Vícios para a Vida

Táxi

Michele sente uma mão forte à puxar pelo cabelo, por trás. Ela gira seu corpo pronta a largar um tapa em quem quer que fosse. Quão grande não é seu espanto quando vira-se e se depara com o olhar zangado de Reginaldo à derramar lágrimas.

- Reginaldo! Voc...

- Eu o que vadia?-ele a interrompe- O que você ia dizer? "Reginaldo você por aqui, atrapalhando meu programa?! Pensei que você estivesse preso, seu idiota, otário!"Era isso que você ia dizer? Era?- ele puxava o cabelo dela pela raíz, sacudindo-a.

- Não! Não é isso que você ta pensando! Aí, meu cabelo! Espera, eu posso explicar!

- Explicar o que caralho?! Eu já entendí tudo, já entendi tudo! Você acha que eu sou trouxa?!- uma notável dor em seu tom de vóz- Como você pôde ter feito isso comigo Michele? Esses últimos dois anos não significaram nada pra você, porra?!

- Não é isso Reginaldo! Espera, você ta me machucando! Ái, ái!

- Ah então sou eu que estou te machucando?! Tem certeza que sou eu quem está machucando alguém aqui? Eu jamais esperaria isso de você! jamais! Se vendendo por tão pouco!

Ele à agredia, alheio aos dois homens de capuz e boné que vinham correndo do outro lado em direção à eles.
Os dois "guarda-roupas" atravessam a rua e já chegam botando moral. Um deles solta suas mãos dos cabelos de michele à força, enquanto que o outro desfere um violento soco no rosto de Reginaldo, que cai para trás, batendo a cabeça na parede. Michele dá um grito.

- Qual é maluco?!- grita um deles, com a mão posicionada na coronha da arma enfiada em sua cintura.- Ta de sacanagem, zuando a puta dos outros? Olha que eu te crivo de bala aqui mesmo filho da puta! E você- ele se volta para Michele- tú gosta de apanhar mesmo né vadia? O fulano chega te agredindo e tú se doendo por ele?

- Quem são esses Michele?- Reginaldo pergunta, limpando o sangue que escorria de seu nariz com as costas das mãos. -Seus cafetões?

- Por que "cê" quer saber?- indaga um deles intimidando-o. -Ta querendo rodar bolsinha "pra nóis" também é? Foi mal maluco, não quero te desapontar, mas aqui a gente só pega mulher!
O outro dirige-se para Michele.

- E aí vadia, já conseguiu juntar o dinheiro que tu me ta me devendo na biqueira, ou tá difícil? Olha aqui, se tú não conseguir essa grana até amanhã a noite, você não vai sair daqui tão cedo hein, Ta me entendendo?! É isso ou é sete palmos abaixo da terra! Tu sabe, devedor não tem vez!

Michele cai de joelhos, sua maquiagem borrada pelo pranto que derramava.

Só então Reginaldo compreende a situação que se encontrava sua namorada. Ela estava alí contra sua vontade, sendo explorada para pagar uma dívida que fizera. Uma violenta onda de ódio o possui. "Malditos filhos da puta!"

- E tú aí maluco? Tá esperando o que pra meter o pé? Quer tomar um esporro aqui mesmo?!- Ele dá um chute nas pernas de Reginaldo, o outro o levanta pelos ombros sem dificuldades e o expulsa dalí com um ponta-pé na bunda.

- Vai, vai, vai, vaza!

Ele dá alguns passos depois olha para trás, seus olhos lacrimejantes encontram o rosto choroso de Michele, ela lhe estendia a mão em um pedido de ajuda.

- Eu vou voltar. - balbucia ele. Ela compreende e balança a cabeça positivamente.

Enquanto se distanciava cambaleante, ele ouve os homens conversando:

- Quanto tu já tem aí?

- Cento e cinquenta.- responde ela.

- Já?! Mas também, uma carne nova dessas, é o prato predileto dos velhotes!- eles caem na risada.- Vai, rebola essa bunda aí. A gente vai tá de bituca lá da outra esquina hein!