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Então, ele lançou o anzol banhado a ouro com a isca no pequeno precipício. A linha afundou na água verde e calma daquela enseada. Fisgar um ser humano era a última coisa que esperava. Segurar aquela linha fina com as mãos era inviável, queimou os dedos e largou. Então, deixou a mulher puxar e puxar. Ela nadava nua sobre a água como um ente sobrenatural.

Parecia mais uma lancha de controle remoto.

Então, ele vestiu luvas e tomado por um instinto de pescador começou a puxá-la. Parece que só então ela se deu conta que estava fisgada e para surpresa do homem, ela veio em sua direção, como que voando.

Tinha um olhar estranho que ele entendeu como sendo maligno.

O pescador gelou ao encará-la. Soube que se não a matasse ela o comeria, ou algo do tipo. Achou que ela poderia ser uma sereia. Sacou um facão de limpar peixes e atacou a pele nua e amarelada da mulher. Ela era uma mistura de índia com mulher européia, os cabelos raspados, no entanto.

E a faca não fez nada.

Atravessou a carne e saiu, como se fosse aquelas facas de brinquedo com uma mola apenas para fingir que perfurava alguém. Ele atacou de novo e de novo. Entre os seios, no ventre e nada.

Ela apenas olhava para ele, com certa curiosidade.

Não saia sangue algum e logo depois que a faca saia, a pele se fechava, como se nunca tivesse sido atingida.

A mulher tinha o anzol dourado preso no ombro. Ela desceu ao seu lado, mas contrariando seu temor, não o devorou. Ela apenas saiu correndo em direção ao bosque.

Veio um misto de alívio e curiosidade.

O que era aquilo afinal? Uma alucinação? Um sonho?

A mulher, perfeita em suas curvas e formas, com o corpo de atleta, saltou alguns arbustos e parou, olhando para os lados. Agora, ao invés de medo, ele sentiu desejo.

Aquilo era uma coisa do demônio, só podia ser.

Ela sumiu entre as árvores, e linha de pesca se esticou mais uma vez. O pescador agora estava fisgado e seguiu-a para dentro do bosque.

Ele resmungou enquanto a seguia.

— Caramba! Que diacho é isso! Ninguém vai acreditar em mim. Vão dizê que é história de pescador.

Já na área sombreada pelas copas fartas dos carvalhos, ele viu a mulher novamente. Ela estava agachada, como alguém se preparando para defecar, ou urinar. Ele veio devagarzinho, tentando não fazer nenhum ruído. Sentia-se excitado pela nudez daquela mulher estranha. Ele foi enrolando a linha no carretel na medida em que se aproximava.

A mulher estava agora quieta como uma estátua.

Ele pensou que veria fezes ou urina descendo à qualquer momento, mas nada daquilo aconteceu. Ele chegou bem perto e viu entre os cabelos pubianos, os lábios da vagina da mulher se mexendo. Eles pareciam pulsar de alguma forma. Até que sobressaltou-se quando viu uma espécie de canudo metálico saindo dali. O canudo desceu e tocou o chão de terra batida. Qualquer desejo que ele sentia pela figura da mulher evaporou de uma só vez quando viu o pequeno ser descer pelo canudo, como um soldado do corpo de bombeiros, usando aqueles famosos tubos de metal que desciam de um andar para o outro.

— É uma porra dum veículo... — ele murmurou espantado. — e a porta dessa coisa é a xoxota dela.

Aquilo era surreal demais!

Agora, ao invés de sacar uma arma, seu impulso foi sacar o celular. Ele tinha que fotografar aquilo, ou melhor: Filmar. Ia ficar famoso.

O flash do dispositivo chamou a atenção do pequeno ser, que nem utilizando a função de zoom, o pescador conseguir ver direito. Só de olhar para o celular, fez o aparelho travar e depois se apagar.

O Pescador HeptadimensionalOnde histórias criam vida. Descubra agora