De dois Mundos (antigo No morro sendo reescrito )

Cap 32

Hunter Narrando:

Quando conheci a Makaila, tinha apenas duas semanas de Brasil. Ver aquela menina indefesa à minha porta, com olhos cheios de lágrimas, foi um momento que mudou tudo. Quando ela levantou a cabeça e vi aqueles olhos azuis me fitando, a barreira que eu tinha construído contra os sentimentos desmoronou. Ela era linda, pensei para mim mesmo. Claro que não a deixei na rua.

Agora, três meses se passaram desde que ela voltou para Nova York, e aqui estou eu, pedindo transferência para a esquadra de NY. Desde que ela se foi, nos falamos todos os dias, e percebi que estou completamente apaixonado por aquela princesa de olhos azuis. Estou voltando para os EUA, mas desta vez por uma mulher.

Após a partida dela, acabei me envolvendo em uma briga por causa do meu melhor amigo, Luan. Aquele traficantezinho achava que podia bater em pessoas que não tinham nada a ver com seus problemas. Depois de investigarmos, descobri que, com todas as informações que consegui, a filha da minha princesa era filha daquele verme. Eu sabia que não podia forçar uma invasão na toca dele, pois o irmão dela também vivia lá, e ela nunca me perdoaria por isso.

Acabei de preencher todos os papéis da transferência e já tinha o bilhete comprado. Agora, só falta esperar. Amanhã, terei a minha linda menina nos braços.

(Três meses depois)

Makaila Narrando:

Lá estávamos nós na sala, com a Sofia e o Damien. A Leila estava gravando a pequena andar e chamando pelo papai. Ah, como será que ele está? Enfim...

O Hunter chegou há um mês, e desde então, tudo parece um sonho. Ele é tão querido e me trata tão bem, até mesmo a Sofia e o Damien já aprenderam muitas coisas que os meninos fazem com ele.

Eu gosto dele, mas não amo—pelo menos não ainda. Não consigo parar de pensar em como Brian está e como todos estão.

Falei com o Damien sobre querer que ele viesse comigo, e ele disse que a Clara o tratava de forma diferente dos meus outros irmãos. Quando a minha irmã Maya quebrava algo, sempre culpava o Damien, e ele acabava levando a culpa. Ele me contou que o papai não achava nada de mal com isso, mas eu achei tudo errado. Afinal, tenho a Sofia, e ela é como minha filha.

Quando falei disso para o papai, ele disse que era apenas a imaginação do Damien. Decidi que ele ficaria comigo até que eu decidisse ir embora. O menino nunca teve uma mãe, e a coisa mais parecida com uma não o tratava como filho. Aqui, ao menos ele é amado por mim, pela Leila e, claro, pela pequena Sofia, que adora o tio.

Ele já fala muito bem inglês e tem muitos amiguinhos da escola. O Hunter o ensinou a nadar e muitas vezes vai buscá-lo na escolinha.

Levanto-me do sofá quando a Leila para de gravar e vou preparar o jantar. Já estamos estudando, mas como a Sofia está doente, fiquei em casa com ela.

 A Leila saiu para buscar o Damien...

Enquanto preparamos o jantar juntos, uma sensação de normalidade se instala na casa. Sorrisos e risadas preenchem o ar, mas eu ainda me pergunto se posso realmente deixar o passado para trás. O cheiro dos ingredientes frescos se mistura com as lembranças de momentos difíceis, criando uma atmosfera ao mesmo tempo reconfortante e inquietante.

— O que você está fazendo de bom para o jantar? — Hunter pergunta, inclinando-se para olhar os ingredientes na mesa com curiosidade.

— Estou pensando em fazer um prato simples, mas gostoso. Algo que a Sofia goste. O que você acha de macarrão com molho de tomate e carne moída? — sugiro, tentando manter o foco na receita.

— Parece ótimo! — ele responde, dando-me um sorriso confiante que ilumina o ambiente. — Posso ajudar?

— Claro! Pode picar a cebola e o alho enquanto eu cozinho o macarrão.

