Deixei Ela Ir

4 0 0
                                    

Deixei ela ir. Deixei ela ir. Cacete, eu sou um merda. Estou parado, a chuva caí forte e abrasadora lambendo minha camiseta branca e a calça jeans. Não consigo sentir mais nada, apenas o vazio de sua partida e a culpa que devora as minhas entranhas.

Jess estava parada na minha frente agora pouco. Hoje é o dia do seu aniversário e eu havia decidido levá-la até o rio. O nosso rio. O lugar no qual eu nunca levei uma garota para ir. Nunca fui romântico com outra menina a esse ponto. Nunca me permitir gostar tanto de alguém, na real o máximo que fiz para uma garota foi comprar flores e chocolate para deixá-la suscetível a transar comigo. Jess estava usando um vestido branco com decote profundo que fazia minha calça jeans ficar apertada e os seus cabelos loiros e ondulados caíam pelas costas. Eu gosto de puxá-los, fazendo-a ficar de encontro a mim e a beijo. Um beijo doce que fica selvagem em segundos.

Ela foi a minha primeira namorada, a primeira garota que eu cheguei perto de sentir algo real. Não queria apenas tirar as suas roupas e deixá-la nua em meu quarto. Eu queria saber quais eram os seus planos para o futuro, queria saber o que ela fazia no seu tempo livre até mesmo o que ela gostava de comer as sextas feiras as noites. ''Ah, o vagabundo foi laçado'', como diz aquela música do Oriente. Eu estava quase hipnotizado por ela, escutava atento a cada palavra que ela falava sobre política, algo que nunca me interessei tanto. Quero fazê-la sorrir e estraguei tudo agora. Ela disse: eu te amo e eu respondi: Eu gosto muito de você. Ela deu uma risada como se aquilo não a afetasse e então tudo se fragmentou, explodiu. Eu não tinha obrigação de mentir pra ela, mas Jess tinha um único sonho e era o de ser verdadeiramente amada. Ela tinha sido adotada pelos tios, já que o seu pai batia nela e a mãe era viciada em crack. E ela havia me escolhido, havia escolhido o pior cara que existe para se entregar de corpo e alma. Eu. Ela era extremamente sensível em relação a isso. Ela tinha cicatrizes espalhadas pelo corpo que provinha de uma garrafa quebrada que o pai dela usou. Pensar nisso me fazia ter vontade de procurar pelo cara e matá-lo de porrada. Como alguém podia fazer isso a uma garota tão linda e carinhosa? Não tinha lógica. Os pais dela eram pessoas horríveis. Então ela me contou sobre o seu ex namorado, me falou sobre como ele havia a usado quando Jess ficou apaixonada por ele. No mundo de caos que ela vivia, ela só queria ser amada, queria ouvir palavras reais saindo da minha boca. E eu não o fiz. Porque eu não sou digno de amá-la, porque não consigo me apaixonar verdadeiramente por alguém. Não quero mentir pra ela e eu me odeio por isso.

Eu fico de joelhos na grama molhada e não tenho forças pra entrar no carro e ir atrás dela. A verdade nua e crua dói, me rasga e não é nenhum pouco bonita. Eu não a mereço. Não sou capaz de atingir suas expectativas e mesmo assim eu sinto dor por deixar ela ir. Por fazê-la sofrer tanto. Logo no dia do seu aniversário, um dia que ela escolheu se desligar do celular, das redes sociais, dos tios e dos amigos pra passar comigo. Só eu e ela. E a chuva não para de cair enquanto me desfaleço em meus próprios pensamentos. Deixei ela ir e dessa vez ela nunca irá voltar.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Oct 25, 2017 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Deixei Ela IrWhere stories live. Discover now