Fim de tarde. Sala sob penumbra.
Os lances de luz da tevê lambem as paredes e as colorem em ritmo alternado.
Papéis, embalagens de chips, de biscoitos, roupas espalhadas, constroem a atmosfera caótica da casa fechada e fedida.
Ela espelha o smartphone na tv, ligado no aplicativo do youporn.
Quase uma hora de excitação solitária, mais uma massagem no clitóris, os dedos a mil, os músculos enrijecem, quase lá...
Orgasmo.
Perde o controle, sente a eletricidade correr pelo corpo. Relaxa.
Deixa-se largar no encosto da poltrona, se contorce, chupa os dedos, o líquido escorre por entre as pernas. O coração agride as costelas em ritmo frenético. A respiração furiosa aos poucos retorna ao normal.
Desconecta o celular, cata o controle remoto, zapeia. Os canais fechados não oferecem atração, a tevê por assinatura não possui canais pornográficos no pacote.
Merda!
Dardeja a sala com os olhos até encontrar o calendário preso a uma parede. A data de hoje está circulada e do círculo parte uma seta para uma nota: Aniversário de Ravi.
Salta do sofá, caminha dançante até o quarto, que cheira a mofo, morte e sexo. Decide qual vestido usará, os brincos, o colar, o perfume, a maquiagem.
A lingerie.
A aproximação do momento corrói no fundo do estômago, o calor sobe pelas pernas. Passa a mão sobre a vagina encharcada. O relógio avisa que ainda há tempo. Volta a espelhar o smartphone. Não consegue se fixar em outra atividade; quanto mais a fome avança, mais a lascívia perde as rédeas.
Já faz tempo. Um mês.
Desta vez escolhe o xvideos.
Orgasmos, múltiplos.
****
Os convidados são selecionados a dedo. Quase todos os que estavam na última festa.
Ela desliza provocante. As pernas torneadas, da cor do bronze, arrancam olhares. Sempre foi a mais gostosa e mais desejada.
Poucos daquele "círculo social" a tiveram.
Mesinhas dispostas à beira da piscina sustentam garrafas de bebida e carreiras de pó. Começa a torcida pelo próximo que irá aspirar a cocaína, e logo se ouve a gritaria de comemoração. Dentro da piscina, os que já beberam e cheiraram iniciam a orgia de costume. As garçonetes desfilam com calcinhas enterradas no traseiro e seios nus tremulando a cada passo.
Uma festa por mês. Quase sempre é assim. Nesta noite há o capricho do aniversário.
Ravi está numa roda de amigos, parece sentir a presença dela, vira e a encontra. Franze o cenho, inspira fundo e trava a respiração. Suas acompanhantes fecham o rosto. Ódio. Sabem que a partir dali perderam o brilho.
Ele se aproxima. Está pálido, o pomo de Adão se mexe após o gole de uísque.
— Frida?!
Ela passa a mão pelo pescoço dele. Beija-o. Sente a genitália molhar, sussurra ao ouvido:
— Preciso ter você! Hoje a noite. Agora!
Os olhos dele tremulam, a boca mexe algumas vezes, buscando a palavra certa.
— Por onde você esteve? Não apareceu para o trabalho, não responde as mensagens, ninguém ouve falar de você há...
— Shhhhh! — Põe o indicador na boca do patrão. — Interior. Na casa da mãe. Nada de mais. Está resolvido.
A mão de Frida passeia pelo corpo dele, alcança o pau, faz carícias, sente o volume aumentar. Os pelos do corpo dela eriçam, os mamilos marcam o vestido. O rosto de Ravi se ilumina, os olhos cospem incredulidade. As memórias do corpo de Frida revelam o quanto ele já havia se esforçado para este momento.
Ela o abraça pelas costas e o guia até o quarto no piso superior. Os olhares acompanham, um amigo põe os braços nas laterais do corpo e mexe o quadril com um movimento de entra e sai, os outros riem da insinuação de "comer a vadia".
Sem papo, sem preparação, sem perda de tempo. Ela arranca as roupas de Ravi, fica nua, abocanha o pau, monta com vigor.
É como estar no deserto há dias e encontrar um oásis, mergulhar na água fria e deitar à sombra das palhas.
Ela o domina e logo o faz gozar. Sente o corpo se energizar, a vida voltar aos poucos. A pele retoma o brilho, os olhos voltam a ter luz, o sangue circula e esquenta cada célula. Solta um gemido violento, agarra-o pelo pescoço.
— Preciso de mais! Mais!
Ravi escancara o olho, gagueja, mas logo sorri. Há tempos a deseja. Foram tantas as negativas, tantas as investidas infrutíferas. Agarra os quadris de Frida, vira por cima dela, chupa o corpo macio da mulher da testa ao dedão do pé. Volta à vagina.
Ela goza. Ele enrijece de novo.
Horas de transa carnal, selvagem, puro instinto animal, primitivo.
Ravi cai de lado, exausto. A respiração disparada faz a cama tremer. Os músculos fracos e desgastados relaxam enquanto ele mira o teto.
Frida está linda. Reluzente. Os cabelos mais negros, o toque da pele é macio de novo. Ela o monta mais uma vez, o homem não reage. Está sonolento, o membro agora machucado não tem mais forças. Ela entende que chegou o momento, absorveu o que podia dele, está quase totalmente alimentada.
Quase.
A boca dela se arregaça até o queixo passar da linha dos seios e alarga até alcançar as orelhas. Os dentes tornam-se um encadeamento de incontáveis estalactites ósseas.
Ravi se debate sob o corpo do demônio, o grito entala na goela à visão do monstro.
Da primeira abocanhada, a cabeça de Ravi está afundada na garganta de Frida. É a visão de uma jiboia engolindo um bezerro; vai devorando o ex-patrão devagar, saboreando da carne salgada a suor, temperada de sexo.
Quando termina, a barriga está imensa. Vai parando de respirar devagar, os olhos apagam; a vida alimentando a refeição numa transfusão bizarra.
O corpo fica inerte, pálido, frio, morto. Nas entranhas, o demônio se contorce, os ossos triturados se reconstituem. Ele soca a barriga que o abriga, procura espaço. Um talho se abre, as mãos surgem e rasgam a pele de Frida, arrebenta ossos, parte-a ao meio, renasce, alimentado, forte, saudável. Caminha até o espelho, o sangue sobre a face não esconde o rosto bonito e vivaz do novo hospedeiro.
O sexo e a carne o alimentam, a alma da infeliz refeição é encomendada para o pai. Neste momento, Ravi deve estar cumprimentando Frida e outros incontáveis escravos sexuais no labirinto de Azmodeus.
Bafora no espelho, uma lista de nomes surge em meio ao embaço, risca o nome de Ravi, assim como o fizera com o de Frida imediatamente acima. Decora o próximo nome.
****
O quarto está na penumbra. Fechado. Fede a mofo, morte e sexo.
Por sorte que Ravi tinha o canal pornográfico no pacote. Os lances de luz da tevê lambem as paredes. Os gemidos da atriz pornô alimentam seu membro ereto até que ele goza pela sétima vez em duas horas. Não consegue se concentrar em mais nada.
É a fome. A maldita fome. Já tem quase um mês.
Lembra o nome do próximo da lista. Busca nas memórias deste corpo quem é o cara. Cata o celular, procura nos contatos.
Disca. Espera.
— Fala, Ravi! Que porra tá rolando, cara?! Tá sumido do trampo, das saídas, o que...
— Calma, porra! Onde é o "encontro" mensal de amanhã?
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Mil Faces
Short StoryTERROR Você gosta de ceninhas quentes, de deixar fantasias sexuais latejando dentro do crânio. Vê como contos hots estão em alta por aqui e adora lê-los... CUIDADO! A Luxúria é um dos sete pecados capitais. Permeia a cabeça de todos os humanos, dist...