Carlos Eduardo - Minha geladeira tinha derramado água

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Cheguei em casa e minha geladeira tinha derramado água. Tentei ligar a luz e nada. Tudo no escuro. Fui ver se era problema na geral. O prédio inteiro continuava iluminado.

Não acredito. Eu me esqueci de pagar a conta.

Peguei um pijama, material de higiene pessoal, umas carnes no congelador e subi para o apê da Bruna. Bati na porta, ela veio atender de roupão. Estava no banho.

─ Posso saber o que é isso? – Perguntou ao me ver carregado de sacolas, algumas pingando.

─ Estou sem luz. – Expliquei levantando os ombros.

─ Filhinho de papai. – Resmungou e abriu a porta para que eu entrasse.

Enquanto ela se vestia, coloquei as carnes no freezer. Aproveitei e fritei um bife para cada um. Tinha salada na geladeira e esse acabou virando o jantar.

Depois fui tomar banho, paguei a conta pela internet e fui sentar no sofá ao lado de Bruna. Ela lia roteiros de propaganda e propostas de trabalho. Por incrível que pareça, quase nunca assistia à televisão.

─ Olha isso aqui, Kadu? – De repente, parou para me mostrar uma foto nossa na sorveteria. Parecia indignada.

─ O que é que tem?

─ Nós estamos muito desengonçados, oras...

─ Claro. O fotógrafo nos pegou no meio de um beijo. – Argumentei.

─ Nada disso. Não é porque estamos nos beijando que tem que ficar desengonçado. Beijo de novela é lindo. Não é isso aqui não. – Ela reclamou. – Você tem que melhorar seu beijo.

─ Como é que é, Brunétima? – Eu só poderia rir depois dessa. – Eu beijo mal, é isso? Saiba que ninguém nunca reclamou.

─ Não é nada disso, afobadinho! Eu mesma posso afirmar por a mais b mais c que o senhor beija bem até demais. – Fiquei todo vermelho com essa afirmação. – Estou falando de beijo técnico.

─ Eu não faço beijo técnico. – Ainda estava encabulado com a última.

─ Vem cá que eu vou te ensinar... – ela me fez sentar no chão, bem do lado dela. Ficamos de frente um para o outro e eu comecei a sentir uma inquietação no pé da barriga.

─ É sério isso?

─ Seríssimo! É o seguinte, vamos começar com o beijo de final de novela, o mais básico de todos. Beijo de reencontro do mocinho com a mocinha. – Eu ainda não estava acreditando. – Tem que ter pressa por causa do desejo. Então, o mais importante é a sincronia, você inclina para um lado, eu inclino para o outro. Mas sem amassar o nariz que fica feio. Vem. Vamos tentar.

Meio sem jeito, eu fui me aproximando.

─ Assim não, Kadu. Com pressa. Com desejo.

Seguindo as ordens de Bruna "Diretora" Drummond, eu segurei a cabeça dela com as duas mãos e tasquei o maior beijão.

─ Certo. Mais uma vez, agora de olho fechado que nós estamos apaixonados. Beijo de olho aberto é muito esquisito. – Deu as diretrizes. E me puxou.

Outro beijo. A temperatura subiu uns três graus com esse. Eu não queria parar, ela me parou.

─ Bom. Beijo técnico não tem língua, tá?

─ Por que você não me avisou antes?

─ Porque a gente não está numa novela, Kadu. Ficaria muito estranho se a gente se beijasse no meio da rua sem língua. Que casal de namorados faria isso?

─ A língua continua, então?

─ Continua. Ossos do ofício.

─ Veja se eu peguei a manha. – Dessa vez, fui eu que a surpreendi. Fiquei até sem fôlego com esse. Para minha satisfação, ela também.

─ Ok, Kadu. Ok. Muito bom. – Tentava recuperar o fôlego. – Vamos passar para um beijo mais tranquilo. Daqueles de casais que não conseguem se soltar. Uma salada de selinhos e beijos mais profundos que vão aumentando de intensidade, sabe?

─ Faço ideia. – Eu encostei meu rosto no pescoço dela, senti que suspirou. – Tipo assim? – Sussurrei no seu ouvido. Meu nariz percorreu delicadamente o caminho pelo rosto, levando a minha boca até a dela. Um beijo suave.

─ Tenta não me amassar, tá? – A voz dela era quase um fio. Estava entregue.

─ Vou tentar...

Beijei. Beijei. Beijei. Selinho. Beijo de língua. Ela não dava o comando para acabar com a "aula" e eu me mostrei um aluno muito dedicado. A coisa foi esquentando, aumentando de intensidade. De repente, eu estava deitando ao seu lado. Os beijos cada vez mais demorados. Até que eu não aguentei mais e peguei na sua cintura.

Eu estava quente. Eu estava pegando fogo. Totalmente seduzido pelos beijos dela. Minha mão subia pela blusa dela. Eu estava completamente fora de mim.

─ Kadu... – Bruna murmurou e eu fiquei arrepiado de tanto desejo.

Mas então ela segurou minha mão e abriu os olhos.

─ Acho melhor a gente parar por aqui antes de cruzar essa linha e não ter mais volta...

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora