Eram aproximadamente nove horas da noite e, naquelas ruas do bairro Boa Vista, Amanda de Castro Silva descia do ônibus em que viera de sua faculdade. A rua estava muito escura pois a lâmpada do único poste que iluminava aquele logradouro estava com defeito. Estava temerosa de que algo lhe fosse acontecer, embora namorasse o Homem Justiça, sabia que ele não era o Deus onipresente que tanto temia e que, decerto, estava com ela ali naquele momento.
Em uma moita que havia na margem daquela rua, Amanda ouviu um barulho. Temeu. Suou frio.
AMANDA: Ai, meu Deus... me ajuda...
Seu medo se concretizou: um rapaz saiu daquele matagal e a abordou com um facão em punho, o qual, rapida e precisamente, foi por ele colocado na jugular de Amanda. Como estivesse entorpecido pelas drogas que injerira há pouco, não conseguiu controlar sua força e a lâmina fez um pequeno talho na pele de Amanda, que chorou:
AMANDA: Ai... me larga... o que você quer?! O que você quer?
BANDIDO: Quero tudo! Passa tudo.... bora! Perdeu...
AMANDA: Pegue o que quiser.... mas não... me machuque...
BANDIDO: Pode ser que eu possa querer mais do que tu tem... - passou sua mão pela barriga de Amanda.
AMANDA: Meu Deus, me ajuda!
No entanto, o meliante perdeu novamente o controle da força com a qual segurava a sua arma branca e o metal rasgou a veia jugular de Amanda, que não resistiu por muito tempo e morreu, aparentemente. O bandido olhou para o corpo extirado no chão, deu um sorriso, tomou para si os pertences de Amanda e se foi. Estava tão drogado que não estranhou o fato de aquele ferimento mortal não ter feito o sangue daquela pobre jovem jorrar, mas antes, estancou num repente.
Na verdade aquele facão tinha sido imergido em um galão de substância Força Mil, a qual estava sendo contrabandeada no mercado negro. Apesar dos esforços do governo, não se estava conseguindo conter o descaminho daquela substância. Os bandidos estavam fazendo grandes fortunas com a substancia. Alem disso, ela era usada para banhar armas e projéteis, a fim de fazer com que os metais atravessassem qualquer material sem esforço e sem se deformar, o que era excelente para assaltos a blindados, por exemplo.
Visto que o assassino de Amanda estivesse muito fora de si, enquanto estava na sua comunidade, apanhou o facão que estava imergido no balde e que seria usado por um grupo para assaltar um banco no dia seguinte.
Amanda estava viva e a Força Mil já estava fazendo o efeito. De repente, um maço daquela moita começou a perder a cor e murchou até se desintegrar. Algo semelhante ocorreu com algumas pedras e lixos que estavam próximo à garota, isto é, perderam a cor e foram-se trincando até sumirem. Todos os ferimentos de Amanda se curavam a medida que os fatos narrados se sucediam. Amanda estava, de certa forma, sem controle, sugando toda a energia dos átomos das coisas que a cercava até que eles estancavam a sua movimentação e perdiam a energia que os mantinha unidos, o que culminava na sua desintegração. Amanda abriu seus olhos. Estava desorientada e não conseguia se lembrar do que lhe acontecera. Levantou-se e procurou por suas coisas, não as encontrando. Paulatinamente começou a recordar e se apavorou: levou a mão no pescoço e estava ileso.
AMANDA: "Ué?! Como pode?! Eu deveria estar morta! Ah... acho que pensei que ele tinha me machucado... devo ter desmaiado por causa do susto... melhor ir para casa... pior que ele me levou tudo.. fazer o quê?!" - pensou.
Ao chegar em sua casa, encontrou sua mãe e seu pai preocupados com a sua demora. Sua mãe lhe perguntou assustada:
ELISA: Ué, que que houve? Cade suas coisas?!
AMANDA: Fui assaltada...
JOSÉ: Assaltada? Que isso?!
ELISA: Te machucaram, minha?!
AMANDA: Não, mãe... graças a Deus não... - levou a mão no pescoço, o que fez sua mãe lhe questionar:
ELISA: Filha, foi aí que te machucaram?! Deixa eu ver... mas num tem nada aí... AMANDA: "Nada?! Não eh possível! Eu senti a lamina cortando meu pescoço...." - pensou.
JOSE: Como que ele te abordou?
AMANDA: Ahn... quê?!
ELISA: Filha, como que ele te assaltou? Coitada... deve estar nervosa por causa do assalto...
AMANDA: Ah... eu desci do ônibus e estava escuro... sei lá... o ladrão saiu de uma moita com uma faca desse tamanho - disse sinalizando o tamanho com as mãos - e colocou ela no meu pescoço...
Amanda pensou em dizer que o bandido a tinha ferido mortalmente, no entanto, achou por bem não entrar em detalhes para não preocupar seus pais e não estender o interrogatório, pois estava, sobretudo, perplexa com o fato de estar estranhamente bem.
ELISA: Minha filha... mas ele te machucou?! Acho que, graças a Deus, não né?
JOSÉ: Vamos na delegacia fazer o boletim de ocorrência...
AMANDA: Não precisa... minha identidae está aqui... - retirou-a do bolso - ...viu?! Ele só queria dinheiro... deixa eu subir... estou cansada... - na verdade não estava.
ELISA: Ah, minha filha... é por isso que fico preocupada com você.. andando na rua a uma hora dessas... Olha o que aconteceu com você... e se fosse um tarado?!
JOSÉ: Deixa, Elisa, deixa! Deixa ela descansar e tentar se recuperar desse trauma...
Amanda, então, subiu para o seu quarto. Assentou-se em sua cama, pegou o alicate de unha e foi retirar uma cutícula que a estava incomodando desde quando estava na faculdade. Para sua surpresa, a cutícula havia sumido. Com o alicate em mãos, sem querer, em virtude de estar muito assustada com os fatos, furou o anelar esquerdo. O sangue rapidamente começou s escorrer, porém, os átomos de ferro que compunham o cabo do alicate tiveram suas energias canalizadas involuntariamente por Amanda para o ferimento dela. Este se fechava a medida que a energia lhe perpassava. Ficou em um misto de contentamento e espanto.
AMANDA: Caramba.... que que isso? Como pode?! Será que... não... não é possível.... - deitou-se, pois, e, com muita dificuldade, dormiu.
No dia seguinte, como sempre, se arrumou, tomou seu café e foi para o estágio, a fim de solicitar uma segunda via de seu crachá, que tinha sido levado pelo marginal. Ao chegar no Rio de Janeiro, saltou do ônibus e tomou o metrô para Botafogo, onde ficava a sede brasileira da Computer Master. Enquanto estava no trem, começou a devanear sobre o que lhe estava acontecendo. Ao mesmo tempo que achava legal a idéia de possivelmente ter poderes, odiava-a veementemente.
Em determinada estação, uma moça muito bem vestida e bonita entrou no metrô e assentou-se ao lado de Amanda. Usava um lenço azul na cabeça e um óculos escuro. Era a Cristiane, aluna do doutor Raphael, a qual fora jogada na fenda temporal da SALA pelo Coveiro.
Um dormente do trilho do metrô, em determinada altura do trajeto, se soltara. O centro de controle tentou avisar o maquinista, mas o veículo estava tão rápido que não poderia ser parado a tempo. Mesmo assim, tentou-se frear a composição, dentro da qual as pessoas caíam uma por cima das outras. Cristiane caiu por cima de Amanda, que, por sua vez, foi arremessada ao chão. O metrô começou a descarrilhar. Amanda se assustou e algo surpreendente aconteceu. Ela mesma não viu, bem como ninguém, pois algumas das pessoas estavam desmaiadas, outras atônitas com a proximidade da morte. No entanto, Cristiane viu quando as mãos de Amanda começaram a cintilar, da mesma forma que a lataria de todo o trem. Ela estava neutralizando toda energia de movimentação do metrô, o qual estava parando mais rápido. Toda energia estava sendo sugada por Amanda, inclusive as sonoras, por isso, quase não se ouvia o barulho dos metais batendo um contra o outro. Os vagões que estavam descarrilhando voltaram a posição normal, pois toda a sua energia de rotação foi absorvida.
Cristiane esboçou um sorriso e ajudou Amanda a se levantar, porém ela estava tão fortalecida que não precisou de ajuda, pois toda energia fora canalizada para o seu corpo. Sua saúde estava perfeita, apesar de todo impacto que recebera durante os bruscos balanços dos vagões. Cristiane tocou-lhe o ombro e lhe inquiriu:
CRISTIANE: Garota, você está bem?!
AMANDA: Ahn?! Ah, sim estou.... estou sim... não estou entendendo... era pra eu estar....
CRISTIANE: Machucada!!! Mas você está melhor do que eu... fique tranquila, garota...
AMANDA: Quem é você?!
CRISTIANE: Sou Cristiane... - estendeu a mão para Amanda - ...posso te ajudar a controlar seus poderes...
AMANDA: Poderes? Não... como assim?
CRISTIANE: Você evitou uma catástrofe... de alguma forma você parou o metrô...
AMANDA: Ahn?! Parei?! Como?! Nem sei o que aconteceu..
CRISTIANE: Vem comigo.... vamos sair daqui...
AMANDA: Não... nem te conheço...
CRISTIANE: Se você não vier comigo, você vai se machucar e machucar outras pessoas... posso te ensinar a controlá-los... sou aluna do professor Raphael, criador da SALA, que é aonde o Homem Justiça tem o seu esconderijo... no tempo e no espaço...
AMANDA: Sério?! Não acredito... caramba... se você é isso mesmo... o que está acontecendo comigo?!
CRISTIANE: Vem comigo e vou te mostrar...
Amanda seguiu-a e saiu do metrô. Os bombeiros estavam chegando e um deles perguntou-lhes se estavam bem, ao que as duas responderam que sim.
CRISTIANE: Sargento, tem pessoas ali dentro que necessitam de mais ajuda do que nós... um milagre aconteceu e poderia ter sido muito pior...
SARGENTO BM: Humpf! Ok, senhoritas... homens, entrem lá dentro agora! Já sei... foi o Homem Justiça, não foi? Esse jovem é uma benção.... e o governo ainda está pensando em contê-lo!
CRISTIANE: Sargento, não...
UM DOS SOLDADOS: Sargento, olha aqui... - vinha trazendo no colo um bebê, cuja mãe estava sendo amparada por outros dois soldados e possuía ferimentos leves.
MÃE DO BEBÊ: Foi um milagre de Deus... o metrô começou a parar sem balançar muito... eu ia cair em cima do meu filho e matar ele...
Amanda ficou, por um breve momento, orgulhosa de si mesma, no entanto estava assustada com essa habilidade que adquirira sem saber direito como. Cristiane lhe olhou e sorriu-lhe.
CRISTIANE: Sargento, temos que ir pois estamos atrasadas... o chefe não quer saber, né...
SARGENTO BM: Ok, senhoritas! Tem certeza de que não precisam de nada?
CRISTIANE: Não... obrigada!
SARGENTO BM: Eh... estou vendo... sua amiga nem parece que estava aí dentro, olha! Está melhor do que eu...
Cristiane e Amanda saíram daquele local e entraram em um buraco que havia no túnel do metrô.
AMANDA: Que é isso? Onde estamos indo?
CRISTIANE: Me dê sua mão... confie em mim... - ao que Amanda obedeceu.
Cristiane ativou seu pico-robô. Um portal se abriu e uma nuvem cintilante as encobriu. Quando deu por si, Amanda estava num descampado, cercada por matos e árvores. Ali havia uma choupana onde Cristiane se escondia.
CRISTIANE: Bem vinda...
AMANDA: Que lugar é esse?
CRISTIANE: A pergunta mais completa, garota, é quando e onde estamos!
AMANDA: Ahn?! Como assim?!
CRISTIANE: Não posso me esconder em um lugar e época que possua o mínimo de tecnologia... senão posso ser achada.. ah... estamos em um distrito de Campos, Cardoso Moreira...
AMANDA: Distrito?! Ue... pensei que Cardoso Moreira fosse um municipio...
CRISTIANE: É sim... em 2006, acontece que estamos em 1843...
AMANDA: O quê?!!! Ai, meu Deus, socorro!
CRISTIANE: Calma, garota... vou te explicar...
AMANDA: Você tem poderes como o m... - hesitou em dizer que o Homem Justiça era seu namorado, pois prometera-lhe guardar este segredo - ...o Homem Justiça?!
CRISTIANE: Não... rsrsrsrs... na verdade isto é uma tecnologia futurista... Em 2696 existem robôs muito menores que um milímetro, da ordem de picômetros... - Amanda arregalou os olhos - ...os chamamos de pico-robôs que, através de algorítimos, se conectam aos nossos neurônios e executam o que quisermos... neste caso, o doutor Raphael programou-o com uma rotina que transfere todo nosso corpo pelo continuum espaço-tempo... ahhhhh... ele conseguiu reproduzir a mecânica de viagem temporal da SALA nestes pico-robos... bom, essa parte fica pra outra hora... na verdade, sou uma agente especial da Polícia Federal, mas de 2696, rsrsrsrs, e fazia meu doutorado sob orientação do professor Raphael...
AMANDA: Caramba! Que maneiro! Nem acredito que estou em outra época...
CRISTIANE: Vamos lá! Vamos!
AMANDA: Cristiane, é que...
CRISTIANE: Vem!
As duas caminharam até o casebre onde Cristiane residia naquele ano de 1843. Ao chegarem próximo da porta de madeira envelhecida, Cristiane falou algo como uma senha - "Aperire" - e a porta se abriu lentamente. Amanda muito se encantou com a tecnologia que havia lá dentro. Algo muito superior àquela que conhecia em 2006.
AMANDA: Que legal, Cristiane... - olhou para o lado e viu em uma tela holográfica azul algo como um algorítmo inacabado - Que linguagem é esta? Python?
CRISTIANE: Não... é uma linguagem criada por um amigo do professor Raphael... ela se chama Andrômeda...
AMANDA: Depois tu me ensina ela? Sou fissurada em programação... eu faço faculdade de análise de sistemas e estou fazendo estágio na sede brasileira da Computer Master... - Cristiane arregalou os olhos e pensou:
CRISTIANE: "Muito bom ela fazer estágio na empresa cujo dono será o principal inimigo da..."
VILMO: Tia Cristiane, você chegou!
AMANDA: Quem é esse? Seu filho?
CRISTIANE: Não... esse é o meu ajudante... Vilmo... ele é um habitante do planeta Jyh'r Raa, que resgatei em uma das minhas missões pelos tempos... longa história...
Quando Vilmo se aproximou de Amanda, ela percebeu que ele não possuía nariz. Ficou, assim, entre admirada e assustada. Vilmo lhe estendeu a mão e Amanda lhe cumprimentou.
VILMO: Oi! Tudo legalzinho com você?!
AMANDA: Oi... tudo bom... Cristiane, por que ele não tem nariz?! Alguma deficiencia?
CRISTIANE: Não, a espécie dele é assim mesmo... são muito amigáveis, dóceis e, sobretudo, aprendem numa velocidade assustadora... vivem muito também... no entanto, aparentam idade mental de crianças humanas, apesar do tamanho físico - Vilmo era um pouco maior que as duas garotas... Vilmo, diz para a tia Amanda quantos anos você tem...
VILMO: Ah... tia Cristiane... eu tenho 539 aninhos terrestres... - gesticulou com os dedos amostrando cinco, três e nove. Amanda se espantou.
AMANDA: Que legal, Vilmo! Você nem aparenta essa idade...
VILMO: Humhum... tia Cristiane disse isso pra mim uma vezinha só... tia Cristiane... posso continuar brincando de programar o algoritmozinho de sísmica terrestre com o Andrômedazinho?! - Amanda arregalou os olhos.
CRISTIANE: Claro, Vilmo... vai lá brincar que eu e tia Amanda vamos conversar...
VILMO: Eh!!! Yup!!! Programar!!! Tchau tia Amanda... foi bom conhecer vocezinha...
AMANDA: Também foi bom te conhecer, Vilmo... - retirou-se, pois, o rapazinho.
CRISTIANE: Ele tem sido como um filho para mim... ah... com tudo isto que aconteceu, não pude ter uma família...
AMANDA: Ah, Cristiane, você é nova ainda... vai encontrar um romance...
CRISTIANE: Não... meu único amor morreu... - lembrou-se de Carlos -... ademais, não posso ter filhos... o modo brusco e violento com que fui jogada naquele portal da SALA feriu meu abdômem e meu sistema reprodutor irreversívelmente... infelizmente, esse pico-robô que me faz voltar no tempo também escangalhou e não posso ir para além de 2300... na minha época, todas as formas de mutilações, fatalidades e doenças possuem cura... ah... - uma lágrima desceu de seu olho - esquece isso... vamos conversar sobre você e seus poderes...
AMANDA: Ah, Cristiane... sinto muito por tudo isto... tem uma coisa que desde quando estávamos no metrô eu queria falar com você... não quero ser treinada...
CRISTIANE: Amanda, você adquiriu uma habilidade que de alguma forma, drena qualquer tipo de energias... se você não aprender a controlar esse poder, vai causar muitos danos e machucar pessoas...
AMANDA: Mas como consegui esses poderes?
CRISTIANE: Da mesma forma que o Homem Justiça... no projeto SALA, eu desenvolvi uma substância, o Elixir 25, para dar força e inteligênica sobre-humanas a qualquer um que o injerisse... no entanto, algo deu errado com o Elixir 25: uma lagrima minha se misturou com o liquido...
AMANDA: Caramba!
CRISTIANE: Sim... Pode-se dizer que a culpa disso tudo é minha, mas tinha de acontecer pois, do contrário, seria paradoxo... Enfim, continuando... O Elixir 25 passou a reagir com metais. Quando isso acontece, ele dá poderes sobre-humanos...
AMANDA: Hum... Mas o Elixir 25 num foi confiscado pela tal SECRETO?!
CRISTIANE: Sim, mas a sua empresa conseguiu uma amostra dele e o clonou... Uma cópia bem ruim, diga-se de passagem! Aí sim, formou o que no seu tempo é chamado de Força Mil... ai, que nome tosco! - do que riram - A Computer Master tem vendido a substância no mercado negro e faz com que a midia caia de pau no governo brasileiro, pois, para a população, foi ele quem a criou...
AMANDA: Eh, eu já sabia disso...
CRISTIANE: Como?!
AMANDA: Eh... Eu já andei hackeando a Computer Master, rsrsrs - depois pensou - "Ufa, essa foi por pouco! Quase dou com a língua nos dentes!"
CRISTIANE: Hum... Pois é... Mas essa Força Mil embora seja uma cópia ruim do Elixir 25, ainda reaje com metais e, com muito pouca probabilidade, consegue criar sobre-humanos, como você! Além disso, Amanda, não há como retirá-la de você pois ela se integra às células...
AMANDA: Droga! Como foi que entrei em contato com Isso?!
CRISTIANE: Bem, de alguma forma, você deve ter se machucado com algum metal "infectado"... - fez sinal de aspas com os dedos.
AMANDA: Ah eh! Isso mesmo! Foi isso... fui assaltada ontem... quer dizer... ontem no meu tempo... senti o bandido cortar meu pescoço... pensei ter morrido, mas não... desde então, incrivelmente, me senti melhor do que nunca... muito mais disposta... - fez uma pausa - ...mas não quero ser heroína...
CRISTIANE: Garota, você não pode conviver com esses poderes sem saber controlá-los e sabendo que pode usá-los para o bem... você viu aquela mãe no trem que você parou... se você não tivesse feito aquilo, o filho dela teria morrido...
AMANDA: Então... não nasci para ter uma vida de herói de desenho animado... vivo uma vida real... e também, já tem o Homem Justiça...
CRISTIANE: Não faça isso... pense nas vidas que serão salvas com seus poderes... além disso, o Homem Justiça vai precisar de ajuda... - hesitou em revelar-lhe fatos futuros - ...ele não é onipresente... não é Deus...
AMANDA: Não... ele consegue fazer as coisas sozinho... ele é muito poderoso... não quero essa vida para mim.... também não sei se conseguiria carregar a responsabilidade de salvar pessoas... e se alguém morrer com eu tentanto salvar? Não...
CRISTIANE: Amanda, um herói realmente carrega consigo estes responsabilidades... mas entendo seu medo... no entanto, não vou te forçar a fazer o que você não quer... vou te levar para 2006 novamente... eh uma pena... se você mudar de idéia, meu celular é esse aqui... - pegou um papel, anotou seu telefone e o entregou a Amanda, que o pôs no bolso da calça - ....tu está perdendo uma oportunidade impar... não é sempre que estarei em seu tempo. Você é que sabe... dou a você uma dica para não se prejudicar com seus poderes: tente controlá-los como controla um membro do seu corpo...
AMANDA: Tah bom... não quero essa vida para mim... foi muito legal ter-te conhecido, Cristiane! Sua casa é muito legal! Amei viajar no tempo e conhecer um ser de outro planeta...
CRISTIANE: O prazer foi todo meu... Vilmo, vem despedir de Amanda... - ao que Vilmo prontamente atendeu:
VILMO: Tchauzinho, tia Amanda! Gostei muito de vocêzinha! - cumprimentou-a estendendo-lhe a mão e Amanda retribuiu o gesto sorrindo-lhe.
AMANDA: Tchauzinho, Vilmo... também gostei muito de você!!! Cristiane, tem como me deixar na Computer Master?
CRISTIANE: Claro, Amanda... - tocou o ombro de Amanda e ativou o pico-robô. Em questão de segundos estavam em um canto desocupado da Computer Máster do Brasil - ...evidentemente não posso aparecer com você em público desta forma, rsrsrsrs...
AMANDA: Tudo bem, aqui eu me acho...
CRISTIANE: Filha, se precisar, me telefona, ein?!
AMANDA: Está bom, pode deixar...
As duas se despediram e Cristiane desapareceu na nuvem temporal, voltando para seu esconderijo. Amanda dirigiu-se para sua mesa de trabalho. No caminho, bateu com a mão em uma saliência de ferro da parede e se cortou. Involuntariamente, seu corpo sugou a energia elétrica de uma caixa de interruptores em que encostara a mão. Metade do prédio sofreu uma pequena e muito rápida queda de energia. Amanda viu seu ferimento se fechar. Ignorou-o, pois, e seguiu rumo ao seu local de trabalho.
A medida que Amanda se cansava, canalizava as energias de tudo que se aproximava dela, inclusive dos colegas de trabalho, os quais sentiam-se mais cansados quando próximos a ela. Por mais que, sozinha tentasse controlar sua fome de energia, não conseguia. Pensava que o tempo iria ensiná-la a fazê-lo.
Amanda seguiu sua vida normalmente, como se nada lhe tivesse acontecido: saiu do estágio, foi para faculdade, foi para casa, comeu, estudou, comeu denovo, dormiu, acordou para recomeçar a sua rotina. Não percebia, porém, que, estava sugando energia das coisas e pessoas que dela se aproximavam, o que acontecia a medida em que seu corpo se cansava.
Em certo dia, pouco depois do assalto que lhe deu os poderes, e no qual não havia aulas em sua faculdade, resolveu voltar do Rio de Janeiro com seu namorado Luiz. Os dois se encontraram na Praça XV, onde embarcaram na barca para Niterói para depois tomar um ônibus para suas casas.
LUIZ: Hola! - brincou, falando-lhe em espanhol. Beijou-a.
AMANDA: Ah, oi, senhorito! Como foi o seu dia?
LUIZ: Ah, o de sempre... projetos, metas... af... mas foi legal... e vossa senhoria?
AMANDA: Ah... também foi bom... - pensou em contar-lhe sobre as habilidades que ganhou, mas teve medo - acho que vão me efetivar na Computer Master...
LUIZ: Como?! Tu não é formada!
AMANDA: Não... vão me botar como auxiliar de suporte... disseram que vou ganhar três mil reais, mais benefícios... o que você acha?
LUIS: Bom! Excelente! Mas e a sua faculdade?!
AMANDA: O trabalho vai me ajudar ao invés de atrapalhar... além do mais, você sabe que sou boa em informática!
LUIS: Humpf! Convencida! - deu-lhe um beijo na face. Subiram na barca e zarparam para Niterói. Conseguiram sentar juntos e continuaram dialogando - Lá no meu trabalho também... eles vão me dar um cargo de coordenação...
AMANDA: É mesmo?! Mas e... - falou-lhe baixinho ao pé do ouvido - ...como você vai fazer salvamentos?!
LUIS: Eh... eu precisava de uma ajudinha... - Amanda por um momento se arrependeu de ter recusado ser treinada por Cristiane - ... mas vou dar conta do recado... Papai do Céu é comigo... olha só... chegando em Niterói, vamos andar até lá perto do Moinho... não quero pegar filas no terminal que, como de praxe, deve tá lotado!
AMANDA: Ah, Luis... andar até lá... tah bom... ei... te amo!
LUIS: Eu também...
Desceram da barca e seguiram até o Moinho, conforme desejo de Luis. Passaram por dentro de uma área residencial do centro de Niterói. Ao chegar em uma determinada rua, observaram uns carros de polícia e um grupo de curiosos que observavam um homem - Geraldo - ameaçar uma mulher - Rebeca -, a qual estava de joelhos.
Geraldo apontava uma pistola automática para a cabeça dela e um oficial da polícia estava tentando negociar com o sujeito nervoso. A filha da mulher ameaçada - Raquel - também houvera sido refém do homem, mas este a libertara e agora era amparada pelos outros policiais. Ela estava bastante preocupada com sua mãe:
RAQUEL: Ai, meu Deus! Meu Pai... esse homem tah doido... enlouqueceu... enlouqueceu... falei pra minha mãe largar ele...
GERALDO: Eh melhor cês ir ir embora... - a mão que segurava a arma tremia.
REBECA: Geraldo, por favor, para com isso... para com isso...
GERALDO: Só vou parar quando esses polícia for embora...
NEGOCIADOR: Calma, senhor Geraldo... vamos entrar em um acordo agora... diga o que o senhor deseja...
GERALDO: Tem papo não, tem papo não! Tu nunca ouviu dizer que em briga de marido e mulé não se mete a culé... ou cês mete o pé daqui ou eu meto uma bala na cabeça dela...
Amanda e Luis se detiveram ali e ficaram assistindo aquela cena.
AMANDA: Luis, faz alguma coisa... - disse baixinho, entre os dentes.
LUIS: Aqui é complicado... todos vão descobrir que sou quem sou... vamos... vamos para um lugar escondido e me transformo...
No entanto, um dos policiais que ali estava inconsequentemente atirou contra Geraldo, mas errou o tiro. Luis, então se deteve. Geraldo se assustou e puxou o gatilho da pistola contra Rebeca. Ao percebê-lo, Luis criou o domo temporal, porém Amanda estava tão assustada com tudo aquilo que, sem perceber, tirou energia de Luís. Ele, então, não conseguiu parar o tempo dentro daquela realidade e, consequentemente, parar a bala, a qual, por sua vez, atingiu Rebeca na cabeça.
Luiz, espantado, assistiu à mulher tombar. Perguntou-se como aquilo poderia ter acontecido. Olhou para Amanda, a qual estava estática e assustada. Ela tremia muito.
Por sorte ninguém viu o que acontecera com o domo, pois estavam todos assustados pelos tiros disparados. Alguns procuravam se esconder, temendo levar uma bala perdida; outros corriam em direção oposta à Luis. Assim, aproveitando-se dessa situação, correu e entrou num beco, onde se transformou em Homem Justiça. Recriou o domo com tempo pausado e o estendeu até Geraldo, que se preparava para atirar a esmo mais uma vez. Desarmou-o e lhe deu uma cabeçada, de modo que o sequestrador desmaiou.
RAQUEL: Mamãe... não!!! - gritou desesperada, correndo até o corpo de sua mãe - Mãe!!! Meu Deus!!! - agachou-se e tentou abraçar Rebeca, mas os policiais a mantiveram afastada dela. Olhou para o Homem Justiça e bradou - Por que que tu chegou só agora? A culpa é sua! A culpa é sua!
HOMEM JUSTIÇA: Por favor, me perdoe...
RAQUEL: Vou acabar com você! Tu vai ver! Tu vai ver!
Homem Justiça se retirou dali aceleradamente e apareceu para Amanda como Luis. Amanda estava sentada no meio-fio chorando e ainda tremia muito.
LUIS: Não sei o que aconteceu comigo... Não consegui controlar o tempo no interior da redoma... não pude parar o projétil...
AMANDA: A culpa não foi sua...
LUIS: Como que é?!
AMANDA: A culpa... foi... minha...
LUIS: Sua? Não, meu amor...
AMANDA: Foi minha sim... - soluçava - eu fui assaltada um dia... desses... e o bandido... cortou meu... pescoço... a faca estava com aquela substância... Força Mil... e me deu... poderes... eu sugo as energias de tudo o que tah perto de mim... provavelmente, suguei a sua...
LUIZ: Meu Deus! Amanda! Por que não me disse isto antes?
Luiz a abraçou e tentou beijá-la, mas ela recusou. Levantou-se, limpou as lágrimas, pegou seu celular e começou a procurar o número do celular de Cristiane.
AMANDA: Tomara que você esteja aqui...
LUIS: Amanda, tu tah ligando pra quem? Se você tivesse me dito isso antes... - ela olhou de soslaio para os lados e começou a correr - Amanda! Amanda, volta aqui! - Amanda parou e levou o celular ao ouvido. Cristiane atendeu.
CRISTIANE: Amanda, o que aconteceu? Você está esbaforida...
AMANDA: Preciso... preciso de ajuda... agora...
CRISTIANE: Ok...
Cristiane ativou seu pico-robô. Viajou pelo espaço. Apareceu atrás de Amanda, pois seu celular possuía um dispositivo que lhe forneceu a posição exata de Amanda. Pôs a mão no ombro de Amanda, que lançou um olhar triste para Luís, e viajou pelo tempo, até 1843. Luis se deteve. Poucos segundos depois, sentiu uma mão segurar firme a sua.
AMANDA: Luis...
Luiz se virou e viu sua namorada trajando uma roupa azulada de metalastium, uma máscara também de cor azul e empunhando um cetro, em cuja ponta havia uma pedra cintilante envolta numa aura de igual modo azul. Não havia, por este momento, ninguém na rua. Luis chegou a conclusão de que levá-la para a SALA seria mais seguro. Segurou-a e ativou seu pico-robô. Chegaram na SALA.
AMANDA: Aquilo nunca mais vai acontecer, prometo! Prometo! - abraçou-o e o beijou com vontade.
LUIS: Amanda... o que foi aquilo? Quem era aquela mulher que te...
AMANDA: Que legal... - interrompeu Amanda, admirando a SALA - ...nunca tinha vindo aqui...
LUIS: Amanda, o que houve com você? Que roupas são estas? Hum... metalástium... como conseguiu isso? Que negócio é este na sua mão? - apontou para o cetro - Você viajou no tempo, não foi?
AMAMDA: Amado... - olhou para Luis - ...eh tudo uma longa história... mas te adianto logo: vou te ajudar a combater o mal... - Luis deu um sorriso. Ficou entre feliz e preocupado.
LUIS: SALA! Que apareça um banco! - um banco de metal, então, foi se formando atrás dos dois. Assentaram-se nele - Pronto! Conte-me essa história, senhorita! Mas, primeiro... - deu-lhe um beijo na boca e retirou-lhe a máscara - Bem melhor! - Amanda sorriu-lhe - Olha! Até essa máscara é de metalástium...
AMANDA: Então, como te disse, fui assaltada...
Cristiane e Amanda chegaram ao ano de 1843, próximo à choupana tecnológica, na qual entraram. Amanda estava muito nervosa e, vez por outra, lembrava-se do homem que atirou na cabeça da mulher, bem como de, sem querer, ter impedido Luiz de dete-lo.
CRISTIANE: Calma, garota... Vilmo, por gentileza, traga um copinho d'água para Amanda.
VILMO: Tah bonzinho... o que que aconteceu com ela, tia Cristiane?
CRISTIANE: Não sei... vai, pega lá...
Vilmo prontamente atendeu: pegou um copo e foi até uma geladeira futurística, que Cristiane comprara em 2139. Retirou uma garrafa e encheu o copo. Voltou e deu-lhe para Amanda, a qual mal conseguia leva-lo à boca.
CRISTIANE: Amanda, está tudo bem contigo? O que que aconteceu?
AMANDA: Quero... quero... me ajuda... me ajuda a me... controlar... meus poderes...
CRISTIANE: Tah bom... mas o que houve?
AMANDA: Eu... - lembrou-se da mulher levando o tiro - ...preciso de ajuda... só isso... por fav... favor...
CRISTIANE: Tah... está bem... vai descansar. Holo-cama! - surgiu uma cama holográfica sólida, na qual ela ajudou Amanda a se deitar - ...durma um pouco... você não pode iniciar seu treinamento neste estado... seu psicológico está nitidamente abalado.
AMANDA: Isso... me treine... me ajude... não quero... quero... não quero ser... ser... matar... mais... ninguém...
CRISTIANE: Olha, Amanda, não sei e nem me interessa saber o que aconteceu. Provavelmente foi algo muito ruim... - Amanda meneou afirmativamente a cabeça - ...pois é... eu te avisei que não controlar seus poderes iria ter sérias consequências... aff... durma... durma que ao amanhecer, iniciaremos teu treinamento... - Amanda tentou-se levantar, mas foi contida por Cristiane.
AMANDA: Não... não vou conseguir dormir... e se eu... machu... machucar alguém...
CRISTIANE: Vilmo! Traz o sonífero... - ao que Vilmo obedeceu e lhe trouxe um líquido desenvolvido por ela, o qual era composto de plantas de outros planetas e outros ingredientes sintetizados em seu laboratório - Toma, beba! - Amanda bebeu e logo fechou os olhos. Em seguida, foi deitada novamente na holo-cama.
CRISTIANE: Vilmo, terminou aquele algorítimo de estudo dos efeitos da Força Mil?
VILMO: Terminei sim, tia! Devo instalá-lo naquela máquina ali? - apontou para um dispositivo que se assemelhava a um aparelho de medir batimentos cardíacos.
CRISTIANE: Sim, filho... instala nela mesma!
Instalado o programa, Cristiane plugou um fio na cabeça, outros dois nos ombros, outros dois nos pés de Amanda. Começou seus estudos. Percebeu que Amanda tinha aumentado sua força e inteligência. Observou, também, uma alteração em seu cérebro, a qual permitiu descobrir as habilidades adquiridas pela jovem. Amanda podia sugar a energia de qualquer objeto num raio de dois metros, principalmente com as mãos. Além disso, da mesma forma que podia sugar podia injetar energia nas coisas, à mesma distância.
CRISTIANE: Olha, Vilmo! Nossa amiga é bem poderosa! Depois que ela aprender a usar seus poderes, vai ajudar muita gente! Imagine, por exemplo, poder apagar um incêndio de um prédio simplesmente sugando toda energia do fogo!
VILMO: Caramba, tia Cristiane! Maneirinho! Ah... mas elazinha só pode usar a drenagem de energia há dois metros de distância... já sei! Tive uma idéiazinha! Vou construir uma varinha pra elazinha canalizar seus poderes... a varinha vai ter na pontinha uma pedrinha de jihrlidério... - metal raríssimo encontrado em Jihr'rar e de que eram feitas as bolinhas de gude com que Vilmo brincava.
CRISTIANE: Ah, Vilmo! Que idéia brlhante! Que bom coração você tem! Tu daria suas bolinhas de gude para montar esses cajado?
VILMO: Claro, tia Cristiane! Gosto de Amandinha! Quero que elazinha salve muitas vidinhas!
CRISTIANE: Ah, Vilmo! Te amo tanto... - deu-lhe um beijo na testa - ...mas vamos ter que unir todas as suas bolinhas de gude para formar uma bola maior. Exatamente... o jihrlidério é usado para propagação de ondas a grandes distâncias em seu planeta! Lembro que uma pedrinha era capaz de transmitir uma comunicação a mais de duzentos kilômetros e sem repetidora! Podemos modificar sua estrutura molecular para amplificar o raio de ação dos poderes de Amanda! Gênio! - beijou-lhe denovo na buchecha, ao que ele ficou vermelho - Você é o filho que não pude ter... vai lá! Pegue as bolinhas de gude e agregue-as para fazermos o cetro!
VILMO: Sim, tia!
Vilmo retirou-se dali e seguiu até seu quarto. Apanhou suas bolas de gude, que guardava em um saquinho. As esferas eram azuladas e emtiam um brilho considerável. Pô-las, então, sobre sua bancada metálica, a qual flutuava por meio de um dispositivo de anti-gravidade. De tal bancada, ele fez surgir, com um gesto de mão, uma tijela, onde as depositou. Estava muito compenetrado, mas um barulho do lado de fora da casa o assustou. Dirijiu-se até a janela e nada viu salvo o farfalhar das folhas das árvores. Retornou ao seu trabalho. Com outro movimento de mão, ascendeu um círculo vermelho sobre a bancada, onde estava a tijela. As bolinhas começaram a derreter até virarem líquido: o círculo vermelho as aquecera até seis mil graus. Vilmo fechou a mão e a tijela o imitou, ou seja, virou uma esfera. No mesmo instante, com a outra mão, fez surgir, na mesma posição do circulo vermelho, um circulo azul, o qual resfriou aquela bola de jhirlidério a cinquenta graus negativos. Vilmo abriu sua mão e a tijela sumiu. A massa esférica de jhirlidério saiu rolando em sua direção, porém, uma seta atingiu seu pescoço e ele deu com a cabeça na bancada. A esfera caiu no chão e rolou até ficar escondida embaixo de sua cama.
Dois homens fortes - João e Marcos - trajados conforme a sua época, arrombaram a porta que dava para o lugar em que Cristiane estava estudando os poderes de Amanda. Os dois portavam rifles de anti-matéria e os apontaram para Cristiane, que se assustou.
CRISTIANE: Quem são vocês? - exclamou, sacando de forma ágil a sua pistola de bósons e mirando eles.
JOÃO: É melhor abaixar a arma, moça!
MARCOS: A sinhá não vai gostar nem um pouco disso!
CRISTIANE: De que época vocês vieram?! - ao que uma voz feminina, vindo de uma penumbra por trás dos dois capangas lhe respondeu:
DAMA VERMELHA: Ah, Cristiane! Que recepção é esta?!
CRISTIANE: Não é possível?! Dama Vermelha! Mas... como?! Você era para estar presa... em 2696!
Dama Vermelha saiu, então, da escuridão, mostrando-se para Cristiane. Trajava uma roupa vermelha de ultra-fibra - um tecido futurístico muito resistente e leve. Tinha uma cicatriz que se estendia por todo antebraço. Trazia consigo Vilmo, que estava envolto em uma roupa-robô holográfica vermelha, que era controlada através de uma conexão com a mente de Dama Vermelha e que lhe forçava andar para onde quer que ela quisesse. Cristiane se desesperou. Num golpe de agilidade, desarmou os dois homens, nocauteou-os e partiu para briga com Dama Vermelha. Durante a luta vários objetos se quebraram. Dama Vermelha prevaleceu, destroncando o ombro de Cristiane com um golpe e jogando-a no chão, após o que, pôs o pé no seu pescoço. Amanda acordou e o viu. Ficou confusa. Quando ela ia perguntar o que estava acontecendo, João lhe acertou dois tiros no peito com sua pistola semi-automática, a qual ele trazia escondida no seu tornozelo direito.
Amanda deitou de forma brusca. Ouvia um zumbido alto no ouvido. Involuntariamente, começou a sugar a energia da holo-cama, de forma gradual. Ninguém o percebeu. Os dois homens reouveram suas armas e apontaram para Vilmo.
VILMO: Tia! Me ajuda aqui, tia! - chorava.
DAMA VERMELHA: Sua tia não pode te ajudar, seu débil mental! Você - apertou ainda mais o pescoço de Cristiane - me deixou mofar naquela prisão, em Plutão! Agora vim me vingar! Vou transformar este planeta em uma colônia de xaganianos! O negócio é o seguinte... quero que você, humana, construa um portal de dobra temporal! Antes que me pergunte... se você se recusar, vou arrancar a cabeça desse seu ET de sangue verde e dar para os animais deste planeta.
CRISTIANE: Insana! Como me achou!
DAMA VERMELHA: A Terra não é o único planeta da Galáxia que conseguiu construir um dispositivo de viagem temporal, querida!
CRISTIANE: Maldita! Se vocês são tão espertos, por que não constrói você mesma?
DAMA VERMELHA: Cale-se! - com um pensamento, fez a roupa apertar Vilmo, que gritou de dor.
CRISTIANE: Vilmo!!! Não machuque o Vilmo! Não o machuque!
DAMA VERMELHA: Aí depende, cachorra! Depende de tu construir o que te ordenei! Brinque de viajar no tempo e pegue o equipamento que precisar... se vira! Tenho dito! - de modo rápido, retirou o pé de sobre o pescoço de Cristiane e lhe chutou forte na cara - Eu não sei quem é essa daí! - apontou com desdém para Amanda - João, você matou direitinho?
JOÃO: Claro, sinhá! Meti dois balaços com essa belezinha aqui! - levantou o tornozelo e alisou a sua pistola, a qual recolocara de volta após reaver seu rifle.
Amanda tinha se curado, mas, malandramente, fingiu-se de morta. Ademais o sangue que foi vertido dos ferimentos ajudava-a em sua dissimulação.
DAMA VERMELHA: Ah, policial, trouxe vários presentinhos para apimentar essa época tão primitiva da Terra! - disse apontando para as armas de seus capangas - Nós, xaganianos, nunca maltratamos nenhum da nossa própria espécie... no entanto, estou adorando chicotear escravos... disse certo, homens? O termo é "escravo" mesmo?
MARCOS: Eh, sim, sinhazinha!
DAMA VERMELHA: O recado está dado! Vamos homens! - ela se retirou e levou consigo Vilmo, forçando-o a andar.
CRISTIANE: Vilmo! - gritou. Tentou correr atrás, porém Dama Vermelha fez com que a roupa holográfica apertasse Vilmo, contra o que ele gritou.
VILMO: Arrrrg! Tah doendo!
DAMA VERMELHA: Faça o que lhe ordenei, senão eu esmago ele!
Dama Vermelho finalmente deixou a choupana e seguiu até sua fazenda. Ela entrou numa carruagem, que era guiada pelos seus capangas. Os dois cavalos que a puxavam foram modificados geneticamente, de modo que eram mais robustos, ágeis e perspicazes que o normal. A roupa holográfica obrigou Vilmo a se sentar perto de Dama Vermelha.
VILMO: Como você é má! - chorava - Como você é ruim! Quero minha tia Cristiane... buáááááááá!
DAMA VERMELHA: Cala a boca, seu alienígena maluco! Vou destruir a raça humana e depois vou destruir Jihr'rar! Vou transformar todo Universo em colônia Xaganiana! Ku'yh ghji ety Xaghjn!!! - bradou em sua língua. Significa: "Todos pela vitória de Xagan!" - E tudo depende daquela desgraçada construir meu tele-transporte temporal!
VILMO: E por que não vieram outros com você, maldosa?! Vocês não devem ser tão inteligentes assim... - levou um tabefe na face.
DAMA VERMELHA: Cala a boca! Este planeta Terra sugou toda nossa tecnologia! Construímos a máquina de dobra temporal com o que tínhamos! Só uma pessoa pôde viajar, e eu fui escolhida! Por isso tu me é útil! Cristiane vai construir uma máquina que vai me possibilitar trazer todo exército Xaganiano de 2696 pra cá! Com uma Terra primitiva como esta, vai ser molezinha destruir e conquistar! Hahahaha!
Na choupana, Cristiane correu até Amanda a fim de socorrê-la. Levantou-a, pois, e procurou pelos ferimentos, mas não os encontrara. Além de deixar um rombo na holo-cama pela energia que lhe sugara, Amanda também retirou toda energia dos elétrons dos projéteis até estes se desintegrarem e, consequentemente, sumirem. Toda essa energia foi utilizada para curar as feridas de Amanda.
CRISTIANE: Incrível!
AMANDA: Quem eram eles? Pra onde levaram o Vilmo?
CRISTIANE: Ah... aquela mulher era uma espiã do planeta Xagan... a melhor, a saber... eu liderei uma equipe de agentes e a prendemos... ela sozinha matou todos, exceto eu e Carlos... foi osso... mandamos ela para o Presídio Marcial de Plutão, para onde enviamos presos por crimes de guerra.
AMANDA: Vamos pegar o Vilmo de volta, Cristiane! Vou te ajudar!
CRISTIANE: Humpf! Você não sabe nem controlar seus poderes ainda... você se curou involuntariamente: olha o estado da holo-cama...
AMANDA: Ih, caramba! Desculpa!
CRISTIANE: Tudo bem! O treinamento para que você domine ao menos seus poderes levará meses! Não sei se temos esses tempo. Cada dia que passa, é um dia que Dama Vermelha está aprisonando meu Vilmo naquela roupa holográfica. Além disso, ela pode fazer um estrago no curso temporal e mudar toda história deste país, só nesse meio tempo em que ela ficar entre nós! Viu as armas deles? São do futuro! Imagine se outras pessoas descobrem e os vê utilizando?! - Amanda pôs a mão no ombro de Cristiane e falou:
AMANDA: A solução está aí! - apontou-lhe a cabeça - Vamos viajar para outra época e você me treina. Voltamos para um segundo depois de agora!
CRISTIANE: Hum... não parece má idéia... mas precisava de muitos itens daqui para o seu treinamento... num sei...
AMANDA: Vai dar tudo certo! Tenha fé!
CRISTIANE: Fé... um policial tem que ter muita fé! Ok, vamos lá! Conheço uma época e lugar que jamais vão nos encontrar!
AMANDA: É? Onde?
CRISTIANE: Não podemos ir para o futuro desta linha temporal, porque decerto estará muito modificado por causa de Dama Vermelha... vamos voltar mais ainda... vamos para 1820...
AMANDA: Nossa...
CRISTIANE: O lugar é uma ilha no meio do oceano pacífico... totalmente inabitada e com espaço suficiente para treinarmos...
AMANDA: Como sabe que é inabitada?
CRISTIAME: Às vezes eu vou lá para meditar... e, ademais, tem um vulcão muito ativo lá...
AMANDA: Ai! Caramba!
CRISTIANE: Será ótimo para treinar sua drenagem de energia: tu pode treinar sugando toda energia termodinâmica das lavas!
AMANDA: Está bem! - uma lágrima escorreu do olho de Cristiane - Cristiane, vou te ajudar a resgatar o Vilmo de volta... - lembrou-se de Rebeca levando o tiro - ...talvez isso me ajude a compensar um tiquinho de nada o que eu fiz...
CRISTIANE: Ah... Amanda... ele é o filho que não tive, como te disse... me apeguei a ele... - fez uma pausa. Enxugou as lágrimas - Quer me dizer agora o que houve na sua época que te fez mudar de idéia?
AMANDA: Hum, hum! - meneou a cabeça negativamente. Afinal, se lhe contasse, Cristiane saberia que o Homem Justiça era namorado de Amanda. Consequentemente, saberia a sua identidade secreta sobre a qual jurara guardar segredo.
CRISTIANE: Bom, seja o que for, estamos juntas! Não precisa me contar... vamos! Vou pegar alguns apetrechos...
Cristiane levou consigo vários disposivos portáteis que lhe iria ajudar a treinar Amanda. Segurou-a no braço e viajaram no tempo e no espaço para 1820, para a ilha deserta que ficava no centro do pacífico.
Era um local totalmente inabitado. O vulcão, ao norte, cobria praticamente toda área da ilhota. Fumegava muito. Muitas árvores tropicais ajudavam a formar uma sombra praticamente o dia todo. O calor era um tanto quanto insuportável e, por conseguinte, Cristiane pegou um de seus dispositivos e o mesmo criou duas pastilhas, uma das quais ela tomou. A outra, ofereceu a Amanda.
AMANDA: Que lugar lindo! É, se não fosse pelo vulcão... o que é isso?
CRISTIANE: Isso é uma pastilha que desenvolvi. Fará você sentir muito menos calor... é como se fosse um "ar condicionado" comestívell... - Amanda o pegou, mas, antes que ela o levasse a boca, desintegrara-o com a mão - Que isso?!
AMANDA: Desculpa... acho que suguei a energia da pastilha, rsrsrsrsrs... mas eu não estou sentindo calor... o tempo está muito agradável..
CRISTIANE: Humpf! Não é isso... tu tah é sugando a energia das moléculas do ar para te manter confortável... toma... - deu-lhe o aparelho criador das pastilhas "refrescantes".
AMANDA: Não, Cristiane... é melhor não... vai que eu destruo ele...
CRISTIANE: Você não quer aprender a controlar seus poderes? Então, toma isso! - segurou a mão de Amanda e forçou-a a segurar o disposivo. Amanda não conseguia se desvencilhar de Cristiane - O treinamento começou! Não vou te dar moleza, garota!! - deu-lhe uma chave de braço, que fez Amanda gritar de dor - Reaja! Anda, reaja! Tu é bem mais forte do que eu!!!
AMANDA: Pera aí, Cristiane!
Cristiane apertou ainda mais a chave de braço. De repente, sentiu o ar ficar gelado. Amanda começou a reagir. Deixou o dispositvo cair no chão, desvencilhou-se de Cristiane e a empurrou, de modo que a policial foi parar a dez metros de distância.
AMANDA: Ai, meu Deus! Te machuquei, Cristiane?
CRISTIANE: Machucar?! Tu deve tah de sacanagem comigo! Nunca! Já lutei contra contra seres humanos mais fortes que você! Não se preocupe comigo! Dê um soco nessa árvore! - ao que Amanda obedeceu e, de modo desengonçado, desferiu o golpe e a árvore se partiu. A mão dela ficou ferida, mas se curou ao sugar a energia do calor local. Impressionou-se ante seu feito.
AMANDA: Nossa!!!
CRISTIANE: Viu?! Você tem que treinar! Vou te dar umas noções de defesa pessoal. Afinal, tu não pode ficar dependendo só de seus poderes. Agora, pegue o dispositivo do chão e concentre-se o máximo possível... - Amanda o pegou - ...não deixe o poder te controlar! - Amanda não estava conseguindo e uma rachadura pequena apareceu na parte superior do aparelho. Cristiane se aproximou e o viu.
CRISTIANE: Amanda, não se esqueça do que te motivou a estar aqui... - Amanda lembrou-se de Luiz caido no chão, olhando o projétil atravessar o crânio de Rebeca. A rachadura aumentou um pouco - ...anda, Amanda, concentre-se! Tu pode não precisar das pastilhas, mas eu sim! Concentre-se!
Cerca de dois minutos se passaram e o aparelho ficou intacto. Amanda sorriu. Estava conseguindo se controlar. Porém, Cristiane, em um golpe de agilidade, mandou um soco direto na altura da boca de Amanda, a qual se desequilibrou um pouco mas não caiu. Os lábios se cortaram nos dentes e o sangue escorria.
AMANDA: Au! Tah doendo! Cristiane... caramba...
CRISTIANE: Tu vai se curar! Mas não deixe o seu corpo tirar energia do meu invento, sem o qual eu não vou aguentar este calor!!! - a rachadura do aparelho aumentou e outra começou a aparecer - Canalize a drenagem de energia para o ar! Vamos garota! Sem este aparelho eu posso morrer, ainda mais se aquele vulcão resolver entrar em erupção! Se eu morrer, tu vai ficar aqui para sempre...
AMANDA: Cristiane... não estou conseguindo... vou soltar o aparelho!
CRISTIANE: Se tu me soltar esta droga, vou te cobrir de pancada!!! Deixa de ser frouxa e controle o seu poder! Canalize-o para as moléculas do ar! Elas vão saciar perfeitamente sua sede de energia! Elas possuem calor! Tu não precisa da energia dos elétrons do meu invento... - que já apresentava mais duas rachaduras e estava começando a quebrar alguns componentes acessórios.
Amanda estava em uma luta muito grande contra si mesma, tal qual nunca teve outrora. Resolveu com todas as forças reagir. Ademais, foi por causa da sua falta de controle que causara a morte daquela mulher. As partículas do ar que a envolviam começaram a perder energia e se resfriaram. Seu ferimento bucal foi-se fechando. Levou a mão até a boca e limpou o sangue, o qual sumia rapidamente, pois também dele sugava energia.
O aparelho estava ainda funcionando perfeitamente, conforme verificação de Cristiane.
CRISTIANE: Meu instrutor dizia que todo homem sob pressão... - fez o dispositivo criar uma pastilha "refrescante" - ...explode! Perfeito!
AMANDA: Foi difícil, hein! Caramba...
CRISTIANE: Eis o seu exercício... - desferiu vários golpes contra Amanda, ferindo-a demais.
AMANDA: Ai! Au! Argggg! Pera aí...
CRISTIANE: Corra para as árvores, mas não retire energia delas, e sim do ar... do ar, ouviu?!!! - ao que Amanda obedeceu e correu, cambalendo de tonta, para os carvalhos. Encostou as mãos neles e começaram a trincar - Tira energia do ar, tu é surda?!
Mais uma vez, Amanda prevaleceu. Seus ferimentos se fecharam, mas os troncos ficaram um pouco danificados. Cristiane lhe infligiu mais golpes e Amanda correu para encostar sua pele em outros materiais, como pedras, troncos, chão, água de uma poça que havia ali. Cristiane a machucava e sua aluna aprendia a controlar seus poderes com cada vez mas perfeição. Ficaram o dia todo praticando, até que um temporal sobreveio àquela ilhota.
Cristiane, então, retirou outro dispositivo e criou uma domo holográfico sólido, que as guarneceu da chuva. Amanda, aproveitando a desconcentração de Cristiane, tentou lhe desferir um soco, mas Cristiane se desviou e a segurou para que não caísse.
AMANDA: Não é justo! Eu apanhei o dia todo hoje!
CRISTIANE: Claro, tu tem que fazer um pacto com a dor, chegar a um acordo com ela! E, ainda, tu jamais vai conseguir me acertar! Você não sabe nem fechar a mão! Eu ainda vou te ensinar isso tudo... aí, talvez, talvez tu consiga me machucar! Como disse, não sou uma sobre-humana como tu, não tenho a super-força que tu tem, mas já lutei contra criaturas alienígenas com a mesma força em missões da Polícia Federal... mas acho que tu vai aprender rápido... essa Força Mil também melhora a capacidade de aprendizado...
AMANDA: Que bom... pois estou doida para pegar Dama Vermelha o quanto antes!
CRISTIANE: Fico muito feliz, Amanda, que tenha tomado as minhas dores, no entanto, lembre-se que Dama Vermelha é muito poderosa e astuta! Tu tem que estar devidamente treinada! Muito bem treinada! Temos todo o tempo do mundo aqui nesta época, pois, quando voltarmos, será um segundo após a nossa vinda pra cá...
AMANDA: Está bem, então! Fico feliz de ter aprendido a me controlar... obrigado, Cristiane! - fez uma pausa. Uma lágrima lhe escorreu - Eu deveria ter te ouvido antes... não teria acontecido...
CRISTIANE: Amanda, tudo bem, filha, tudo bem! Relaxe! Durma... tu deve tah cansada pra caramba! Amanhã continuamos o treinamento... durma...
Cristiane, assim, no período em que esteve com Amanda naquela época e naquela ilha, passou-lhe vários ensinamentos. Usou uma máquina portátil para criar hologramas humanóides sólidos para que a sua aluna treinasse os golpes de lutas que lhe eram ensinados e rapidamente aprendidos. Vez por outra, Cristiane e Amanda se enfrentavam, como uma forma de avaliação. Cristiane sempre prevalecia, mesmo com sua aluna às vezes usando seus poderes, o que era firmemente reprovado, como em uma vez em que Amanda tentou sugar-lhe a força, mas foi derrubada ao chão, com o joelho de Cristiane no pescoço.
CRISTIANE: Já te falei várias vezes... não use seus poderes! Não use seus poderes! Tu não pode ficar se escondendo atrás deles... denovo! Levanta! - deu-lhe um soco - Levanta!
Cristiane era muito rígida durante o treinamento. Ao menor erro, agredia Amanda, dando-lhe golpes tais que se não fosse a capacidade de ela se regenar sugando energia, ficaria cheia de cicatrizes.
Quando Cristiane julgou que Amanda estava boa, passou para outra etapa do treinamento: antes, quando lhe ensinava a se defender de inimigos armados, lutava com Amanda usando uma vara pau. Agora, usaria uma espada holográfica tão afiada que com o menor esforço, cortou uma rocha, a fim de demonstrar seu fio e pôr medo em Amanda. Esta, como não desistia, partiu para cima de sua oponente, que lhe rasgou profundamente o braço. Rapidamente, então, sugou a energia do calor do ar e se curou. Cristiane continuou desferindo-lhe golpes como se Amanda fosse sua pior inimiga. Ela se desviava de todos eles, e, dado momento, Cristiane a derrubou no chão e ameaçou transpassar-lhe a espada, no entanto, evidentemente não o fez.
CRISTIANE: Humpf! Ainda tem muito que aprender! Vem, levanta logo daí! - estendeu-lhe a mão e a ajudou a se levantar. Quando estava de pé, Cristiane se virou e, aproveitando-se da distração de Amanda, velozmente golpeou-a no rosto e lançou sua espada sobre ela. Entretanto, Amanda foi mais perspicaz e, desviando-se, deu-lhe um soco na testa, desarmou-a, jogando a espada pra longe, passou-lhe uma rasteira, jogou-a no chão, pôs-lhe o joelho no pescoço.
CRISTIANE: Isso... até que enfim! Pensei que nunca ia aprender!
AMANDA: Não sou de desistir fácil, como tu pode ver! Acha que já dá para enfrentarmos Dama Vermelha?
CRISTIANE: Hahahahaha! Coitada! Porque me derrubou uma vez acha que já é a tal! Mas tu está indo bem... vou continuar te ensinando a lutar contra armas brancas e depois...
Depois de um mês ensinando Amanda a se defender de vários tipos de armas brancas, Cristiane passou a usar armas de fogo. Dessa vez, aproveitou os poderes de Amanda para ensinar-lhe a retirar completamente a energia dos projéteis disparados.
AMANDA: Hum... se eu soubesse fazer isso naquele dia que sem querer impedi Luiz de ajudar aquela mulher, ela não teria morrido... - murmurou consigo.
Cristiane disparou uma metralhadora contra um alvo e Amanda retirou a energia cinética e termodinâmica de todos os projéteis, os quais caíram no chão antes de atingir o alvo.
CRISTIANE: Que que tu tah murmurando aí? - apontou a arma para sua aluna e disparou, mas Amanda da mesma forma retirou as energias dos projéteis e se afastou um pouco de Cristiane.
AMANDA: Nada, não! - respondeu de forma normal, apesar de ter sido feita de alvo por Cristiane. Dados os quatro meses que estava treinando, já encarava tudo aquilo com normalidade.
CRISTIANE: Lembro que tu não está fazendo mais do que a sua obrigação! Agora vamos para a última parte do treinamento... - Cristiane pegou seu aparelho que criava hologramas e o programou para gerar um rifle de anti-matéria. Amanda se espantou - ...não sei se tu reparou, mas os capangas da Dama Vermelha usavam rifles como esse. Tu vai ter que sugar a energia da arma, pois a velocidade do disparo é rápido como a luz...
AMANDA: Dispara essa arma aí!
Cristiane apontou a arma para uma rocha e disparou, ao que esta desapareceu. Amanda por estar a pouco mais de dois metros de Cristiane, não conseguiu sugar a energia do rifle.
AMANDA: Ué?! Eu não consegui...
CRISTIANE: Decerto que não... tu só consegue usar seu poder num raio de dois metros...
AMANDA: Ih! E agora?! Como vamos lidar com eles?
CRISTIANE: Na noite em que Vilmo foi levado, ele estava em seu quarto desenvolvendo uma espécie de cetro, que amplificaria consideravelmente seus poderes... eh... vou ter que criá-lo sozinha... - Amanda se aproximou e pôs-lhe a mão no ombro.
AMANDA: Calma, Cristiane! Eu vou te ajudar a salvar o Vilmo e deter essa tal de Dama Vermelha... vamos... vamos denovo... dispare a arma...
Cristiane apertou o gatilho do rifle e ele não disparou, pois Amanda lhe sugou a energia.
CRISTIANE: Muito bem, garota! Muito que bem! Vamos repetir até você fixar essa nova habilidade na sua cabecinha... depois vamos fazer um último teste e ir embora... aquele vulcão acho que vai resolver entrar em erupção hoje... vamos...
AMANDA: Ih, tem nada não... se ele entrar em erupção eu te salvo... - Cristiane e Amanda riram-se. Fecharam a cara. Continuaram o treinamento.
O lugar estava ficando escuro, pois as nuvens de fumaça do vulcão tomavam conta dos céus, tapando, por conseguinte, o sol. Cristiane e Amanda lutavam em meio àquele breu. Num repente, o vulcão entrou em erupção. As lavas desciam rapidamente.
CRISTIANE: Caramba, garota! Vamos ter que ir embora...
AMANDA: Nossa! Nunca tinha visto isso! Ainda bem que não vamos ficar aqui...
CRISTIANE: Oh, oh! Tem alguma coisa errada... não estou conseguindo viajar no tempo... - Amanda arregalou os olhos assustada.
AMANDA: Que?! Como assim?!:
CRISTIANE: É a interferência... o pico-robô no meu cérebro está sofrendo uma interferência! Amanda, preciso que tu fique perto de mim e retire toda energia eletromagnética a minha volta...
Amanda, pois, foi para perto de Cristiane e fez o que ela pedia. O calor aumentava mais e mais. Amanda podia perfeitamente suportar, mas Cristiane estava desfalecendo. A lava descia do vulcão e lambia tudo que estava na sua frente. Aproximava-se cada vez mais das duas.
CRISTIANE: Não... estou... aguen... aguentando...
AMANDA: Calma... estou tentando drenar a energia...
Como a lava estivesse perto, Amanda estendeu a mão o mais possível e puxou a calor da lava, a qual se secava. No entanto, era muita energia. Amanda, numa atitude desesperada, agarrou Cristiane, a qual já estava desmaiada, e, usando a sobrecarga de energia, saltou o mais alto possível, em direção ao mar. Surpreendeu-se. Estava a muitos metros do chão e voava muito veloz.
Enquanto se aproximava da água, como estivesse muito rápida, teve uma idéia. Retirou-lhe a própria energia cinética e parte converteu em força, parte lançou no ar, criando, assim, resistência. Colidiram contra a água muito devagar. Do ponto onde estavam, olharam a ilha ser engolida pela lava. A temperatura agradável da água ajudou a Cristiane se recuperar.
CRISTIANE: Hum... vejo que finalmente aprendeu a controlar seus poderes... parabéns... depois de uma avaliação dessa, esta... aprovada...
AMANDA: Jamais teria conseguido sem sua ajuda. Vamos voltar.
CRISTIANE: Claro... - ativou seu pico-robô e voltaram para 1843, segundos após terem ido para 1820.