Bruna - Depois de passar por um inferno astral

81 11 0
                                    

Depois de passar por um inferno astral, acho que todo mundo tem direito a uma noite de Cinderela. Com direito a carruagem, madrasta má, vestido lindo e Príncipe Encantado. Ah! Um lindo príncipe encantado dançando com você no meio de uma multidão que só observa embasbacada.

A gente sabe que os contos de fada não existem. Mas que acreditar que todo mundo pode ter um dia, ou uma noite, de princesa é bom, isso é. Mesmo que você acorde na segunda-feira borralheira e sem nenhuma chance de ter seu sapatinho de cristal resgatado.

Acordei a contragosto, tomei banho e coloquei o uniforme. Não deveria mais faltar, sob o risco de perder o ano. E, bem, era só o que me faltava, ter de repetir o terceiro ano. Minhas notas andavam péssimas, mas a recuperação existia para isso mesmo.

No colégio, um burburinho só. Depois que Milena e Felipe terminaram, estava faltando um casal sensação. Resolvido: Bruna e Carlos Eduardo. Todo mundo queria dar pitaco na nossa vida. Bem, pelo menos na minha, Kadu continuava de óculos, muito estudioso, acompanhando o conteúdo lá das cadeiras da frente, nem parecia se incomodar com os olhares. Só veio falar comigo no intervalo.

─ E, então, namorada, dormiu bem? – Fez questão de frisar a palavra namorada. Deu um beijo na minha testa.

─ E pouco. – Respondi sem muito humor. – Como é que você consegue tanta disposição para uma segunda de manhã?

─ Costume, Bruneca. Costume. – Ele brincava com o meu cabelo. – Consequência de uma vida inteira de dormir tarde e acordar cedo.

─ Ah! Esqueci que seus pais exploravam um menor de idade pelas noites afora...

─ Para você ver que não é somente nas comunidades que a exploração habita. Falando nisso, como vai a sua relação com a sua mãe? – Eu ia me zangar com ele por causa do link engraçadinho, mas desisti, afinal, era somente a verdade.

─ A gente tem se ligado. Marcamos de nos ver essa semana. – Respondi. – Quem sabe você não aparece e eu não te apresento como meu namorado? – Fiz questão de também frisar a palavra namorado com a intenção de deixar claro de que estávamos numa grande e gorda mentira.

─ Pode ser... – Ele confirmou com a cabeça. – Vem cá, temos algum compromisso namoramentício hoje? – Quis saber. – Eu realmente preciso trabalhar o dia inteiro.

─ Sem problemas. – Sorri. Estávamos sentados um de frente para o outro. Percebi que as pessoas prestavam atenção a nós, peguei as mãos dele nas minhas. Carlos Eduardo, entendendo o que eu estava fazendo, abraçou-me e me deu um selinho. Comportamento mais que adequado para namorados em ambiente escolar. – Eu também tenho o dia cheio de compromissos.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora