AMERICAN BABYLON

EXISTE POSITIVIDADE EM UMA BANHEIRA

Durante a aula de ciências políticas, a última coisa que James conseguia pensar a respeito eram as ciências políticas.

Na verdade, era difícil pensar em qualquer outra coisa além da mensagem de Don Sutter. Aquelas palavras haviam inspirado um temor tão forte em James que ele ainda sentia seu coração palpitando, e temia que, se olhasse por cima do ombro, veria o líder da Phi-Kappa-Tau atrás de si.

Mas Addie provavelmente estava numa situação ainda pior e James, quisesse ou não, teria que encontrar Don. A ameaça no vídeo fora bastante clara. Ele sabia que aquilo não terminaria bem; tinha a impressão de que Don era um sádico e tinha certeza que a "conversa" que ele e Flint queriam ter não seria com palavras. Mesmo assim, era seu dever ir até lá e garantir a liberdade de Addie, que não tinha nada a ver com a vingança que ele realizara em nome de Alicia... e mesmo isso era uma coisa incerta.

Aquilo tudo era sua culpa, e apenas sua, ele entendia isso, por isso decidira não envolver mais ninguém da Kappa-Mu-Sigma naquele assunto. Algumas pessoas na sede haviam notado a ausência de Addie, e ele inventara uma desculpa qualquer para justificar. Quanto a Diana, que também vira o vídeo de Don, só lhe restara implorar para que ela se mantivesse calada para que ele resolvesse o problema com os menores danos possíveis. Não era o que Sutter podia fazer com ele que mais o afligia, mas principalmente o que Sutter podia fazer com a Kappa-Mu-Sigma. Diferente de como dizia o ditado "o capitão afunda com o barco", James pretendia remendar o barco e pular fora, para não prejudicar mais ninguém.

Ele pensara em ligar para a irmã. Ela não havia ganhado a liderança da Kappa-Mu-Sigma à toa; Lauren era uma mulher corajosa e conhecida por ter pulso forte — qualidades que lhe renderam a posição de líder —, mas o que mais se destacava nela era seu senso de dever, de tomar a frente em defesa daqueles com quem se importava. Se James lhe perguntasse o que fazer, talvez ela simplesmente lhe dissesse para ir até lá e sofrer as consequências, algo que ele já estava disposto a fazer, então por que incomodá-la dizendo que uma imprudência sua possivelmente colocara sua tão amada sociedade estudantil na linha de fogo da Phi-Kappa-Tau? Se Don Sutter não o deixasse aleijado, a irmã certamente se encarregaria de quebrar sua coluna em três partes ela mesma...

— James! — James ouviu a voz áspera do professor Aurelius chamá-lo, arrancando-o de seu estado reflexivo. Ele olhou para a frente de sala e encontrou o professor — um homem careca, atarracado, de ombros caídos e nariz pontudo — de pé ao lado da porta. Do lado de fora, uma garota o encarava.

Alicia.

Ele quase não conseguiu acreditar que era ela, e, por um momento, pensou estar delirando. Uma prova de que aquilo não era nenhum conto de fadas, no entanto, foi a expressão azeda do professor quando disse:

— Nossa colega aqui se acha importante o bastante para interromper a aula, e provavelmente ela tem algo muito importante para te dizer, então quer fazer o favor de descer aqui logo para que eu dê continuidade à minha maldita aula? Ou o senhor também se acha importante o suficiente para se dar ao luxo de ficar aí babando e parecendo um idiota enquanto eu espero sua boa vontade?

— Sim senhor. Não senhor. — James ficou de pé de uma vez e rapidamente passou pelas fileiras, sob os olhares ociosos dos outros alunos na sala, e foi até a porta.

— Não volte, por favor — disse o professor suavemente quando ele passou, fechando a porta atrás dele.

Por pelo menos um minuto inteiro, ou talvez mais, nem Alicia, nem James disseram alguma coisa. Apenas ficaram ali, parados um de frente para o outro no corredor quase vazio do prédio. Alicia usava um vestido de seda branca que a fazia parecer um anjo, mas James achou que os chifres da fantasia de diabinha faziam falta nela, para combinar com sua personalidade manipuladora e fingida.