17 de fevereiro.

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Thalita:
Acordo e já penso em ficar na cama de novo, ser obrigada a ir na escola depois de bom, meu irmão ter se suicidado foi como ir vestida com uma melancia na cabeça.
Depois de 10 dias ainda não consigo acreditar disso, sinto como se ele ainda estivesse aqui, como se eu fosse descer para o café e ver ele desajeitado tentando comer e arrumar ao mesmo tempo, tento deixar isso de lado porém a saudade é maior, penso nas brigas idiotas de irmãos por quem comeu o bolo que o outro guardou ou em como era bom ter sua companhia, ter seu companheirismo nos dias mais sombrios.
Sempre vou de carro para a escola, mesmo atrapalhando um pouco minha economia vale a pena, o ônibus é desgastante e ouvir 20 alunos gritando as 7:15 da manhã é a coisa mais desagradável para se ter na manhã, espero que Gabie vá hoje, preciso urgente ter um contato com algum humano, em falar dela, faz uma semana que não nos falamos, isso é nosso recorde, ela faltou ontem e com o ocorrido recente não me preocupei em ligar para ela, porém ela veio em casa a uns 5 dias, não sai do meu quarto por motivos óbvios.
Chegando na escola sou tomada por olhares, pares e pares de olhos me seguindo, abaixo a cabeça e sigo para minha sala o mais rápido possível. Antes disso passo no meu armário e quando eu abro ele vejo uma carta, uma carta amarela, a cor favorita de Bruno. Pego ela e vou para aula de química.
Chegando lá vejo a Gabie, olho no fundo dos olhos dela e sinto o choro escorrendo, sinto minha garganta fechando, ela corre e me abraça, aquele abraço, aquele cheiro, aquela casa.
- shhhhhh..tá tudo bem, calma calma.
Ela repetia isso enquanto passava a mão nos meus cabelos, aquele era o melhor lugar do mundo, seu abraço.
- Thali olha pra mim. -me forcei a sair dali e olhar em seus olhos- Quero que saiba que estou aqui, desculpe por não te dar apoio nessa semana pensei que queria ficar sozinha, mas a partir de agora vou estar aqui por você tudo bem? Não quero que fique assim.
Seus olhos eram tão lindos, me passava total segurança, aquilo me dava a impressão que tudo voltaria ao normal, que eu não seria rodada por olhares, que eu não teria mais que ir a terapeuta, aquilo me dava confiança.
Não percebemos mas a maioria dos alunos já estava na sala, sequei as lágrimas e fui para o meu lugar.
Senti a carta no meio das minhas coisas em minha mochila, parecia uma pedra ao pensar que isso pode ser do Bruno, meus dedos deslizam para ela até que
- Bom dia alunos, prova agora, se posicionem.
Tirei a mão dela e preparei, possivelmente irei ir péssima nela já que nem sequer sabia que teria prova.
Olhei para o Prof Drax e ele retribuiu o olhar para mim eu faço um pequeno aceno com a cabeça e ele apenas volta a pegar as provas.

@yesthabie

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