Carlos Eduardo - Detesto fotografias

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Detesto fotografias. Detesto muito mesmo. Maquiagem. Figurino. E as poses. Ah! As poses. É demais para um cara tímido como eu. Não consigo. Simplesmente não consigo.

Já Bruna estava radiante. Eu tinha visto mostras suficiente do seu talento camaleônico, mas a cada vestido, eu me pegava surpreso, ela era outra. A princesa, a descolada, a musa do verão...

─ Kadu, abraça essa garota, cara! – Pedia o fotógrafo. Eu a trazia para mais perto de mim. – Com vontade, meu filho! Olha que se você não quiser, eu quero, viu? – Eu a apertava ainda mais.

Era duro manter os olhos fixos nela. Não havia entre nós nem dez centímetros de distância. Respirávamos o mesmo ar. E as cenas da noite anterior não deixavam que eu me concentrasse direito.

Eu estava sério. Não achava a menor graça em nada daquilo. Pelo jeito, estava funcionando para o ensaio. Afinal, eu era o príncipe encantado. E os príncipes são sempre iguais. Com o ângulo correto, o meu olhar sisudo virava paixão e estava tudo resolvido.

─ Você ficou com raiva de mim? – Entre um clique e outro, ela disse no meu ouvido.

─ Por que eu estaria?

─ Porque eu acabei exagerando ontem à noite. – Usava um tom de voz que eu não conhecia.

─ Muito bem, vocês dois, acabamos por hoje. – Anunciou o fotógrafo. Nós nos soltamos e fomos até a bandeja de lanche. Estávamos famintos. Cada um pegou um sanduíche e um suco.

─ Kadu, começou sério. Aula de verdade. Eu juro. – Ela insistia. – Mas foi ficando bom demais e eu não vi problema em continuar... – Fez uma pausa. Hesitação. Talvez ela estivesse falando a verdade, por isso eu não reconheci o tom. – Aí, quando eu percebi que estava ficando complicado demais, resolvi parar...

─ Você está dizendo que me usou, Bruna? – Eu nem sabia bem o porquê, mas eu estava chateado a beça e quanto mais ela falava, mais eu me irritava. – Assim? Na cara dura?

─ Hei! Você não me pareceu estar propriamente sofrendo horrores...

─ E isso justifica o seu comportamento?

─ Alto lá! O comportamento foi nosso! Eu não estava sozinha. – Ela alterou o tom de voz e a equipe da revista que recolhia o material nos seguia com os olhares.

─ Estou indo. – Não estava disposto a discutir em público. Quanto mais com uma garota que nem era minha namorada. Coloquei o restante do sanduíche na bandeja, bati as mãos para tirar os farelos e me levantei.

─ Carlos Eduardo... – Ela segurou meu braço.

─ Você faz esse tipo de joguinho com todos os caras? – Eu usava meu tom mais reprovativo. – E você ainda quer que te respeitem?

─ Não. Não quero que me respeitem. – O olhar dela estava congelado. – Quero que todos me chamem de vadia. Exatamente como você está fazendo agora.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora