Capítulo 115

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"Você quer ser esse monstro? Ou quer ser pra Alícia um pai tão bom ou melhor do que Ricardo foi pra você?"




Alfonso

Anahí agiu exatamente da forma como eu estava esperando nos dias seguintes e andava mais irritadiça também. Eu tentei me aproximar dela, lhe dar algum tipo de apoio, mas tudo que eu conseguia dela eram olhares atravessados.

Na empresa a gente não se falava e em casa, ela não ficava sozinha comigo de jeito nenhum. Chegou até a se trancar uma noite no meu quarto de pinturas, para que eu não pudesse entrar lá também. Ela só falava comigo pra perguntar se Jhon tinha notícias de Sophie e quando eu dizia: "ainda não" ela virava as costas e ia embora antes que eu tivesse a chance de tocar em qualquer assunto com ela.

Na sexta-feira ao sair da empresa estranhei quando Patrick me pediu para encontrá-lo num parquinho. Estranhei mais ainda quando ao chegar lá o encontrei sentado num banco, de frente pra um espaço onde havia várias crianças brincando.

- Algum deles é seu filho?

- Oi Alfonso que bom que chegou, sente-se. - Patrick sorriu. - E respondendo sua pergunta, não nenhum deles é meu filho, alguns ai tem idade pra serem meus netos.

- Hoje a consulta vai ser aqui então?

- Acertou! - acenou com a cabeça.

- Não estou entendendo. Assim como não entendi porque você pediu pra mim e pra Lauren montarmos um quebra-cabeça na nossa última sessão.

- Eu fiz isso pra ver como vocês interagiam. - sorriu.

- Hum.... E descobriu alguma coisa? - perguntei desconfiado.

- Nada que eu já não soubesse. Preciso apenas continuar trabalhando com você para que tenha o mesmo ponto de vista que eu. A de que você não é um pedófilo e muito menos que há uma parte monstruosa de você escondida ai dentro.

- E como pretende fazer isso?

- Olhe pra essas crianças Alfonso. Quero que olhe pra elas atentamente. Quero que as observe, tanto as meninas quanto os meninos.

Fiz o que ele pediu, mesmo sem entender qual era o fundamento daquilo. Observei um grupo de garotas brincando de bonecas sentadas no chão de areia. As vi pegar as pequenas xícaras e fingir que tinha algum tipo de chá ali para ingerir. Dei risada me lembrando de uma vez que Lauren me fez tomar chá com ela e suas bonecas. Eu ainda não tinha conhecido Anahí e me lembro de que fiquei desconfortável em ficar sozinho com minha afilhada na sala. Vi alguns garotos brincando com espadas e outros descendo pelo escorregador. Todas as crianças corriam, brincavam e gargalhavam.

Automaticamente acabei me lembrando do meu pai, da época em que ele me levava pra brincar em parquinhos como este, quando eu andava pendurado em suas costas e ele me dizia pra segurar firme. Abaixei a cabeça, sentindo um nó se formar na minha garganta e encarei meu terapeuta.

- Algum problema? - Patrick perguntou.

- Não é que.... Olhar pra elas me fez lembrar da minha infância, da época em que eu brincava com meu pai.

- É normal. A maioria dos adultos quando vê crianças, sentem uma nostalgia, um desejo de voltar no tempo, pra essa época tão boa e pura. Você ter sentido a mesma coisa é um bom sinal.

- Como assim?

- Significa que sua infância não foi totalmente marcada pelos abusos que você sofreu. Você teve momentos bons com seu pai e acho que essas lembranças de uma certa forma salvaram você de repetir os erros que seus agressores cometeram. Você podia ter olhado pra essas crianças, lembrar de quando era uma e sofrer com flashes sobre o abuso. Ou... Poderia olhar pra elas e sentir vontade de fazer com elas o que fizeram com você. - Patrick me olhou pacificamente.

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