Capitulo 33 - Supercopa da Itália

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Hoje é mais um dia daqueles dias fugazes. Paulo está um tanto nervoso. Mais do que o normal desta vez.
Reparo em como faz o trajeto batendo os dedos contra o volante, mordiscando o lábio; e em como pisca e ergue as sombrancelhas cada vez que o narrador da rádio local faz menção sobre a "empolgante", decisão da Super Copa Italiana.

O time da Juventus venceu os campeonatos. Diz a voz rouca soando através do autofalante do carro alugado. Eles não podem enfrentar a si próprios, então irão enfrentar a Lazio num jogo único.

Saímos cedo do hotel em direção ao Olímpico de Roma, tendo de enfrentar um vasto engarrafamento por conta da tão esperada final. Paulo deixou de ir de ônibus com a equipe apenas para que eu não ficasse sozinha num táxi com um estranho. Ele diz que ainda se lembra da última vez e que não vai me deixar só nunca mais. Nunca.
Seu tom é meio possessivo, meio adorável.

Sou puxada para dentro de um dos pontos turísticos da antiga cidade de César e os romanos. Com nossos corações acelerados e as peles trêmulas caminhamos descompassados por um corredor que nos leva até uma pequena parte da torcida. Visualizo belas mulheres vestidas em camisas da Juventus, com a numeração e nome de cada jogador, há crianças e pessoas mais velhas também; aquela é a área familiar dos desportistas, num pequeno espaço dividido com a torcida bianconeri.
Alena, esposa de Buffon, sorri largamente a medida que o meu namorado me guia até uma das cadeiras. David, seu filho, corre para me abraçar, ultrapassando o pequeno espaço entre Paulo e eu.

- Você veio, Kat! -ele diz, alegre.

A felicidade do pequeno acalenta-me o coração.

Olho de relance para Dybala, e para Alena, e ambos parecem animados com o gesto do pequeno. Tomo um movimento para abraça-lo de volta. As mulheres dos jogadores estão olhando para a cena.

- Senti saudades, lindinho. -beijo-lhe a bochecha. - Como você está lindo com esse cabelo!

Ele sorri, espontâneo. Um outro garotinho com a sua mesma faixa etária e o mesmo corte de cabelo aparece do seu lado e olha pra mim um pouco sem graça.

- Este é Louis. -Paulo diz. - Irmão de David.

- Hey, Louis. Que nome lindo! -sorrio para ele, que, cora.

David toma a minha mão de Paulo e me puxa até uma das cadeiras do estádio. Senta do meu lado e me mostra o seu pai treinando. Paulo está parado, analisando a cena um tanto bobo. Mordo o lábio e pisco para ele. - Você precisa ir. -eu digo.

- Eu vou cuidar dela! -confirma Alena, docilmente. - Além do mais, Bonucci não faz mais parte da equipe e ela não corre risco de se magoar. Vá logo, Dybala! Conhece o gênio Allegri!

Paulo suspira, e mesmo com a sua obsessão e superproteção, beija minhas têmporas e some através do corredor.
Não demora muito tempo até que eu o veja no campo, conversando com Allegri e Pjanic.

A equipe da Lazio está treinando também, e o restante da torcida rival vibra a cada vez que o Immobile acerta uma bola na rede.
O rapaz será um problema para nós. Está claro.










- Eu sou um merda! Um bosta! Uma porra de um maldito azarado! -Ele soca a parede num drama tempestuoso. - O quê estou fazendo numa equipe como a Juventus? Sou um fodido!

Agarra os seus cabelos e os repuxa com força e ódio e raiva. Quero abraça-lo e pedir que pare, mas ele está nervoso demais para que eu chegue perto.

O chão está coberto com os caquinhos de vidro do pequeno vaso de plantas que ele jogou contra a outra parede. Quero gritar para que ele pare com aquilo, que estou assustada, mas há algo em minha garganta me impedindo. Talvez os seus olhos sobressaltados ou os dedos trêmulos roçando pelo cabelo levemente úmido.
Ele está muito bêbado, completamente fora de sí, e, pela primeira vez na vida, eu tenho medo.

A partida começou favorável à Juventus. Logo aos dois minutos do jogo, Cuadrado aproveitou um ótimo cruzamento rasteiro de Alex Sandro e chutou para o gol. Mas o goleiro Strakosha fez uma excelente defesa com os pés. Antes dos cinco minutos iniciais, ainda fez outras duas boas intervenções nos chutes de Paulo e Gonzalo.
Gritei como nunca, numa falha tentativa de apoiar os caras, mas, como um maldito truque, lá estava Immobile. Eu sabia que esse cara seria problema.
Nos minutos finais do primeiro tempo, aproveitando uma falha da zaga, o italiano do time rival conseguiu um pênalti feito por Buffon.
Cartão amarelo para a nossa muralha.
Alena xinga o atacante e o juiz, mas depois se recorda das crianças e faz a egípcia.

Na cobrança, o próprio atacante faz o gol. 1x0 para o time de Roma.

Merda!

Na segunda etapa, aos 9 minutos da partida, Parolo cruza para Immobile, que cabeceia a bola no contrapé de Buffon. Mais um gol da Lazio.

Toda a torcida da velha senhora dá uma murchada à medida que a decisão parece melancólica. As esposas estão sentadas agora, contabilizando comigo, acho que apenas três delas e eu ainda estamos a gritar juntamente com os torcedores bianconeri.
Meu pai costumava me dizer que onde havia um por cento de chance, deveríamos ter noventa e nove por cento de fé; Eu tinha fé na Juventus. Tinha fé em Paulo, e em Buffon, e em Gonzalo, Cuadrado, Douglas, Mandzukič e em todos os outros. Eles mereciam a nossa confiança.

Parecia quase certo o placar, até que próximo dos trinta minutos os bianconeri começaram a ter reação. As entradas de Douglas Costa e Bernadeschi colocaram o time mais para frente e começaram a surtir efeito aos 40 minutos.
Paulo olha para onde estamos antes de bater a falta, eu sei que está procurando por mim, segue a procurar até que nossos olhares se choquem.
Grito ainda mais forte junto ao estádio. "Dybala! Dybala! Dybala!" A torcida emite. Vibrantes.

Paulo cobra a falta, e numa curva incrível, acerta o gol.

Não sei descrever o que senti, mas acho que meu coração está prestes a explodir agora. Ele corre no campo, e se joga no gramado a frente de onde estamos. Faz o tão querido Dybala Mask e a torcida vai a completa loucura.
Gargantas roucas, vozes altas, o estádio vibrante em meio os pulos que todos damos no estádio do time rival. Mesmo com uma enorme diferença entre torcidas, somos melhores.

Mal temos tempo de comemorar, por que na volta do jogo, nos 43 minutos; Douglas é derrubado na área; PÊNALTI!

Allegri grita do banco de reservas, é Paulo quem vai cobrar o pênalti.
A esposa de Mandzukič mal percebe quando segura a minha mão com força. Levo na esportiva porquê sei que está tão nervosa quanto eu. Por favor, Deus! Ajude-o a marcar!

Puta. Que. Pariu. Eu grito.

Paulo marcou o seu segundo gol da partida! Quem é Immobile perto do melhor jogador da Itália?

Estavamos um pouco mais calmos, por que sabíamos que no fim do jogo, Buffon na disputa por pênaltis é o melhor goleiro que se poderia ter.

Faltava tão pouco tempo para que o juiz decretasse a disputa por pênaltis, mas, aconteceu.
Antes do fim da partida, o irmão mais novo de Lukaku passou uma bola rasteira para outro jogador da Lazio, que livre; fez o gol.

O árbitro apita.

Lazio é a campeã da Supercopa da Itália.

Os jogadores rivais pulam e gritam, e subitamente eu procuro as órbitas esverdeadas pelo campo. Paulo não está mais lá. Vejo um jogador com a sua camisa mas não o vejo.
Sumiu de meu campo de visão e nem mesmo faço ideia de como o perdi tão rápido assim.



- Paulo, por favor! -eu grito, com o rosto inchado e úmido. - Por favor.

Ele sequer me ouve. Continua a quebrar as coisas do hotel e eu sei o problema que aquilo causaria.

Paulo está em surto.
Como eu nunca o vi antes.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora