está. Fica a dica. — Ela me soprou um beijo e foi.
Que doida! Gostei dela. Apesar de que não me deixou falar nada, mas deu seu recado. Lutar, somar, abstrair. Ok. Acho que posso fazer isso. Lutar pelo o que é meu... Meu... Ela tem razão.
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DEGUSTAÇÃO De repente meu anjo - Série Angels
Roman d'amourSinopse Dois iguais que se encontraram e depois desse encontro, se tornaram diferentes diferentes. Ele Dono de uma casa noturna, mulherengo, não se apega e só fica uma vez com cada mulher... Até conhecer a Samira. Ela Estudante de medicina, não se a...