Bruna - Você não precisava fazer isso

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─ Você não precisava fazer isso. – Eu o puxava para o camarim em busca de um pouco de privacidade. Felizmente, depois do espetáculo no palco, as pessoas pareciam dispostas a nos deixar à vontade. Até Daniela, que sabia da farsa, estava tão feliz, alegre e contente que se ateve a levantar o polegares e mexer os lábios num "perfeito", de longe, enquanto seguíamos o caminho.

─ Precisava sim.

─ Não. Não precisava.

─ Eu prometi, Bruna. – Ele sorria.

─ E eu disse que você não precisava cumprir a promessa.

─ Escuta aqui, Brunetilde. – Esses apelidos idiotas me derretem inteira. – Meu pai me ensinou que a única coisa que um homem tem de verdade é a sua palavra. – Ele segurava a minha cabeça com as duas mãos. – Além disso, você mereceu.

─ Você tem noção do tamanho da confusão em que está se metendo?

─ Acho que tenho. – Kadu, definitivamente, parecia se divertir com tudo isso. – Apesar de quê, você sempre consegue me surpreender, não é mesmo, Brunota?

Fiquei olhando para ele sem entender nada. Não fazia ideia de onde vinha tamanha confiança nas próprias atitudes. Carlos Eduardo estava tranquilo depois do que fizera, mesmo com toda sua timidez, mesmo tendo se declarado na frente de milhões de pessoas.

De repente, ele me puxou de uma vez e me deu um beijo apressado. Foi desajeitado, a gente bateu os dentes da frente. Doeu.

─ Que palhaçada é essa, Carlos Eduardo? – Eis o motivo do beijo apressado. Dona Débora entrava no camarim sem cerimônia. Nosso primeiro desafio, precisávamos convencê-la.

─ Boa noite, mãe! – Ele respondeu ironicamente, não que sua mãe percebesse o tom. – Conhece a Bruna? Minha namorada. – Sei que é tudo de mentirinha, mas ouvir Kadu me chamando de namorada libertou uma centena de borboletas no meu estômago.

─ Boa noite, sogrinha! – Não pude deixar de provocá-la. Era uma oportunidade divertida demais. Já que era para atuar, que eu apresentasse meu melhor papel de namoradinha fofa. Enlacei os dedos de Carlos Eduardo aos meus e coloquei minha cabeça em seu ombro com uma intimidade imensa.

─ Você quer me convencer, Kadu, de que o filho que eu criei desde pequeno, tímido até não poder mais, acabou de se declarar em rede nacional? – Ela era boa. Não vou negar.

─ É o amor... – Ele respondeu e eu o abracei por trás, apertando-o contra o meu corpo. Perfeita parceria entre fala e ação. Nós parecíamos mesmo aqueles casais que não conseguem se desgrudar um só instante.

─ Carlos Eduardo, meu filho, eu...

─ Mãe, isso aqui não é uma consulta pública, ok? – Interrompeu. – É a apresentação de um fato novo e consumado. Aprenda a lidar com isso.

─ Kadu! – Dona Débora estava chocadíssima.

─ Mãe, mais uma palavra desagradável sua e eu arrumo minhas malas e vou morar no apê da Bruna. A gente fica junto e ainda por cima economiza uma grana. – Kadu ria da cara da mãe, branca por conta da ameaça. Imagine, seu filhinho querido morando com uma atriz. Mas eu, eu bem que gostaria que ele fizesse isso mesmo.

Dona Débora respirou fundo. Ajeitou o vestido. Recuperou a compostura e o seu tom de voz de mulher educada e me estendeu a mão de maneira solene. Eu a cumprimentei com um sorriso nos lábios.

─ É um prazer reencontrar você, Bruna. Fico feliz que você e meu filho tenham se acertado. – Dava para ver as chamas do inferno ardendo por detrás daquele olhar, mas o tratamento era educadérrimo. Segurei o riso. – Gostaria de convidá-la para almoçar lá em casa qualquer dia da semana. Precisamos nos conhecer melhor.

─ É claro que precisamos, Dona Débora.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora