O turbilhão do teletransporte desencadeou na entrada de uma enorme mansão vitoriana com gárgulas de gesso decorando a entrada.
— Isso está cada vez mais parecido com Harry Potter — comentou Anahí, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa, sorrindo.
— Onde estamos? — perguntou Jaci, subindo as escadas da entrada enquanto passava a mão pelo corrimão de pedra; as pontas dos dedos voltaram escuras por conta da sujeira acumulada. Ela chegou no início da pequena escadaria e olhou ao redor; a mansão era rodeada por um parque, além do som de carros e buzinas distantes. — Parece...
— É Belém — completou Tacira, guiando o resto do grupo até a entrada. Era fim de tarde; o sol que se punha explodia o céu em uma paleta de tons laranjas e amarelos, refletindo sobre o rosto de todos. — Esse lugar é um Refúgio, um dos vários que estão espalhados pela cidade. Foram criados especialmente para abrigar viajantes de Ephdam, bruxos ou qualquer um dos outros seres mágicos.
— E eles não conseguem nos enxergar? — Kaolin estava se referindo à duas pessoas que caminhavam tão afastados que Jaci os enxergava apenas como dois pontinhos escuros, sem conseguir distinguir seus gêneros.
Raoni balançou a cabeça e semicerrou os olhos para conseguir enxergar.
— Há barreiras na área ao redor do Refúgio que o tornam invisível para o olho humano.
— Bem, quem gostaria de fazer as honras? — Tacira arregaçou as mangas do casaco; o clima em Belém era quente, além de muito abafado, tão familiar à Jaci que ela mal conseguiu conter um sorriso.
— Eu, eu, eu! — Anahí exclamou, e Potira afastou-se para deixá-la passar; ela dobrou as mangas do suéter e virou a cabeça para lançar um olhar pensativo à Tacira. — É necessário que eu fale em latim?
— Não é obrigatório. Os deuses escutarão você de qualquer jeito.
Os dedos de Anahí espalmaram-se contra a porta de entrada, a pele sardenta muito pálida em contraste com a escuridão do ferro. O peito subiu e desceu lentamente em um suspiro prolongado enquanto a garota fechava os olhos e sua voz soava muito firme, quase irreconhecível:
— Permitam-me entrar em sua Casa sagrada. — para a surpresa de todos, a porta abriu imediatamente, revelando um grande hall de entrada coberto por um papel de parede claro e bordado. O sorriso de Anahí iluminou a noite. — Acompanhem-me, por favor.
O hall de entrada desmanchava-se em um enorme salão vazio, os cantos das paredes cobertos por pó e teias de aranhas traçadas contra o piso. Havia duas longas escadas em espiral que levavam até os próximos andares, entretanto Tacira anunciou que todos descansariam em sacos de dormir no chão do salão, pois não havia motivos para se espalharem tanto se a estadia seria por apenas uma noite. Jaci sentiu uma pontadinha de decepção; sempre sonhou em conhecer pessoalmente quartos vitorianos desde que leu Orgulho e Preconceito aos treze anos de idade, para se sentir um pouco como Elizabeth Bennet, estirada sobre a cama com um livro entre as mãos. Entretanto, não protestou com a decisão de Tacira.
Enquanto todos abriam as mochilas e organizavam os sacos de dormir nos pontos mais confortáveis do chão, Jaci prendeu o casaco na cintura e afastou um pouco a cortina das janelas, abanando a mão para dissipar a poeira; o vidro revelou, ao longe, uma avenida circundada por duas calçadas com todos os tipos de lojas e restaurantes, além de farmácias e prédios residenciais. A movimentação incessante de Belém era familiar a ela, mas não foi exatamente aquilo que chamou sua atenção — na verdade, seus olhos fixaram-se em um grupo de garotinhas, todas vestindo chapéus de bruxas e carregando vassouras e caldeirões nas mãozinhas pequenas.
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Elemento Água - Série Witches (I)
Viễn tưởng''Você fala 'bruxa' como se fosse algo ruim. Mas não entende? Somos feitas de gelo e aço, e não nascemos para nos curvarmos a você; nascemos para andar sob o fogo.'' Indiferentes a um mundo mágico criado pelos Doze Deuses que se mantém repleto de...