Na unidade básica de Saúde da cidade de Valinhos, o Médico Luiz Duarte atendia o paciente acidentado, com a perna quebrada engessada e suspensa. Cuidadosamente, o funcionário público trocava os curativos de seus braços ralados.
- Ái, calma doutor.-reclama o paciente- essa doeu hein.
- Deixa de ser mole rapaz- o médico o senssura - Aguentou pular de um muro de quase três metros e agora tá reclamando por pouca coisa…
- Ah, pois é né, como você vê, tô inteirão.- fala o menino de cabeça raspada, sarcasticamente.
- Vocês são muito imprudentes, sabia?
- Que nada doutor. Queria ver se fosse o senhor trancado em um lugar que não quisesse estar... Aposto que faria o mesmo.
- Posso te garantir que não. Na minha idade eu mal conseguiria subir o muro. Imagine pular... Me arrebentaria todo. Se bem que, uma vez, quando eu fui levar min…
- Espéra, espéra, espéra…- o interrompe o rapaz.
- O quê? Te machuquei de novo?- indaga o médico.
- Não, não… Olha lá na Tv.- ele aponta pro aparelho televisor suspenso na parede que transmitia o jornal. Na reportagem, um repórter cobria uma matéria sobre um jovem que havia se suicidado, como ele pôde ler na legenda, pois o volume estava muito baixo, quase inaldível.
O senhor de meia-idade pára o que estava fazendo e se volta para a TV.
- Jovem comete Suicídio em Paulínia…- Lê ele sussurando, depois de colocar os óculos para ver melhor.- Meu Deus que tragédia! - exclama. Ele vai até a mesinha de canto, pega o controle remóto e almenta o volume.
Na imagem, mostrava até então apenas uma roda de curiosos. O câmera e o repórter com dificuldade abrem caminho em meio ao mar de corpos para mostrar a cena trágica. Ao irromperem no meio da multidão, a câmera desfoca o rosto do menor morto. Mas um detalhe em especial chama a atenção de Matias. Ele se surpreende ao reconhecer a tatuagem no braço do cadáver.
- Porra maluco, não acredito. É o Régis!- exclama ele perplexo, levando as duas mãos à cabeça e franzindo a testa incrédulo.
- O quê? Você o conhecia?- pergunta o médico com as sobrancelhas arqueadas.
- Conhecí ele na Fundação. Ele tinha conseguido fugir na rebelião, depois perdemos contato. Óh lá meu, a tatuagem que ele pediu pro Lombra fazer no ombro dele escrito "Michele". Puts, é ele mesmo, Caralho Reginaldo…
"Reginaldo?" Aquele nome faz o coração do homem parar por um milisegundo.
- Reginaldo?! Aquele rapaz… se chamava Reginaldo?
- Sim ele disse que esse era o nome dele.
- Me… Me descreva ele, como ele era…
- Ah ele era um moleque meio moreninho... tipo, não é moreno que fala... é… Pardo! Isso. Tinha pele parda, cebelo cacheado e tal.
"O nome e as descrições batem". O homem sente uma vertigem, seus joelhos fraquejam e ele se apóia na mesinha de canto.
- Qual é tio, o senhor tá bem?- pergunta o rapaz.
Estou, estou… - responde ele passando a mão no rosto pálido.
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Vícios para a Vida
Short Story"Não tire sua vida agora. Como eu disse, estou disposto a morrer com você, só não precisa ser já, de imediato... Tudo que eu quero é passar mais tempo ao seu lado. Morreremos juntos, prometo; mas uma morte progressiva, aos poucos, para que possamos...