Enquanto trabalhamos juntos, a cozinha se transforma em um espaço de cumplicidade. Trocamos histórias sobre nossas vidas, e a conexão entre nós se fortalece. Falo sobre como é desafiador cuidar da Sofia e, ao mesmo tempo, me adaptar a essa nova realidade. Hunter ouve atentamente, oferecendo palavras de encorajamento que me fazem sentir valorizada.

— Você está fazendo um trabalho incrível, Makaila. Ser mãe é um desafio, mas você está dando o seu melhor. A Sofia tem sorte de ter você — ele diz, com um brilho nos olhos que me faz sentir uma onda de gratidão e carinho por ele.

Às vezes, me pergunto se ele é o homem certo para mim. Dúvidas surgem, mas, por enquanto, prefiro aproveitar esses momentos juntos, sem pressa. Enquanto o cheiro do molho se espalha pela cozinha, a sensação de família começa a se formar ao nosso redor, e o riso de Hunter se torna um alicerce que me conforta.

Após o jantar, Leila e Damien chegam, trazendo alegria e animação. A casa se enche de risadas e conversas animadas, criando um ambiente vibrante. A Sofia, mesmo doentinha, sorri ao ver todos reunidos, e meu coração se aquece ao perceber que estamos criando uma nova história juntos, repleta de amor e superação.

Porém, a tranquilidade dura pouco. Já tínhamos jantado e cá estou eu, sozinha no banheiro, segurando algo que poderia mudar a minha vida para sempre. Encosto a cabeça na parede e deixo aquilo no chão, sem coragem de olhar. O que eu vou fazer?

— Então, baby? — escuto a voz do Hunter batendo na porta do banheiro. Ele é capaz de estar mais nervoso que eu. Levanto-me do chão e abro a porta devagar, saindo e envolvendo-o em um abraço apertado.

— Não consigo ver — digo, sentindo os meus olhos marejarem, a pressão emocional quase insuportável.

— Eu vou ver, sim. Estarei contigo, princess, para tudo — ele afirma, deixando um beijo suave em minha boca antes de se voltar para o teste que poderia mudar nossas vidas, ou melhor, a minha.

— Eu tenho medo — confesso, a voz tremendo enquanto me deito na cama, um turbilhão de emoções me consumindo.

A um mês atrás, tudo era diferente. Estávamos conversando no meu quarto, rindo e compartilhando histórias, e depois de algumas horas de conversa, o beijo aconteceu. A química entre nós foi instantânea. Mas agora, uma semana após aquele momento, sinto coisas estranhas no meu corpo, como se um novo capítulo estivesse prestes a começar. Minha menstruação não desce. Falei com o Hunter sobre isso e decidimos que era melhor comprar um teste de farmácia. E aqui estou eu, roendo as unhas e batendo os pés freneticamente no chão, esperando pela resposta que parece não chegar.

Coloco as mãos na barriga e, por um momento, imagino como será gerar uma vida. A Sofia é tão especial para mim, mesmo não sendo minha biologicamente. Amo-a como se fosse minha, mas o pensamento de ter outro bebê me assusta. E a reação do Brian me faz gelar o sangue.

Os meus pensamentos são interrompidos por Hunter, que entra no banheiro com um sorriso tão largo que parece quase contagiante.

— Vamos ser papais, princess! — ele exclama, e ao me beijar, sinto um misto de alegria e pavor.

Só consigo pensar no que fazer agora que a minha vida mudará para sempre. Três crianças e um curso para ser completado. Como irei conseguir? Tive que aprender tanta coisa para cuidar da Sofia, e agora tenho que me preparar para dois bebês e uma criança. Arregalo os olhos quando penso na reação do Brian ao descobrir que estou grávida. Ele ainda me manda mensagens, implorando para voltar, ameaçando-me que se eu não voltar, ele não sabe o que pode acontecer. E se ele souber que estou grávida de outro? Meu Deus, sinto a cabeça a rodar, o coração a bater forte, e as lágrimas quentes descem, parecendo uma cascata pelas minhas bochechas. 

Antes que eu possa processar tudo isso, sinto os braços fortes do Hunter me envolvendo, trazendo-me de volta à realidade. Ele está aqui, ao meu lado, e talvez, apenas talvez, possamos enfrentar essa tempestade juntos.