Por Onde Andei

Bruna - Você viu meu elástico

─ Mãe, você viu meu elástico de cabelo?

Estava na hora de voltar para casa e eu não conseguia encontrar, revirava tudo no pequeno apartamento da minha mãe atrás desse negócio, era de estimação. Eu me comprometi em almoçar com ela pelo menos um dia da semana.

─ Bruna, como é que você dá conta de morar sozinha, menina? Você não encontra nada. – Levantou uma pilha de revistas e estava lá o elástico.

Coincidentemente, bem no alto da pilha, estava a revista que tinha Kadu na capa. Tão lindo sorrindo para mim. Meu coração derreteu. Sorri de volta.

─ Ele é um bom menino. – Minha mãe percebeu meu encantamento.

─ Maravilhoso!

─ Você está apaixonada, Bruna? – Ela me olhou desconfiada, quase rindo.

Claro que eu estava. Estou. Perdidamente. Mas a minha mãe não precisava saber disso.

─ Nem sei... – Levantei os ombros numa mistura de dúvida e desinteresse. - Estamos nos conhecendo. – Acho que a convenci. Ela baixou o olhar e começou a folhear a revista.

─ É verdade que a família dele tem todo esse dinheiro?

Não gostei nada do tom da pergunta. A revista exagerava nas cores para passar a ideia de que Kadu era um príncipe encantado. O dono de um império. Isso atraía cobiça. E inveja.

Mas a verdade é que a família tinha dinheiro sim. Bastante. Embora nem fossem deslumbrados, apesar dos ataques de chiqueteza de Dona Débora. No fundo, eram gente como a gente, de lamber tampa de iogurte a usar toalha velha como pano de chão.

─ Tem. – Não delonguei muito a conversa. – Você viu a chave do carro?

Minha mãe olhou debaixo do sofá e lá estava ela. Peguei, joguei um beijo e saí. Ainda tinha mil coisas para fazer.

***