Bruna - Sei que não é nada fácil para você

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─ Bruna, eu sei que não é nada fácil para você estar aqui. Nunca é. Mas eu prometo que vou te ajudar. Eu prometo que você vai começar a se sentir melhor. - A médica a minha frente me olhava de maneira confiante. - Você só precisa confiar em mim e na medicina.

Eu esperava uma bateria de exames e uma porção de represálias a respeito do meu comportamento, mas jamais poderia prever tanta solidariedade da parte de Doutora Fabíola.

─ Hoje em dia, nós já sabemos muito mais sobre os distúrbios de imagem. - Ela continuava a falar olhando dentro dos meus olhos, enfrentando os meus medos e minhas vergonhas. - Apesar de que todo paciente que apresenta esse quadro ter muita vergonha da sua condição, isso porque a mídia passa essa ideia errônea de que a pessoa escolhe ser assim, nós já sabemos que esse quadro clínico se estabelece em situações bem específicas. Determinadas, dentre outras coisas, por causas genéticas e distúrbios muitas vezes químicos.

─ Eu não sabia.

─ Pois é. Não precisa ter vergonha. Certas pessoas nascem com tendência à diabetes. Você nasceu com tendência à bulimia. - Ela sorria. - Por isso é que estou te garantindo que vou te ajudar. A mudança vai ser facilmente notada por você em poucos dias, pois com a medicação adequada, logo você vai sentir a diferença. Essa voz que fica dentro de você cobrando resultados, cobrando perfeição, vai diminuir de intensidade. Veja bem, ela não vai sumir. Todos nós temos essa voz dentro de nós. Faz parte de ser gente. De viver em sociedade. Mas ela vai estar sob o seu controle, entende?

─ E eu vou ficar sonolenta? Lesada? - Eu tinha medo de deixar de ser eu mesma. Fazia tanto tempo que essa voz me controlava que eu já não sabia ser quem eu era sem ela.

─ Você vai continuar a ser exatamente do mesmo jeito que é. Talvez precise beber um pouco mais de água porque a droga resseca as mucosas, mas fora isso... - Levantou os ombros.

─ Então é isso? Vou tomar umas pílulas e ficar boa?

─ Receio dizer que só isso não será suficiente... - Pelo tom de voz dela, agora vinha a parte difícil. - A medicação vai aliviar os sintomas da bulimia, mas não vai resolver nem as causas psicossociais dela, nem dar conta dos estragos feitos no seu corpo, ou seja, as consequências de anos de vômitos provocados.

─ E o que isso significa?

─ Significa que você precisa ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar por um tempo. Até criar estratégias para lidar sozinha com sua condição. Um gastro, um psicólogo, um nutricionista...

─ Sério? - Eu não queria acreditar que ia dar tanto trabalho assim.

─ Sério. - Doutora Fabíola tinha um sorriso compreensivo no rosto. - Mas vamos um passo de cada vez, ok? Primeiro, eu vou passar uma bateria de exames para que nós possamos medicá-la. Só então, quando você já estiver se sentindo um pouco melhor, eu vou te encaminhando para os outros profissionais. Pode ser?

─ Acho que pode. - Eu tinha muitas dúvidas se iria conseguir. Algo me dizia que eu deveria pelo menos tentar.

─ Não se preocupe, Bruna. Você vai encontrar em si mesma força para prosseguir. Para buscar a sua saúde.

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora