Capítulo 28

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Rafael

Senti o chão abaixo de meus pés tremer assim que vi Beliel, milênios sem vê-lo e não o reconheço em um corpo de carne e osso. Demônios precisam conseguir uma casca para andar entre os humanos. Vejo perfeitamente seu interior totalmente negro e repleto de ódio. Por longos segundos não soube o que fazer, muito menos falar. Raphaella está totalmente confusa e não foi o que imaginei acontecer nesse momento, não estou preparado para ver a reação dela. Não agora. Só preciso consertar isso.

Olhei para Miguel que tinha seu maxilar travado e os punhos totalmente cerrados, me permitindo ver os nós de seus dedos esbranquiçados. Não podemos fazer nada aqui, tem pessoas para todo o lado, mesmo que estejamos numa mesa mais afastada. Gabriel ofegava ao meu lado, e em minha mente ele falava sobre o que fazer agora, porém não tenho essa resposta. Giulie apenas o olhava feio, ela sabe que ele não é alguém bom.

— Se família for união, respeito, e companheirismo, então somos uma. Família é nunca trair! — Miguel levantou-se e encarou-o sem esconder sua raiva. — Poderia se retirar? Queremos almoçar.

Minha audição me permite ouvir o sangue de Miguel jorrando por suas veias numa velocidade absurda.

— Eu apenas gostaria de relembrar os velhos tempos, posso me sentar com vocês? — Beliel sorriu de lado sem se intimidar.

— Não, você não pode — Gabriel se levantou aproximando-se dele.

— Rafael, o que está acontecendo? — Raphaella sussurrou segurando em meu braço.

— Calma, está tudo bem — assegurei.

— E você Rafael, não permite que eu me sente com vocês? — disse cinicamente.

— Não costumamos dividir a mesa com estranhos — cuspi as palavras. Foi impossível esconder meu repúdio por ele.

— Poxa, papai não gostaria de saber que estão se comportando tão mal e rejeitando alguém para uma refeição — disse com ironia. — E outra que não somos estranhos — piscou para mim.

Beliel não pode falar demais, não pode estragar tudo assim, ele não tem esse direito.

— Vá embora — rosnei me levantando da mesa.

— Não gosto de você, vai embora — Giulie bateu a mão na mesa. Raphaella repreendeu-a de imediato e mandou que se calasse.

Giulie não pode ser exposta a situações de raiva, ainda não sei como ela se comportará e seria um caos se ela fizesse algo sobrenatural para os olhos humanos. Está saindo do controle, não era para ser assim.

— Que pena Rafael, pois eu conheço você — sorriu de lado.

Meu corpo inteiro estava tensionado, meu sangue sendo jogado com fúria por minhas veias e aos poucos eu via o muro de mentiras que construí sendo quebrado. Beliel vai estragar tudo, ele não pode chegar assim, destilar seu veneno e achar que ficará impune. Como vou lidar com Raphaella agora?

— Oras Rafael, nos conhecemos no parque semana passada, não lembra? — arqueou as sobrancelhas.

O que ele está tentando fazer ao inventar isso? Nada disso vai me fazer desviar das inúmeras perguntas que Raphaella me fará mais tarde. Beliel é muito bom com ironias, e apenas está se divertindo com tudo.

— Eu vou pedir, educadamente, mais uma vez que se retire — Miguel falou visivelmente mais calmo. Diria que ele está se controlando ao extremo.

— É melhor sair, você sabe bem com quem está lidando — Gabriel falou calmamente. Preciso manter a sanidade também.

— Percebi que não sou bem-vindo aqui — fingiu tristeza. — Lulu está com saudades de vocês, logo teremos um reencontro digno e poderemos colocar nossa conversa em dia. E Raphaella, você é muito linda, Rafael tem muito bom gosto — ele disse malicioso olhando-a. — Sua amiga é muito linda também, em breve vou fazer uma visitinha a ela — sorriu de lado.

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