Michel

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E agora, Michel?

O mandato acabou,

a luz se acendeu,

o povo notou,

a noite lhe revelou,

e agora, Michel?

e agora, você?

você que é com nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, Michel?


Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

urinar já não pode,

a noite lhe revelou,

o dia não veio,

o motorista não veio,

a verba não veio,

não veio o poder

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, Michel?


E agora, Michel?

Sua culta palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio – e agora?


Com a chave na mão

quer abrir o palácio,

não existe palácio;

quer morrer no mar,

mas o mar lá não há;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

Michel, e agora?


Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, Michel!


Sozinho no escuro

qual bicho-do- mato,

sem moralidade,

sem parede nua

para se encostar,

sem carro blindado preto

que fuja a mil por hora,

você puxa marcha, Michel!

Michel, para onde?

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⏰ Last updated: Nov 01, 2017 ⏰

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MichelWhere stories live. Discover now