Carlos Eduardo - Mais um fim de tarde

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Mais um fim de tarde de academia. Mais uma vez uma inquietação sem fim. Bruna estava com Sérgio, ensaiando o Forró. Eu deveria estar no ensaio das turmas avançadas, procurando uma nova parceira. Mas simplesmente não conseguia me concentrar e pedi para tirar uma pausa alegando cansaço do trabalho.

Peguei minha garrafinha de água e saí da sala lotada de garotas. Todas as dançarinas da academia pareciam dispostas a se candidatar a parceria depois do programa. Não pensei que haveria tantos testes a fazer. Outra coisa que eu jamais pensaria era que as minhas pernas me levariam direto para a porta da sala onde Bruna dançava, quando dei por mim, fazia uns quinze minutos que eu assistia ao ensaio.

─ Kadu, as meninas estão te esperando. – Eleonora veio me chamar não somente para a sala, mas também de volta à realidade.

─ Ah! Desculpe-me! – Fiquei envergonhado da minha atitude tão egoísta.

─ Ah! Kadu! Não se martirize. – Ela veio colocar a mão no meu ombro solidária. Começamos a conversar enquanto caminhávamos. – Quem nunca se pegou nas nuvens olhando para o ser amado? Principalmente no começo do namoro...

─ Não. Dona Eleonora, não é nada disso. – Eu me justificava meio sem jeito. Constrangido pelas palavras e pela situação como um todo. – A Bruna não é minha namorada de verdade. – Minha professora olhou para mim sem entender absolutamente nada. Não depois da declaração em rede nacional. – Nós inventamos essa mentira para preservar a imagem de Bruna por conta do término abrupto com o jogador de futebol. – Eu sentia necessidade de falar a verdade para Dona Eleonora. Sempre confiei na opinião dela, queria saber o que ela tinha a dizer.

─ E você topou essa situação? – Ela me olhava bastante desconfiada.

─ Topei.

─ Mesmo com a declaração na televisão, a exposição exagerada, as mentiras para os amigos e familiares...

─ Topei. – Falando assim, parecia algo bem incoerente comigo mesmo.

─ E por quê? – Ela quis saber. Olhava-me como quem analisava uma cena do crime e procurava evidências para resolvê-lo.

─ Porque eu não queria que ela sofresse ainda mais. – Eleonora sorriu. Minha fala deveria estar começando a fazer sentido para ela. Era muito inteligente, principalmente em assuntos do coração. – Aconteceram tantas coisas ruins com Bruna nos últimos dias, eu não quis que ela tivesse que lidar com mais essa chateação.

Eleonora passou a mão nos meus cabelos de maneira carinhosa. Ela sempre me tratava assim. Então, virou-se para ficar na minha frente e me encarou com aqueles olhos compreensivos.

─ Sabe o que eu acho, Kadu? – Eu a encarei de volta. – Acho que essa história de namoro falso não é para enganar o público. É para enganar vocês mesmos...

─ A senhora não entendeu... – Ainda tentei me justificar.

─ Não, querido. – Ela me interrompeu. – Pelo contrário, eu entendi muito bem. – Dona Eleonora fez um carinho no meu rosto. – Quem está confuso aqui é você.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora