Carlos Eduardo - O almoço de família

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O almoço de família foi divertido de maneira surpreendente. Minha mãe fez uma verdadeira entrevista de emprego com Bruna enquanto a refeição era servida. Eu não entendo o porquê dessa cisma, já namorei anteriormente e ela sempre agiu com naturalidade, simpática até. Com as namoradas do Carlos Henrique, então, fazia questão de decorar o nome de todas. E eram tantas e mudavam com tanta frequência.

Com Bruna, minha mãe simplesmente encarnou. Muito porque a outra também não baixava a guarda. Não deixava passar barato uma implicância sequer.

E começou cedo.

Quando o almoço foi servido, percebemos que se tratava de um suflê acompanhado de escargot e couve de Bruxelas. Uma óbvia tentativa da minha mãe de colocar Bruna no seu lugar na escala social, administrando-lhe uma dose de vergonha no trato com os talheres.

Pensei em intervir, mas como pude perceber ao longo do encontro. Elas duas não precisavam de defesa. Estavam fazendo daquilo um esporte.

Assim que Bruna foi convidada à mesa, os pratos começaram a ser servidos e minha mãe olhava da cabeceira com satisfação. Para sua surpresa, minha convidada colocou o guardanapo no colo com naturalidade e começou a usar os talheres com habilidade.

─ Ainda bem que a senhora não se prendeu por minha causa, sogrinha. – Soltava esse sogrinha toda hora. Papai engasgava tentando segurar o riso todas as vezes. – Eu ficaria muito constrangida se a senhora mandasse servir um churrascão na laje só por minha causa. – Virou-se para mim, colocando a mão na minha coxa no limite da decência. Minha mãe acompanhou o movimento com o olhar, pasma. – Meu amor, já te contei que eu fiz "A Princesinha" no teatro quando tinha 9 anos?

─ Não, Bruna. Você nunca me contou. – Também contive o riso.

─ Pois então, Seu Vitório, - mostrou interesse pelo meu pai, ele estava encantado com Bruna em todos os sentidos – nessa peça tinha uma cena de banquete com a rainha. Todo o elenco fez aulas de etiqueta por dois meses. Depois disso, domino qualquer tipo de talher. O senhor acredita?

─ Sim. Estou vendo.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora