Capítulo Quinze

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Um misto de confusão, curiosidades e medo me invadiram naquele momento. A verdade -ou uma parte dela-  estava ali na minha frente, e eu não sabia o que fazer.

Talvez acreditar no Phill não fosse a melhor idéia.

- Eles me contaram tudo, perdi a memória, fiquei em coma por três anos...- Fui interrompida por ele.

- Sua memória não foi a sua única perda naquele dia.

- Como assim?

Ele pegou o prontuário de mim e abriu.

- Você deu entrada no hospital às dezenove e cinquenta e dois, seus sinais vitais estavam estaveis até você começar a fribilar, descubrimos naquela noite que você estava grávida de dez semanas, mas perdeu o filho na hora do acidente.- Ele me entregou o prontuário para que eu visse. - Seu pai quando soube pegou o carro e dirigiu a caminho do hospital. Mas acabou colidindo com um ônibus, os paramédicos tentaram de tudo, mas ele não resistiu e acabou morrendo no local. Por isso que provavelmente você não tem lembranças do dia em que ele foi velado, porque quando isso aconteceu você estava em coma.

- Vai embora daqui!- Falei seca.

- Regina...

- Vai embora Phillipis!- Gritei antes de fechar a porta. E então a lembrança veio.

***

Meu pai me olhou com serenidade nos olhos, sentado à minha frente ele pegou minhas mãos como sempre fazia antes de me aconselhar.

- Não vou negar que me orgulho de você, vi você crescendo e se tornar a grande mulher- Ele suspirou desviando o olhar por um breve momento.- Filha, do que adianta ser boa no seu trabalho se você está em falta no seu casamento?

Eu sabia que meu pai tinha razão, ele sempre tinha.
Meu casamento estava em ruínas. Na verdade, eu nem sabia se eu tinha um marido.
Meu pai não sabia do meu caso com o Phillipis, e eu não queria contar para ele, sei que ele se decepcionaria.

- Aquele rapaz te ama.- Falou se referindo ao Caio.- Não faça do divórcio sua única opção.

Conversei com meu pai e recebi maravilhosos conselhos. Voltei para casa disposta a lutar pelo meu casamento, pelo menos eu tentaria.

[...]

eram seis horas da tarde e eu estava sentada a mesa com o Caio.

- Estou tentando Caio, eu juro que estou tentando.- Falei sincera.- Não quero que nosso casamento acabe, mas você tem que entender que eu sou médica.

- Eu sei.- Ele respondeu seco.Eu suspirei pedindo a Deus paciência.- Vai dormir em casa hoje?

- Vou estar de plantão hoje.- Ele se levantou da mesa e saiu, me deixando sozinha.

- Droga Caio! Por que você não é mais compreensivo?- Falei entrando no quarto.

- Compreensivo Regina? Tenho sido compreensivo a muito tempo. Mas eu não aguento mais, seu trabalho está a cima de tudo,até do nosso casamento. Você não está se esforçando, nunca esteve!

- Você está errado!- Falei com a voz embargada.

- Qual foi a última vez que você dormiu  em casa?- Indagou me olhando nos olhos- Lembra do nosso aniversário de casamento? Lembra como comemoramos?- Permaneci calada.- Deixa eu te lembrar, nosso primeiro aniversário de casamento foi assim, eu aqui em casa como um verdadeiro idiota esperando por você, que passou a noite em uma sala de cirurgia. Por que nos casamos Regina? Não vivemos como um casal a muito tempo.

De repente me deu uma súbita vontade de chorar, mas eu não faria isso ali na frente dele.

- Tudo bem!- Respirei fundo.- Tchau Caio.

- Regina.- Ele me chamou, mas eu não dei ouvidos, apenas segui para o carro e me pertinho chorar dentro. Dei a partida e dirigi para o hospital.

As palavras do Caio ecoavam na minha cabeça. Palavras misturadas com as do meu pai e do Phillipis. Minha vista estava embargada por conta das lágrimas, quando um caminhão bateu no meu lado do carro.

Como em câmera lenta, eu vi tudo rodar me fazendo perceber que o carro havia capotado duas ou mais vezes. Senti o gosto cortante do sangue em minha boca, e parecia que meu peito ia explodir.
Ouvi sons de sirenes um pouco antes de perder a consciência.

- Está com emorragia interna.- Ouvi a voz de alguém, com dificuldades ei abri meus olhos e percebi que eu estava sendo levada para o centro cirúrgico do hospital. Billy era o staff que estava me levando.- Regina você sofreu um acidente, mas vai ficar tudo bem!- Fechei meus olhos novamente me deixando mergulhar no vazio.

***

Ouvi o som da porta da sala se abrir e Caio passar por ela.

- Regina? Tá tudo bem?- Ele indagou preocupado. Percebi que eu havia chorado.

- Por que não me contou que meu pai morreu no dia do meu acidente?

- Eu.- Ele colocou a mão na cintura e olhou para baixo.- Phill esteve aqui?- Assenti.- Só estávamos querendo proteger você, não queríamos que se sentisse..

- Culpada?- Ele balançou a cabeça em afirmação.- Caio eu fui culpada, ele só entrou naquele carro por minha causa.

Ele sentou ao meu lado e hesitante  segurou a minha mão.

- Você não teve culpa.- Ele falou firme.

- Nosso filho.- Falei em um sussurro.

Ele não disse nada, apenas me abraçou e eu não me afastei.

CONTINUA


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