A Cicatriz

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A noite nas ruas costumam ser muito perigosas e Reginaldo e Michele sabiam bem disso por experiência própria. O garoto trazia na pele as marcas da violência: uma cicatriz enorme que percorria quase o cumprimento de seu braço direito inteiro. Ele à havia "ganhado" em uma briga que entrara para proteger Michele de outro mendigo que queria abusá-la, em um terreno baldio, na noite em que se conheceram.

Na data do acontecido, Reginaldo estava de passagem pela área, quando avista a cena de um homem embriagado, com uma garrafa na mão, encurralando uma garota aparentemente da mesma idade que ele contra a parede. Dizia palavras sujas e ofensivas para ela, com aquele notável hálito podre de cachaça, que até então ele repudiava. A garota lutava para escapar.

Reginaldo nunca à havia visto antes, mas vendo-a naquela situação, se sente no dever de ajudar.
Michele tinha apenas treze anos na época. Um a menos que ele. Seu corpo passava pela recente transformação da puberdade e já começava atrair olhares nojentos de homens mal intencionados. Era apenas ela contra a perversidade do mundo, desde pequena. Sempre fora assim. E naquela noite, cria ela, não seria diferente.

Até que, para sua surpresa, um garoto louco aparece e compra sua briga para defendê-la. Trocando murros e empurrões com o mendigo bêbado, Reginaldo recebe um corte horrível no braço, que vinha desde o começo do bíceps até o pulso, causada pela garrafa de vidro quebrada, manejada por seu oponente. O covarde foge logo após desferir o golpe. A garota corre para junto dele, que estava sentado no chão, com o braço cortado suspenso, para não pingar em suas roupas velhas. O sangue escorria fluídamente do ferimento enorme. Uma poça se fazia no chão de terra. Ela se agacha ao seu lado, o braço sobre os ombros dele, apoiando-o.

- Você está bem?- perguntam em uníssono um para o outro.

- Eu que te pergunto.- diz ela.- Você é louco? Por quê entrou nessa por mim?

- Não gosto de ver coisas assim acontecerem. Pelo menos não na minha frente.- ele tinha uma expressão carregada de dor, que transparecia em sua voz também.

- Mas, cara, olha o estado que você está agora! Ele quase arrancou seu braço!-exclama ela.

- Ah não exagera. Não é pra tanto.

- Como não?! Olha só o estado do seu braço, você ta perdendo muito sangue! Me diz onde você mora, vou correndo pedir ajuda!

- Onde eu moro?- ele abre um sorriso sarcástico- essa é minha casa. As ruas.

- Ah, que ótimo! Mais um sem teto. Seja bem bem vindo a turma!

- Ei, a luz daquele poste...- ele olha em direção ao alto.- ela está... apagando?

Ela olha para cima para checar.

- Não.- responde- Está acesa. Por quê?

- Ah... então sou eu que estou... desmaiando, mesmo.- seus olhos pesados fecham-se, ele desmaia, fazendo sua cabeça pender sobre o ombro da garota.

- Meu Deus e agora?! O que eu faço?- pergunta-se a menina, olhando em todas as direções, perdida.

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