Carlos Eduardo - Acordei cedo

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Acordei cedo. Para falar a verdade, nem dormi direito. A boca dela não saía da minha cabeça. O corpo dela não saía da minha cabeça. O gosto dela não saía da minha cabeça. E eu quase enlouqueci. Tomei um banho frio. E estudei até os primeiros raios de sol sem saber mais o que fazer.

Peguei minhas coisas o mais rápido que pude e comecei meu dia para justificar a pressa. Liguei para a companhia de energia. Contratei uma moça para fazer uma faxina no apê. E, quando acabaram as coisas para fazer, recolhi os cacos do meu coração iludido e fui para a escola.

Por mais que eu não quisesse admitir, não era a primeira vez que eu desejava que esse namoro não fosse de mentirinha. Mas era. Uma grande mentira. Uma encenação completa de gestos ensaiados e movimentos pensados. Como quase tudo na vida de Bruna.

Claro que eu a desejo. Quem não a desejaria?

Mas será que debaixo de tudo isso tem algum sentimento verdadeiro? Como eu posso confiar em alguém que beija pensando na posição da câmera? Que namora um cara de olho nos contratos publicitários? Que se apaixona até pelo vento, se ele assobiar para ela...

Não posso arriscar tanto. Nem sei ser assim. Eu sempre planejei ser a pessoa especial de alguém. Não quero ser somente um nome numa lista de marmanjos formidáveis: o campeão da natação, o camisa dez da seleção e o príncipe rico.

Eu preciso de alguém que esteja lá para mim e por mim. Que seja minha por inteiro. Sem câmeras, sem foco nos negócios, sem escalada social. Eu, ela e um começo de vida. Não imagino que Bruna conseguiria abrir mão de um pouco de si mesma em prol de um futuro "nós dois".

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora