Anelise

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Cursando o último ano da escola, aos dezoito anos tudo o que eu planejava era acabar o ensino médio e sair da cidade, queria ganhar o mundo, fazer tudo o que eu pudesse fazer bem longe da minha família. Mamãe achava que meu dever como irmã mais velha era permanecer em Blackdale para cuidar das minhas irmãs.

Ela era paranoica com todo o lance de proteger nossa família, não fazia o menor sentido eu ter que proteger a família quando ela poderia muito bem fazer isso, afinal ela era a chefe.

Meu pai havia morrido há alguns anos em um acidente de carro, desde então mamãe trabalhava o máximo que podia para sustentar a família, também se esforçava para manter o segredo de sermos um clã de lobos brancos.

Herdamos de nosso pai a habilidade de nos transformar em lobos, ele era o alfa da nossa espécie, ao conhecer nossa mãe, pediu que não contasse a ninguém esse segredo, naquela época havia pessoas que caçavam os lobos e os matavam por pura diversão.

Mamãe soube guardar bem o segredo de todos na cidade, o problema é que ela nunca disse nada a minhas irmãs, Sofia estava na idade de revelar os poderes de transmutação, não queria estar na pele da minha mãe quando ela descobrisse a verdade.

Em algum momento isso acontecerá, minha mãe com certeza não saberá lidar com essa descoberta delas. Não tínhamos ninguém para buscar informações, éramos as últimas de nossa linhagem, eu não queria ficar presa a isso. Minha vontade de sair da cidade era grande, não tinha nada de interessante para viver ali a não ser uma vida pacata e solitária como vivi ao longo desses dezoito anos.

Tentei contar sobre os poderes às minhas irmãs, mas mudei de ideia ao perceber que isso era uma coisa que deveria ser feita pela nossa mãe, ela sabia do início da história e assim como papai fez comigo, ela deveria fazer com as meninas.

Não sabia do que ela tinha medo, mas esse segredo não duraria para sempre, e para o bem estar da nossa família, era melhor que fosse contado por uma de nós duas.

Pensava em todas essas coisas, deitada em minha cama, encarando o teto repleto de estrelas fluorescentes pregadas quando eu tinha cinco anos de idade, Lauren entrou em meu quarto sem bater na porta, me levantei e a encarei com uma expressão séria.

"Mamãe está chamando para jantar, você vem?"

"Já te ensinei a bater na porta antes de entrar! Eu poderia estar trocando de roupa sabia? Isso é falta de educação?"

Ela abaixou a cabeça e encarou os dedos das mãos. "Me desculpe, mamãe pediu para que eu entrasse e te chamasse para jantar conosco. Ela quer saber se você ainda está chateada com ela..."

Mesmo zangada, percebo que fui grosseira com minha irmã caçula, ela era uma garotinha tão doce e compreensiva que era quase impossível sentir raiva dela. Estava sempre preocupada em evitar climas pesados que rondavam nossa casa depois que eu e mamãe discutímos.

Passei a mão em seus cabelos e a puxei para um abraço.

"Não, não estou com raiva, apenas não concordo com algumas atitudes dela, mas isso não é motivo para deixar de jantar com minha família certo?"

Ela levantou a cabeça e me olhou sorridente, apertei de leve suas bochechas e com os braços ao redor de seus ombros a acompanhei até a cozinha.

Me sentei a mesa e comi a refeição fingindo que as coisas estavam na mais perfeita ordem, me esforçava para não apelar com qualquer palavra vinda de minha mãe, não queria brigar novamente na frente das meninas, elas estavam cansadas de todas as discussões.

A última briga que tivemos deixei claro que não iria mais dizer o que ela deveria fazer, estava na hora da mamãe ter atitude e assumir as consequências de seus atos, torcia para que ela não demorasse muito para contar às meninas sobre o clã, elas tinham o direito de saber sua origem e do que eram capazes, mesmo que nunca usem seus poderes, como eu não pretendia usar, elas deveriam saber a verdade. 

O ultimo clã brancoOnde histórias criam vida. Descubra agora