Bruna - A missa de sétimo dia

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A missa de sétimo dia da vovó chegou sem que eu me desse conta. Uma semana intensa. Eu imaginava que sentiria muito mais dor. Não que eu não sentisse uma saudade profunda, mas, todas as vezes em que me peguei pensando nela, eu me lembrava da vovó ativa, falante, brincalhona. Não daquela pessoinha frágil deitada numa cama, dependente de todos.

Então, acho que até nisso ela foi maravilhosa. Foi morrendo em prestações. Foi me ensinando ao mesmo tempo sobre as perdas da vida e a viver sobre minhas próprias pernas. E, quando finalmente ela se foi, eu tive comigo a certeza de que se tratava do melhor para ela.

Passei a missa inteira com essa sensação boa de que Dona Adelina estava nos braços do Pai. Senti muito conforto no carinho dos seus amigos. Nas palavras bonitas que todos disseram sobre ela. E cantei feliz os hinos de louvor que ela tantos anos antes me ensinara como uma forma de homenagear a parte dela que permanecia comigo.

Minha mãe, ao meu lado, cantava junto. Os olhos marejados como os meus. Ela, certamente, não partilhava dos mesmos sentimentos. Minha avó morreu brigada com a filha. Em certo momento, minha mãe pegou na minha mão e disse ao meu ouvido:

─ Eu perdi a minha mãe. Os laços entre mães e filhas são muito fortes. Percebo agora que eu deveria ter me arrependido antes. Mas eu te prometo, Bruna, que não deixarei que a mesma coisa aconteça com a gente. – Fiquei tão feliz que a abracei.

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora